Em meio às tensões envolvendo supostos planos russos para invadir a Ucrânia, o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, participou nesta quinta-feira do início de uma série de exercícios militares na Bielorrússia, país aliado ao Kremlin e que também faz fronteira com o território ucraniano.
As manobras, chamadas de “Resolução Aliada” e com término previsto para o dia 20 de fevereiro, devem reunir 30 mil militares, além de blindados, tanques e aeronaves, e são apontadas pela Otan, a aliança militar liderada pelos EUA, como o maior deslocamento russo em solo bielorrusso desde o fim da Guerra Fria. Rússsia e Bielorrússia não divulgaram números.
As imagens divulgadas pelo Ministério da Defesa da Bielorrússia mostraram treinamentos com batalhões de paraquedistas, disparos de tanques e desembarque de tropas em helicópteros, simulando ataques contra forças “inimigas”. De acordo com a apresentação oficial das manobras, “os militares trabalharão para repelir agressões externas, combater o terrorismo, aprimorar suas habilidades de defesa das fronteiras, cortar canais de entrega de armas e encontrar e neutralizar falsos sabotadores”. Autoridades dos dois países não escondem que os exercícios são uma resposta ao que veem como aumento da presença da Otan na região.
O canal de TV Zvezda (“Estrela”), ligado ao Ministério da Defesa russo, destacou o uso dos caças Yakovlev Yak-130 e Sukhoi Su-25, além de drones de reconhecimento e ataque.
“Faremos uma grande avaliação do que foi feito na fase de preparação de exercícios. Mas você notou, com razão, que a primeira etapa, a transferência de grandes agrupamentos de tropas e equipamentos, está em fase de conclusão”, afirmou Shoigu, em diálogo com o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, citado pela Zvezda TV.
No encontro, ele confirmou o apoio de Moscou a Minsk, revelou que os dois países farão cerca de 20 exercícios militares ao longo de 2021 e completou afirmando que a Rússia ajudaria o país a se opor à “linha destrutiva do Ocidente”.
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As manobras ocorrem no momento em que a Rússia tenta estabelecer um diálogo com o Ocidente para resolver o impasse relacionado à Ucrânia e suas próprias questões de segurança regional: o presidente Vladimir Putin é acusado de planejar uma invasão ao país vizinho ao colocar cerca de 100 mil militares em áreas de fronteira, mas ele nega as acusações e, por sua vez, cobra compromissos dos países ocidentais.
O principal deles é um veto à entrada da Ucrânia na Otan — Putin já delimitou que tal movimento seria uma “linha vermelha” que não deveria ser cruzada. A aliança rejeita a ideia, assim como a demanda para que todas as forças externas sejam retiradas dos países da Otan no Leste Europeu.
Países como EUA e o Reino Unido também prometeram impor sanções contra Moscou no caso de uma invasão, e anunciaram o envio de novos contingentes para a região. Na quarta-feira, o presidente americano, Joe Biden, anunciou o envio de mais 3 mil militares para a Polônia, a Alemanha e a Romênia, um movimento que desagradou o Kremlin. Os EUA já têm 64 mil soldados nos países da Otan na Europa.
“É óbvio que esses não são passos para amenizar as tensões, mas sim ações que elevam as tensões”, afirmou o secretário de Imprensa russo, Dmitry Peskov. “Pedimos aos americanos para que parem de agravar a situação no continente europeu”.
No caso da Bielorrússia, a Otan vê com preocupação as manobras por sua proximidade das fronteiras com a Ucrânia — a capital, Kiev, fica a cerca de 100 km da divisa com o país vizinho, e o posicionamento de forças russas sugere a possibilidade, em um cenário pessimista, uma ofensiva mais ampla, algo que o Kremlin nega categoricamente. Na terça-feira, também foram realizadas manobras russas na região separatista da Transnístria, localizada na Moldávia e que também faz fronteira com a Ucrânia.
Ainda sobre a Bielorrússia, a Chancelaria fez um protesto formal ao governo ucraniano relativo a uma suposta violação de sua fronteira por um drone ucraniano, no dia 24 de janeiro. De acordo com o Ministério da Defesa, a aeronave tentava espionar uma instalação militar, mas foi interceptada e forçada a pousar, sendo posteriormente inspecionada.
Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores ucraniano afirmou que as acusações não passam de provocação e que o país não usou nenhum drone na área.