Luiz Castro Advogado,Professor,Consultor. Casado | Família | Fé e Amor # Políticas Públicas # Direitos # Sustentabilidade. Crédito: Divulgação

Volto a um tema que pode parecer óbvio – e é. Atrasar por seguidos meses os repasses do Estado para empresas terceirizadas da área de saúde comprova, no mínimo (ou no máximo?) falta de prioridade na execução das políticas públicas da área. Principalmente porque grande parte deste rol de inadimplência estatal, se refere ao atraso de pagamento de funcionários terceirizados que atuam nas unidades de saúde estaduais, de médicos à servidores de serviços gerais. Estes profissionais são responsáveis pelo atendimento ambulatorial e hospitalar de centenas de milhares de amazonenses que não dispõe de recursos para recorrer aos planos de saúde ou outros serviços privados.

Uma gestão humanizada não pode colocar os pagamentos dos profissionais da saúde em segundo, terceiro ou quarto plano. Não se trata de desrespeito somente com estes trabalhadores, mas com toda população usuária do SUS – Sistema Único de Saúde. Como esta situação abusiva não tem sido tratada como absoluta prioridade pelos governantes atuais? Como diz o provérbio popular: “algo está errado no quartel de ‘Abrantes’”. E muito errado. Como cidadão – e como seguidor dos princípios cristãos – não me conformo com este quadro, agravado pela falta de insumos e de manutenção e reposição de equipamentos em diversos hospitais.

Fui um humilde gestor municipal no interior, no distante município de Envira, por dois mandatos. Posso afirmar que os servidores municipais como um todo, inclusive os contratados por terceirização sempre tiveram respeitados seus direitos trabalhistas, entre eles o da pontualidade nos pagamentos de suas remunerações mensais. Aliás, faço questão de reconhecer que somente cumpri minhas obrigações como prefeito à época. E isto reforça moralmente meu direito de reclamar, alertar e cobrar. Não me conformo em achar “normal” algo que é evidentemente anormal.

Já no interior do estado constata-se em alguns municípios outras graves anomalias na execução das políticas públicas de saúde. Cito, por exemplo, hospitais municipalizados que não têm seus equipamentos repostos ou consertados quando necessário. Como acontece em Envira, com um gerador de energia danificado há meses. Noite dessas, um paciente acometido por covid veio a falecer em condições indignas neste patamar do século XXI. Sofreu e agonizou no escuro da noite e da madrugada dentro de uma enfermaria, pois com uma pane no sistema de elétrico da cidade, o gerador de luz da unidade não pôde ser colocado em funcionamento. Lanternas de celular foram os pontos de luz para apoiar os profissionais que buscaram, em vão, salvar a vida do sofrido paciente. Estas e outras deficiências se tornam mais lamentáveis quando se constata nitidamente gestores municipais se comportando como “nababos” na sua ostentação de bens materiais, enquanto os serviços públicos locais são relevados ao descaso… E lembrando que na maioria dos municípios os hospitais têm sua gestão “supervisionada” pela administração estadual, que detém o poder de nomear seus diretores.

Finalizo lembrando que a atitude de “fazer de conta” que nada de grave está acontecendo, não resolve absolutamente nada. Ao contrário, agir como avestruz colocando a cabeça no buraco, contribui para agravar a desorganização da saúde pública no nosso estado, na capital e em diversos municípios do interior. O caos ainda não se instalou completamente, graças ao abnegado esforço dos profissionais de saúde que, apesar dos pesares, não desiste de lutar para atender os pacientes do SUS no nosso estado. Expresso minha esperança de que o governador perceba a gravidade desta situação e priorize de verdade as soluções indispensáveis.