Foto: Bruno Kelly/ Reuters

Os efeitos da crise climática foram devastadores na região amazônica em 2023. O Rio Negro, conhecido por suas águas escuras e com uma extensão de aproximadamente 1.700 km, alcançou a marca de 13,59 metros, tornando-se a pior seca da história de Manaus em 121 anos entre os meses de setembro e dezembro do ano passado.

Um cenário desolador, que atingiu cerca de 152 mil famílias, foi acompanhado internacionalmente através da cobertura fotográfica feita por profissionais engajados em registrar e denunciar a tragédia ambiental na Amazônia.

O fotojornalista Bruno Kelly foi um dos profissionais que mais se destacou ao exercer essa função. Autor de uma série de fotografias que mostram os efeitos devastadores da maior seca já registrada na região, Bruno recebeu menção honrosa no mais antigo concurso de fotojornalismo do mundo, o Pictures of The Year International (POY). Ele foi premiado na categoria Local News Picture Story, pelo seu trabalho na agência Reuters, dedicada a coberturas feitas nos locais de origem das organizações ou fotógrafos.

Foto: Bruno Kelly/ Reuters

Atuando como fotojornalista freelancer em Manaus, Bruno colabora para veículos de imprensa do Brasil e exterior e também para ONGs que possuem foco em ações socioambientais. Em entrevista ao portal Amazônia Press, ele falou mais sobre essa experiência.

“Com isso, a seca logo entrou no meu radar pois desde o início já tínhamos informações vindas de pesquisadores que está estiagem seria potencializada pelo el nino e também pelo aquecimentos dos oceanos. Fortes ondas de calor e a ação criminosa humana, queimando áreas de floresta em todo o estado deixou o povo do Amazonas e toda biodiversidade local em uma situação bem crítica por meses. Então fui a campo pra mostrar os impactos gerados por esse conjunto de ações extremas. Toda a cobertura da seca foi feita para agência internacional de notícias, Reuters para qual colaboro desde 2012”, declarou.

O trabalho de Bruno Kelly premiado no POY é uma série de dez fotos feitas para a agência internacional de notícias Reuters, o fotojornalista visitou lugares como a comunidade Santa Helena do Inglês, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Rio Negro, em Iranduba; a Comunidade Bela Vista do Jaraqui, na RDS Puranga Conquista; e o Lago do Puraquequara, em Manaus, além dos municípios de Careiro da Várzea e Manacapuru, todos no Amazonas.

Foto: Bruno Kelly/ Reuters

A principal via de transporte na Amazônia são os rios e sem eles a logística ficou muito limitada, muitos lugares ficaram isolados. De acordo com o fotojornalista, essa foi a principal dificuldade.

“Comunidades ribeirinhas viram seus rios virarem lama e o acesso a água passou a ser um dos problemas mais emergenciais no meio da maior bacia hidrográfica do mundo. Ribeirinhos caminhavam horas e até dias para chegarem onde havia água e onde chegava a pouca ajuda enviada, como cestas básicas e galões de água potável. O calor e a densa fumaça deixava tudo ainda mais difícil”, frisou o profissional.

Dando voz à tragédia ambiental, imagens como a de botos que morreram nas águas quentes, com temperatura chegando aos 39°C, além dos registros de rios secos rodaram o mundo e foram publicadas em diversos jornais. Parte do material saiu na capa do jornal americano The New York Times, em novembro de 2023.

Foto: Bruno Kelly/ Reuters
Foto: Bruno Kelly/ Reuters

“Ver pessoas tirando água da lama para beber, peixes morrendo aos milhares e mais de 150 botos mortos em uma água que beirava os 40 graus celsius foi muito difícil. Mas isso foi o que conseguimos ter acesso, sempre imaginava o que estaria acontecendo nos lugares mais longínquos. Onde não era possível chegar. Não é de agora que a Amazônia e seus povos sofrem com ação criminosa de humanos que acham que a floresta é uma mercadoria. Toda essa biodiversidade, homens, mulheres e crianças já sentem na pele as mudanças climáticas e precisam ser respeitados, pois se ainda temos a Amazônia, é por conta deles, os verdadeiros protetores dessa riqueza. Eles precisam ser ouvidos e recompensados por preservar e cuidar da floresta”, disse Bruno Kelly.

De acordo com o profissional, concursos de jornalismo como o POY podem, de alguma maneira, intensificar a visibilidade do assunto que está sendo sugerido pelo profissional.

“Fotografamos e escrevemos para que pessoas possam ter a ciência do que está acontecendo nos lugares, com as pessoa que vivem nesses lugares. Pois acredito que tudo está conectado e toda pessoa pode sim gerar um impacto positivo ou negativo em um local por mais longe ou perto que esteja. A Amazônia e seus povos ainda são vistos com distanciamento por aqueles que não vivem aqui, seja no exterior ou até mesmo nas outras regiões do nosso Brasil que é muito grande. Então se for pra levar essas imagens a mais pessoas então acho que o prêmio cumpre seu papel, não para mim mas para o assunto que está sendo colocado em evidência”, destacou.

Foto: Bruno Kelly/ Reuters

Não é surpresa alguma que o Jornalismo exerce um papel fundamental como propulsor do debate acerca das vulnerabilidades às quais as pessoas estão submetidas, como é o caso das constantes mudanças climáticas. Seguindo o pressuposto de que uma sociedade conscientizada é o melhor argumento contra as mudanças climáticas, o fotojornalista ressalta:

“O jornalismo é essencial para todos, pois a informação nos faz tomar decisões. Esse é nosso papel e precisamos faze-lo com responsabilidade. A mentira não pode se perpetuar e só combatemos ela com informação, através de imagens ou textos com credibilidade e ética”, concluiu.