Para mim, a maior dor que Jesus sentiu durante toda a Sua paixão não foi a causada pelas chicotadas. Nem pelas bofetadas que lhe acertaram o rosto. Nem tampouco pela humilhação de caminhar nu, sendo alvo de cusparadas, pedradas e escárnios de toda sorte. Também não foi pelo clamor do povo em favor de Barrabás; este mesmo povo que o aplaudia e colocava flores, folhas de palmeira, mantos, enquanto entoava alegremente “Hosana! Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor!, quando da Sua entrada triunfalmente em Jerusalém. Também não foi o sumiço de alguns seguidores, até então fiéis, durante o julgamento que o sentenciou a morte e morte de cruz. Nem pela negativa de Pedro, que era mais que esperada. Para mim, a maior dor de Jesus foi a dor da traição. Ser traído por um amigo, por um que comia junto e que metia a mão no mesmo prato. A maior dor, ao meu ver, não veio dos atos de violência física e sim através de um beijo. Existe coisa mais meiga que um beijo? O beijo, para mim, é a transmissão do calor do coração através da boca. Não há nenhum relato de que Judas tenha beijado a Jesus antes. Talvez, este beijo, não o da traição, mas o da declaração de amor, de carinho, de afeto, de confiança, tenha sido esperado por Jesus por muito tempo. Agora, um daqueles que havia deixado tudo para andar com Ele, que acreditara piamente no projeto libertador de Jesus, que, na certa, abandonara todos os sonhos, metas, alvos, familiares, amizades, para seguir aquele em quem uma remota esperança existia, como o próprio Pedro certa vez declarara: “Para quem iremos nós, se somente Tu tens as palavras da vida eterna”, como num surto emocional, O beija, O trái. Mas Jesus continua amando este amigo até o fim. Mesmo na mesa, na noite em que foi traído, não tripudiou o traidor, não o expos, não o humilhou. E nisso tudo Jesus deixa uma lição fundamental para nós pastores: Cuidado com a ingratidão. Ela virá de quem você mais ama, mais confia e menos espera. Inimigos não traem; amigos sim.
