Uma das vitrines do governo de São Paulo e bandeira de reeleição do governador Rodrigo Garcia (PSDB), a despoluição do rio Pinheiros contrasta com o que vem ocorrendo com o rio Tietê este ano. Segundo estudo da Fundação SOS Mata Atlântica, a mancha de poluição no rio cresceu 40%, enquanto a proporção de água com boa qualidade caiu pela metade em comparação com 2021.
Os pesquisadores monitoraram 55 pontos do rio Tietê, o maior rio paulista, que corta 265 cidades de leste a oeste do estado.
A conclusão é que a mancha de poluição “cresceu e se estende agora por 122 quilômetros —um aumento de mais de 40% em relação a 2021, quando atingiu 85 quilômetros”, aponta o relatório Observando o Tietê 2022. \”A água de boa qualidade foi reduzida numa proporção ainda maior: de 124 quilômetros no ano passado para apenas 60 na atual medição”, diz o Relatório.
O monitoramento, realizado entre setembro de 2021 e agosto de 2022, abrangeu 576 quilômetros, da nascente, em Salesópolis, à jusante da eclusa do Reservatório de Barra Bonita.
O estudo aponta o seguinte sobre os 55 pontos de coleta:
- 34 (61,8%) têm qualidade de água regular
- 10 (18,2%) têm qualidade de água ruim
- 7 (12,7%) têm qualidade de água boa
- 4 (7,3%) têm qualidade de água péssima
“Não houve registro de água de ótima qualidade, fato que se repete desde 2010”, Relatório Observando o Tietê 2022.
Por que a poluição aumentou? O principal motivo para a piora é transferência de sedimentos contaminados acumulados no reservatório de Pirapora do Bom Jesus para o Médio Tietê (região de Sorocaba), segundo Gustavo Veronesi, coordenador do relatório.
“O maior revolvimento do solo para os plantios e o uso mais intenso de fertilizantes e agrotóxicos para as culturas agrícolas têm implicado grande produção de sedimentos que atingem os rios e que carregam consigo nutrientes e poluentes, que formam algas e consomem o oxigênio dissolvido da água”, Gustavo Veronesi, da SOS Mata Atlântica.
Veronesi lembra que a expansão das cidades do interior também aumentou a poluição no rio. Ele diz, no entanto, que as obras de saneamento melhoraram a qualidade da água do Tietê na região metropolitana de São Paulo, embora ela ainda esteja “abaixo do aceitável”.
“Os esforços para o incremento do saneamento na Grande São Paulo precisam ser expandidos para os demais municípios a fim de garantir a saúde da população e a qualidade da água ao longo de toda a bacia”, afirma.
O que diz o governo? Em nota, a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente afirma que o projeto Tietê, iniciado em 1992, “ampliou a rede de coleta de esgoto de 70% da área urbanizada para mais de 90% e o tratamento de 24% para 85% do volume coletado na Região Metropolitana”.
Afirma ainda que o relatório SOS Mata Atlântica de 2021 ocorreu durante a pandemia e, por isso, “a medição foi prejudicada em razão da diminuição dos pontos e da frequência das análises”.
“É possível constatar um recuo de cerca de 25% da poluição comparado ao ano de 2019, quando a mancha foi registrada em 163 quilômetros do rio dos 576 monitorados”, diz o governo.
A SOS Mata Atlântica afirma que os dados gerados são “similares ao do relatório anterior”, quando a pesquisa monitorou dois pontos a menos (53), “com índice [de qualidade de água considerado] bom em seis (11,3%), regular em 36 (67,9%), ruim em sete (13,2%) e péssima em quatro (7,5%)”.
Pinheiros é vitrine eleitoral
No começo do mês, o governador Rodrigo Garcia, que tenta a reeleição, prometeu despoluir o rio Tietê, objetivo não cumprido pelos antecessores, seus correligionários. Ele diz pretender replicar no rio mais famoso de São Paulo o que foi feito no projeto Novo Rio Pinheiros, que ligou à rede de esgoto 650 mil imóveis que despejavam seus dejetos no rio.
“Minha proposta é que a gente possa avançar em quatro anos no projeto de renascimento do Tietê”, prometeu. “Vamos pactuar para que em seis anos o rio Tietê possa ser um rio limpo e orgulho para a Grande São Paulo.”
Para Veronesi, o Pinheiros “melhorou o aspecto e cheiro, mas ainda não está despoluído”.
“Ele está em processo de despoluição, não é coisa mágica de uma hora para outra. Leva muito tempo e precisa de ação contínua do governo do Estado”, afirma.
R$ 500 milhões para o Tietê. De acordo com a secretaria, o governo assinará neste mês o contrato do programa Renasce Tietê, com financiamento do Bid (Banco Interamericano de Desenvolvimento), “que investirá R$ 500 milhões em ações no Rio” para recuperação de nascentes, reflorestamento de 36 hectares de vegetação e matas ciliares, ampliação de tecnologias de monitoramento das águas do rio, desassoreamento nos principais afluentes, além de capacitação para “programas de empoderamento social” ao longo do Tietê.
com informações do UOL Notícias*