SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Apesar de ter começado a sessão em viés positivo, a Bolsa brasileira devolveu os ganhos e registrou leve queda nesta quarta-feira (24), pressionada especialmente por ações do setor financeiro e pelo avanço das curvas de juros futuros locais.

A Vale, que divulga deus resultados do primeiro trimestre no final do dia, teve alta e limitou as perdas do Ibovespa, acompanhando os preços do minério de ferro no exterior. Com isso, o principal índice da Bolsa brasileira recuou 0,31%, terminando o dia aos 124.750 pontos.

No câmbio, o dólar avançou, após ter registrado quedas consecutivas na últimas sessões, enquanto o mercado aguarda novos dados sobre a economia americana. A moeda fechou em alta de 0,38%, cotado a R$ 5,148.

“Hoje a gente trabalhou muito na expectativa do resultado da Vale, que consegue ajudar o índice, mas não é suficiente para evitar uma queda mais generalizada. Foi um dia difícil para o mercado global e ainda teremos bastante coisa nesta semana”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

As curvas de juros locais foram impulsionadas tanto por fatores externos quanto por ruídos internos.

Pela manhã as taxas já oscilavam em alta em sintonia com o avanço dos rendimentos dos títulos dos EUA, os chamados “treasuries”, mas após as 11h o movimento se intensificou.

O primeiro impulso veio do exterior, em meio à expectativa antes do leilão de US$ 70 bilhões de títulos de cinco anos do Tesouro norte-americano. Os rendimentos atingiram as máximas do dia pouco depois das 11h (horário de Brasília).

O segundo impulso para as taxas futuras veio de comentários de Galípolo durante evento em São Paulo, em que defendeu a busca da meta de inflação de 3%.

“Do ponto de vista de diretor de Política Monetária, isto não é um tema. Meta não é para se discutir, é para se perseguir”, afirmou, reforçando que a discussão sobre a viabilidade da meta de inflação não é feita no Copom e é um “não-tema”.

Na segunda (23), o dólar à vista fechou o dia cotado a R$ 5,1285 na venda, em baixa de 0,80%. Em três dias úteis, a moeda acumulou queda de 2,33%, revertendo apenas parte dos fortes ganhos registrados mais cedo neste mês, em meio à recalibragem de expectativas sobre cortes de juros pelo Federal Reserve e aos riscos fiscais domésticos.

Operadores, que entre o final de 2023 e o início de 2024 chegaram a apostar em até 1,50 ponto percentual de afrouxamento monetário nos EUA ao longo deste ano, precificam atualmente apenas dois cortes de 0,25 ponto.

Juros mais altos nos EUA são, num geral, benéficos para o dólar, já que tornam os rendimentos dos treasuries mais atraentes, chamando investidores para os mercados americanos.

Agora, a expectativa fica pela divulgação de dados do índice de inflação PCE, o preferido do Federal Reserve (banco central americano), na sexta-feira (26), e, antes disso, os dados do PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA referentes ao primeiro trimestre, na quinta.

Jaqueline Kist, sócia da Matriz Capital, lembra que os últimos dados mostraram resiliência da economia americana, e sinalizações recentes de dirigentes do Fed apontam para um cenário de juros altos por mais tempo.

“Esse cenário na economia americana limita também a possibilidade de cortes na taxa Selic, que já está sendo precificada entre 9,5% e 10% no final do ano -contra 9% há algumas semanas. A curva de juros americana e brasileira reagem em alta, aumentando o prêmio de risco atrelado à Bolsa brasileira”, afirma Kist.

Um ritmo mais lento de afrouxamento monetário no Brasil, em teoria, seria positivo para o real por preservar melhor a rentabilidade do mercado de renda fixa, mas esse aspecto positivo pode ser compensado pelo risco fiscal elevado que ajudou a provocar essa reprecificação sobre os juros em primeiro lugar.