Doenças da alma

31 – E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom.

Somos uma geração enferma, doentes da alma, cheia de mazelas, cheia de melindres, vivendo uma sensibilidade extrema. As pessoas estão cada vez mais desobedientes, rebeldes, insubordinadas e cheias de razão. A autoridade pastoral está cada vez mais limitada.

São crentes fervorosos, fiéis dizimistas, ofertantes convictos, cheios do Espírito Santo e de Graça, mas que camuflam uma alma inflamada, uma bomba que a qualquer momento pode explodir.

São sustentados e mantidos por palavras doces, promessas de bênçãos, de prosperidade e por cultos cada vez mais festivos.

São críticos ferrenhos e não suportam uma palavra dura, vinda do púlpito, mesmo que esta palavra não se encaixe nas necessidades de ajustes da fé, do comportamento e do testemunho deles.

E o que me deixa mais triste, é que toda esta explanação acima esta se referindo a igreja de Jesus e não ao mundo.

Pior, é que ainda temos uma herança maldita do pecado, nos deixada pelos nossos primitivos pais – Adão e Eva, que precisa ser erradicada urgentemente do nosso meio. Não nos tornamos ainda novas criaturas e as coisas velhas ainda não se passaram da nossa vida.

Se voltarmos ao versículo de abertura deste sermão, percebemos que tudo o que Deus fez era bom, aos olhos rigorosos do próprio Deus. Então por que somos tão doentes? Será que Deus nos fez doentes?

Vamos para Gênesis 3:9 a 13:

9 – E chamou o SENHOR Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás?

10 – E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me.

11 – E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses?

12 – Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi.

13 – E disse o SENHOR Deus à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher: A serpente me enganou, e eu comi.

Nestes cinco versículos podemos diagnosticar quatro doenças de alma e identificar a causa destas doenças.

MEDO – Verso 10 – Ouvi a tua voz soar no jardim e tive medo.

Medo de quê e de quem? Deus era, então, o único amigo do homem; o único contato. A Bíblia diz que ao cair da tarde Deus vinha conversar com o homem.

O ditado popular diz que quem não deve não teme e neste diálogo, mesmo jogando a culpa em Eva, o homem admite a sua culpa, através do medo.

Quem já sentiu medo sabe exatamente o que Adão estava sentindo naquele momento. Lembro-me de uma época da minha vida que morei em uma fazenda em São José das Torres, no Espírito Santo. Da fazenda até a Vila tinha pelo menos uns três a quatro quilômetros. Uma noite, quando me preparava para retornar para a fazenda, lá pelas onze e meia, alguém advertiu-me quanto ao perigo de uma curva, na estrada, que em noite de lua cheia uma serpente gigante atacava quem passava pelo local.

Sem acreditar na lenda, pus-me a caminho, rumo a fazenda, numa noite muito clara, mas de um frio insuportável. Quando me aproximava da dita curva, comecei a pensar incessantemente na serpente. Bem que tentava disfarçar meu pensamento buscando pensar em outra coisa. Mas voltava sempre a maldita da serpente.

Agora, a curva estava à vista e um pavor enorme tomou conta de mim. Comecei a ficar arrepiado, ter calafrios e suava como se estivesse a quarenta graus. Quanto olhei em direção a campina, uma névoa muito branquinha cobria todo o pasto e apareceu diante de mim um cavalo gigante, de uns dez metros de altura, com um cavaleiro, igualmente gigante, empunhando uma lança.

Tentei gritar, mas a voz não saia. O pânico tomou conta de mim com tanta intensidade que o peito doía tanto que a respiração passou a ser difícil. Comecei a andar para trás (de costas) devagarinho, passei a acelerar um pouco mais e quando percebi estava correndo de costas, com os olhos esbugalhados, fitos no cavalo e seu cavaleiro.

Não me lembro como, só sei que acordei com os primeiros raios solares queimando o meu rosto e percebi que havia dormido na calçada da delegacia, que era também era casa do Seu Totonho, pai da Ângela, uma amigona.

Claro que não contei a ninguém e já que era dia, resolvi retornar para a fazenda. Ao chegar na dita cuja curva, olhei de novo para a campina e tive um ataque de raiva e de riso. O que parecia um cavalo gigante com seu cavaleiro, era, na realidade, somente uma árvore.

Conclusão: O medo nos tira a verdadeira dimensão das coisas e nos faz ver o que na realidade não existe.

Quantas pessoas encarceradas pelo medo! Não crescem, não investem, não empreendem, não vivem.

VERGONHA – Verso 10 – Temi porque estava nu.

Não sei exatamente quanto tempo se passou desde a criação até o pecado. Só sei que todas as tardes Deus vinha ao jardim para conversar com o homem e somente agora o homem se escondeu, alegando a nudez.

Gosto de dizer que nós, da Igreja Batista Bíblica de Flores, somos crentes sem vergonha. A vergonha é um dos piores resquícios do pecado é um sintoma claríssimo de que a maldade ainda em nós habita é um dos caminhos para a santidade, segundo vários versículos, de vários autores, precisamos nos despojar de toda maldade, de toda malícia.

FUGA DA REALIDADE – Verso 10 – Escondi-me.

Desde pequenos, ainda muito crianças, aprendemos a nos esconder depois dos nossos maus feitos. Claro que Adão apresenta algumas infantilidades no tocante ao seu relacionamento com Deus, quando pensa que pode se esconder da presença do criador.

O problema é que até nos dias de hoje temos a nítida impressão de que podemos nos esconder de Deus, seja quando fazemos alguma coisa errada, ou quando não queremos fazer alguma coisa certa.

Conheço pessoas que vivem de aparência, que é um tipo de fuga da realidade. Elas têm aparência de santas, quando não são, aparência de ricas e fazem verdadeiros malabarismos para manter esta fachada, aparência de felizes quando o próprio sorriso forçado as denunciam.

Meu Deus, que prisão terrível! Fico imaginando o que elas veem quando se olham no espelho, o que conseguem conversar com o travesseiro e o que conseguem achar delas mesmas quando estão solitárias.

DISSIMULAÇÃO – Não assumir a própria culpa, a própria responsabilidade – Verso 12 – Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi.

No versículo 11 Deus faz duas perguntas claras, diretas e objetivas a Adão: – Primeira pergunta: Quem te mostrou que estavas nu? O que parecia uma pergunta idiota, já que só estava Adão e Eva no jardim, trazia uma expectativa enorme de Deus sobre a sinceridade do homem.

Deus, na sua onisciência e onipresença sabia a resposta certa. Ele, como Pai bondoso, queria ouvir tão somente a verdade dos lábios do homem.

Segunda pergunta: Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses? Adão nem ao menos se preocupou em responder a primeira pergunta. Agora, ele estava mais preocupado em tirar dos seus ombros a responsabilidade pelo pecado, do que com a própria nudez.

E ao invés de responder a pergunta a ele feita por Deus, prefere acusar a sua mulher, culpando-a pela sua negligência, bastando responder: comi.

E este pecado é muito mais comum no nosso meio do que se imagina. Se o nosso chamado fracassa, a culpa é do pastor que, além de ser centralizador, não tem a menor visão espiritual de ministério e ainda tem medo de perder o cargo para a concorrência.

Se o casamento fracassa, a culpa é sempre da mulher, que é muito sufocante e o marido mal respira.

Há algum tempo atrás encontrei uma pessoa que já foi da nossa igreja. Cumprimentamo-nos cordialmente e sem que eu lhe perguntasse nada, veio logo falando: Sabe por que saí da sua igreja? Porque além de vocês serem muito livres, não consegui sentir a presença de Deus na igreja e nos cultos.

Eu então lhe fiz uma pergunta: Você sabe a quanto tempo estou pastoreando a Igreja Batista Bíblica de Flores? Há doze anos e você, em doze anos, já trocou de igreja, pelo menos, oito vezes.

O que tem de errado na minha igreja você já disse: Somos livres demais e você não conseguiu sentir a presença de Deus. E nas outras sete igrejas, por que você não ficou?

O QUE PRECISAMOS FAZER?

– Primeiro, precisamos entender que todas estas doenças têm uma só origem: a desobediência. Toda e qualquer desobediência é uma afronta à santidade de Deus e mesmo que seja uma minúscula desobediência, as consequências são imprevisíveis e podem ser catastróficas.

– Segundo, precisamos ter a convicção de que o Senhor já levou sobre si todas as nossas dores e pelas suas pisaduras fomos sarados.

– Terceiro, temos que identificar o nosso problema ou os nossos problemas.

– Quarto, precisamos resolver o problema conosco mesmos, sendo honestos e justos.

– Quinto, precisamos resolver o problema com os outros, sendo humilde e confessando as nossas fraquezas. Tiago 5.16. Adão, em momento algum, arrependido, procurou a Eva e pediu-lhe perdão. Muito pelo contrário, aquela que em alguns versículos atrás era o “osso dos meus ossos e carne da minha carne” agora é a acusada de tê-la feito pecar.

– Sexto, precisamos resolver o nosso problema com Deus. Em 1 João 1.9, diz: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo, para nos perdoar e nos purificar”.

Adão nem ao menos cogitou em se retratar com Deus, não pensou como o filho pródigo, que flagrado em desgraça, fruto do próprio pecado, decidiu falar: “Pai, pequei contra ti e contra Deus”.