Ponto central da cidade de Petrópolis , a Praça Dom Pedro II costuma abrigar muitos moradores em situação de rua que dormem nos bancos e marquises da região. Durante a enxurrada da terça-feira, três deles se uniram para ajudar pessoas que estavam sendo arrastadas pela correnteza. O gesto humano e solidário teve um custo para o trio que perdeu roupas e documentos, além do lugar para dormir, uma vez que a praça foi tomada pela lama. Até o momento, o temporal na cidade da Região Serrana já deixou 39 mortos e inúmeros desaparecidos.
Nascido em Petrópolis , Michael Azevedo Lopes, de 27 anos, vive de vender doces e ajudar comerciantes e moradores com pequenos serviços para conseguir se alimentar. Na hora do temporal, ele se preparava para recolher suas coisas, com dois companheiros de rua, quando a enxurrada tomou conta da Rua do Imperador. Ao verem pessoas serem arrastadas pela água e ficarem presas na grade do rio que atravessa o local, eles correram para ajudar quem precisava.
“Foi muito rápido, a rua encheu e vimos pessoas sendo arrastadas. Umas já estavam mortas e ficaram presas nas grades, mas algumas estavam vivas. Consegui tirar uma moça grávida, mas infelizmente ela bateu a cabeça e morreu em meus braços”, lamentou, lembrando.
Ex-morador de rua em Nova Friburgo, cidade vizinha também da Região Serrana, Antonio Gama de 35 anos, viu de perto a tragédia das chuvas na cidade, em 2011. Ontem, ele passou por tudo novamente e disse que a realidade é pior do que a de 12 anos atrás. Com uma corda, ele e os colegas ajudaram a salvar pessoas isoladas.
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“O que eu vi aqui foi coisa de filme de terror. As pessoas agarradas mortas ali na grade. Eu tentei salvar o rapaz ali e o outro graças a Deus conseguiu jogar a corda e consegui resgatar ele. Essa cena nunca vi nem na minha cidade, que já enfrentou enchentes assim.”
Quem jogou a corda foi o funcionário de uma lanchonete, que reiterou a coragem das pessoas em situação de rua que ajudaram no resgate.
“Eles foram brabos, por que a água parecia um arrastão. Estava levando carro, árvore e as pessoas. Arrumamos uma corda e eles tiraram as pessoas. Pouca gente vai falar, mas eles foram corajosos.”
O ato de coragem do grupo acabou custando parte importante do pouco que já possuíam. A enxurrada levou roupas e documentos embora e, pela manhã, tentavam juntar o que restou dessa tragédia.
“Está tudo bagunçado, tudo perdido. A gente já vive numa situação bastante difícil e agora fica pior ainda”, lamentou Antonio.