Foto: Francisco Araújo/Amazônia Press

Pré-candidato a deputado federal nas eleições desse ano, Hissa Abrahão (Avante) esteve presente nos estúdios do Quarto Poder Podcast para uma entrevista exclusiva para o programa Amazônia Press Política. Professor universitário, empreendedor, economista e mestre pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Hissa Abrahão já foi vereador, vice-prefeito, secretário de obras e deputado federal, e compartilhou um pouco da sua trajetória política e os seus futuros projetos para disputar o pleito desde ano.

Atuando no meio político desde os seus 16 anos, Abrahão ressaltou o incentivo aos jovens a tirarem o título de eleitor para irem às urnas no dia 30 de outubro para escolherem o presidente, governadores, senadores e deputados. No entanto, acredita que, mesmo com toda a mobilização, o público jovem pode não ser decisivo para o resultado nas urnas.

Foto: Francisco Araújo/Amazônia Press

“Francamente, os jovens de 16 são um eleitorado q muito importante e ajuda evidentemente qualquer candidato, mas acho que a palavra decisivo é muito forte. Se eu tivesse que optar em algo decisivo, seria a classe média. Acho que a classe média seria decisiva, pois para onde ela tombar, ela elege um candidato. A classe média é a maioria no país e ela emprega muita gente, emprega a empregada doméstica, o motorista, ela é professora e é louco para ser rico, para ter uma ascensão social. Então a classe média acaba vendo o lado de cima e o de baixo, influenciando muita gente e avalia muito bem o cenário”, destacou.

Completou ainda: “O voto aos 16 é muito importante, sim. É uma juventude que pulsa rebeldia, que pulsa realmente uma vontade de alternância de poder. Lembro que fui presidente da União dos Estudantes Secundaristas do Amazonas (UESA) em 1995 e eu fiz muitas campanhas nas escolas com os grêmios estudantis pelo voto aos 16 anos”.

O pré-candidato fez uma rápida análise sobre o cenário político atual. Hissa Abrahão frisou que podem ser vistos muitos empresários e atuantes do ramo judiciário buscando o protagonismo político e avaliou que a política vem perdendo a sua aptidão em implementar algo visando a melhoria no serviço público. Além disso, pontuou que os mesmos apenas buscam entrar na política focando apenas em crescimento financeiro para as suas próprias vidas e famílias.

“Hoje, a política, ela tá assim: você tem muitos empresários querendo ser políticos. E não é para mudar nada, é para fazer os seus negócios aumentarem, as suas empresas terem mais contratos e a sua família ter mais influência para que a empresa privada cresça mais financeiramente. Aí você tem muita gente do judiciário, que está colocando filhos, netos e outras pessoas para também serem candidatos. Foi-se o tempo em que a política era construída por pessoas que cavavam o seu destino político com muita vontade de querer mudar, de querer fazer, de querer implementar um projeto. Então, hoje, os empresários e uma parte do poder judiciário estão ganhando muito espaço. Acho que se tiver talento é até válido, mas tem um lado muito ruim nisso porque a política perde um pouco a sua capacidade de elaborar ideias e projetos para discutir na raiz o que é melhor para a juventude, para o idoso, para a mulher enquanto serviço público. Isso realmente está faltando”, ressaltou.

Por sua vasta experiência e por já ter passagem pelos três poderes: executivo, legislativo e judiciário, Hissa constatou como enxerga a mudança no cenário político desde 2018, ano em que Jair Bolsonaro foi eleito o 38º presidente do Brasil com 55,13% dos votos válidos no segundo turno contra seu adversário, Fernando Haddad (PT), que recebeu 44,87% dos votos.

“Queria que o Bolsonaro acertasse mais, que ele desse mais certo e não pisasse na bola, por exemplo, no quesito pandemia: que vacinasse mais gente, se vacinasse e incentivasse as pessoas. Acho que só faltou isso para ele. Eu não quero ver a corja voltando, não quero ver a corrupção voltando, não aguento mais o cinismo. A gente vai estar em uma ‘sinuca de bico’ de isso se concretizar em um eventual segundo turno, mas eu ainda acredito que o Bolsonaro é o favorito. Acredito que muita gente que hoje está com dúvidas e perceber que o segundo turno vai ser ele contra o PT [Partido dos Trabalhadores], acho que vai acabar indo de Bolsonaro. Eu sou um que tenho e terei muita dificuldade de votar no PT. O meu voto no primeiro turno vai ser no Ciro Gomes, mas no segundo não consigo me ver votando no PT. Só queria que o Bolsonaro acertasse mais para eu ficar tranquilo”.

“Fico muito triste quando vejo a esquerda chamando a turma do Bolsonaro de gado, pois um dia eles já foram eleitores do Lula. Ninguém ganha sem esses eleitores, o Lula não seria presidente sem boa parte desses eleitores do Bolsonaro e nem o Bolsonaro vai ser presidente sem essa boa parte. Mas agora falando do Lula, o [Antonio] Palocci devolveu judicialmente, se não me engano, R$ 100 milhões de volta para a Justiça. Se um cara desse, condenado, ainda consegue devolver R$ 100 milhões. Imaginem quanto que ele não roubou a mais que ele não devolveu. Então, a gente está em uma situação muito difícil e queria realmente que o Bolsonaro tivesse acertado mais”, complementou.

Após um tempo afastado da política, Hissa Abrahão resolveu desenvolver mais o seu lado empreendedor e como professor universitário como renda para viver. Em 2018, o pré-candidato concorreu ao cargo para o Senado Federal, no qual conseguiu quase 300 mil votos, mas não foi eleito.

“Tem algumas pessoas que acham que o político tem que ficar, durante esse intervalo de quatro anos, só fazendo política. Mas como que eu, sem mandato, ia ficar só fazendo política? Eu precisava ganhar dinheiro para viver com qualquer cidadão. E estranhem o político que está sem mandado e espera chegar outra eleição para ser candidato. Perdi eleição para o Senado em 2018, me reinventei como empresário, em um período voltei a dar aula de economia no ensino superior e mudei de ramo comercial, criei um bar e restaurante regionalíssimo, que ajudamos muitos artistas e muita gente da cultura passa por lá, damos oportunidade para muita gente que tem o mínimo de profissionalismo também”.

Do seu ponto de vista como economista, Hissa Abrahão avaliou que as tentativas de Bolsonaro contra a Zona Franca de Manaus (ZFM) e a redução de Impostos sobre Produtos Industrializados (IPI) em 25% para todos os produtos fabricados em território nacional e importados, devem ser vistas como pretexto para a criação de uma nova matriz econômica e crescimento em outros aspectos.

“Na medida em que ele reduz o IPI dos mesmos produtos que a gente produz para o restante do país e fica tudo linear, não tem motivo para a pessoa comprar daqui, ela compra do mais perto dela. Que é ruim para cá é. Mas estou muito cansado desse discurso de ‘a Zona Franca vai acabar’, mas e aí? Cadê a classe política para criar um novo modelo, uma nova matriz econômica? Acho que é aproveitar essa turbulência para crescer em outro aspecto. A Zona Franca tá com problema? O Bolsonaro pode corrigir esse problema que foi criado pelo Paulo Guedes? Pode! Pode muito bem voltar atras na decisão dele e tomar outra reduzindo a Cofins [Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social], que não interfere na arrecadação para o Governo Federal que é repassada para os municípios e estados. Então o impacto econômico é só para o Governo Federal”.

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