Vista aérea do Igarapé do 40, no Manaus 2000, dois dias após correnteza arrastar casas em Manaus - — Foto: Wiliam Duarte/Rede Amazônica

De acordo com os dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a capital do Amazonas ainda pode esperar por chuvas intensas nos próximos dias. De 1º de março até esta última segunda-feira (27), Manaus foi atingida por um acúmulo de 337 milímetros de chuva, mais do que a quantidade esperada para o mês, conforme os dados climatológicos da região. 

De acordo com Leonardo Vergasta, Meteorologista e doutorando pelo o Instituto Nacional de Pesquisa (Inpa), a média esperada para o mês de março era de 320,9 milímetros.

“O esperado de precipitação para o mês de março é de 320,9 mm. Até o presente momento, dia 27/03, o acumulado de precipitação já ultrapassou o que era esperado para março (337 mm). Ressalto que no mês de Fevereiro, as chuvas também ficaram acima da média. O esperado era de 296,8 mm e choveu 345,8 mm”, acrescentou ele.

Segundo Leonardo, é previsto que ocorra mais ocorrências de alagamentos, deslizamentos de terra, entre outros tipos de prejuízos. “Sim, os modelos de previsão de tempo do centro Europeu e Norte Americano, mostram que as chuvas devem permanecer durante a última semana de Março. O principal sistema meteorológico que está atuando no momento é a ZCIT (Zona de Convergência Intertropical). Esse sistema meteorológico de grande escala gera muita instabilidade atmosférica na região norte do país. Essa instabilidade atmosférica associada à alta umidade relativa do ar e o forte calor na região, acaba gerando nuvens de grande desenvolvimento vertical, as chamadas cumulonimbus. Essas nuvens trazem um volume expressivo de precipitação, raios, fortes ventos. Se confirmada a previsão, essas chuvas podem gerar ainda mais transtornos à população. Uma vez que, a cidade de Manaus já vem sendo castigada neste mês de março. Podemos ter novas ocorrências de alagamentos, deslizamentos de terra, entre outros transtornos”, relatou.

No último sábado (25), uma forte chuva deixou a capital amazonense debaixo d’água, a forte chuva invadiu e arrastou residências nas zonas Sul e Leste da capital amazonense. Duas crianças ficaram soterradas e foram encaminhadas a uma unidade de saúde na cidade. 

De acordo com a Defesa Civil municipal, até as 12h da manhã de sábado, choveu, em média, 78,6 milímetros na cidade. A zona mais afetada é a leste, com 122 milímetros de chuva. O prefeito David Almeida informou à imprensa, que os efeitos das últimas chuvas já são considerados piores que as chuvas do dia 12 de março quando ocorreu um deslizamento no bairro Jorge Teixeira que acabou vitimando 8 pessoas. 

Devido à alta na demanda da Central 199, a Defesa Civil ampliou o número de atendentes, buscando dar fluidez nas ligações e garantir que as famílias afetadas sejam atendidas, é verificado os casos visto como prioridades, então no caso de chuvas intensas, têm sido antecipado as saídas das equipes responsáveis em socorrer as ocorrências que são vistas como primeiras prioridades. 

Mamedes Luiz Melo, Meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia, avalia que para Abril as previsões da climatologia apontam um maior acumulado de chuvas torrenciais. Para o próximo mês, são esperados 331 milímetros de chuva. “A previsão para o mês de abril continua ainda com chuvas esperando aí né? Chuvas geralmente acima da média, a média também fica na casa dos 331 milímetros, então ainda muita chuva se espera então ao longo do mês de Abril, um mês chuvoso”, afirmou.

É importante ressaltar que as chuvas são essenciais para a manutenção da biodiversidade e dos recursos hídricos da região, mas também podem trazer consequências negativas, como alagamentos e deslizamentos de terra. Portanto, é fundamental que a população adote medidas de prevenção e esteja preparada para possíveis situações de emergência.

“A população para poder assim ficar atenta com essas chuvas, é acompanhando com toda certeza, os avisos emitido pelo INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) na sua página e também os avisos que a defesa civil emite localmente aí quando a previsão dessa chuvas, na nossa página só acompanha ali a previsão, especialmente os avisos meteorológicos. Inclusive entre essa segunda e terça-feira aí para capital, nós estamos com um aviso Brando, um aviso amarelo, mas que algo pode acontecer isso para deixar a população então aí atenta este aviso tem validade pelo menos até amanhã, às 10 horas da manhã, horário oficial de Brasília, e aí sim é efeito. Novamente aqui uma discussão sobre o tempo para ver se essas condições deverão continuar aí ao longo da semana e que em pontos aí do estado poderá ser mais forte ou não.” reforçou o meteorologista Mamedes.  

Ainda de acordo com Leonardo Vegasta, há uma necessidade de que o governo juntamente com os órgãos competentes do estado invistam em ações de respostas para que ocorra o atendimento à população afetada, promovendo a construção de conjuntos habitacionais, um planejamento de infraestruturas adequadas e principalmente buscar o auxílio dos profissionais da área da metodologia.

“Primeiramente destaco que as autoridades competentes, governo federal, estadual e municipal, já possuem um mapeamento das áreas de risco na nossa capital. Acredito que os governantes devem buscar parcerias com a iniciativa privada e construir conjuntos habitacionais para essas famílias que vivem em essas áreas de alta vulnerabilidade. Em segundo lugar, tem que haver investimentos em infraestrutura na cidade de Manaus, como drenagem superficial e profunda. Sem essa infraestrutura adequada a cidade continuará a sofrer com os impactos dos eventos extremos. Por fim, mas não menos importante, as autoridades devem buscar auxílio dos profissionais da área de meteorologia, pois estes eventos climáticos extremos estão se tornando mais frequentes e podem ser previstos com ciência e tecnologia. Atualmente temos 55 profissionais formados pela UEA (Universidade do Estado do Amazonas) que não estão sendo aproveitados pelo Governo do Amazonas e pela Prefeitura de Manaus. Esses profissionais de fato possuem ferramentas que preveem o clima da região com uma antecedência de 3 meses, na hidrologia temos ferramentas que preveem (secas e cheias) com prazo de 4 meses de antecedência, além de alertas de curto e médio prazo para eventos de chuva extrema. Essas ferramentas possuem grande utilidade para a população e os gestores, auxiliando, por exemplo: na economia, na agricultura, no transporte terrestre e fluvial, na saúde, no planejamento de obras, etc”, destaca.

A Defesa Civil de Manaus juntamente com a Semasc (Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania) tem auxiliado as famílias com o benefício do auxílio aluguel. Em locais na qual é identificado que não há como as famílias voltarem a residir permanentemente, é oferecido o auxílio, para que assim, essas famílias não precisem retornar para os locais que foram afetados. Já em locais em que os riscos só são identificados naquele eventual momento sem que ocorra o risco de um futuro desastre, as famílias são colocadas em abrigos públicos. Nesses abrigos elas têm acesso a cestas básicas, kit de higiene e coxão, até poderem retornar para suas casas.

Por: Camili Vitória