RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Petrobras realiza nesta quinta-feira (25) assembleia de acionistas para eleger um novo conselho de administração e definir sobre o pagamento de dividendos extraordinários, foco de uma crise política que quase derrubou o presidente da estatal, Jean Paul Prates.

Na eleição para o conselho, o governo tenta ampliar sua influência direta sobre a maior estatal brasileira. Já a questão dos dividendos ajuda a melhorar a visão de investidores sobre a companhia, abalada após os ruídos em torno do tema.

“A Petrobras enfrentou um início de ano turbulento, mas as perspectivas para a companhia estão melhorando”, escreveu, em relatório, Marcelo Boragini, sócio e especialista em renda variável da Davos Investimentos.

Ele destaca, porém, que o recuo do governo em relação aos dividendos recoloca a estatal entre as petroleiras com retorno aos investidores acima da média, com expectativa de pagar entre 12% e 13% do valor das ações em 2025.

“É particularmente notável, superando a média do mercado, o que pode tornar a Petrobras um investimento atraente para aqueles com uma visão de longo prazo”, disse Boragini.

A disputa pelos dividendos vem desde antes do governo Lula, quando a direção bolsonarista da Petrobras se tornou alvo de críticas pela elevada remuneração aos acionistas em um período de combustíveis caros e baixos investimentos.

Em 2023, Prates comandou uma mudança na política de dividendos que reduziu um pouco o percentual da geração de caixa a ser distribuída, mas sem desagradar demais investidores privados.

Em março, representantes do governo no conselho vetaram proposta da diretoria da empresa para distribuir 50% de dividendos extraordinários de R$ 43 bilhões, alegando que a medida poderia impactar a capacidade de investimento da companhia.

A decisão derrubou as ações da estatal, esquentou a fritura de Prates e acabou sendo revista na semana passada, por determinação de Lula. Deve ser levada a votação em assembleia nesta quinta e aprovada com voto do governo e de minoritários.

O mercado espera que, no decorrer do ano, a empresa aprove a distribuição dos 50% adicionais de dividendos relevantes, diante da relevância dos recursos para o equilíbrio fiscal do governo.

“O governo é um dos principais beneficiários desses dividendos”, destacou Alexandre Pletes, chefe de renda variável da Faz Capital. “Este fato é relevante considerando a recente mudança na meta fiscal para 2025, visando um déficit zero e a possível utilidade desses dividendos da Petrobras para ajudar a atingir esse objetivo.”

Na votação para o conselho, estão em jogo 10 das 11 cadeiras do colegiado que decide a estratégia da estatal –uma delas, reservada a representante dos trabalhadores, será ocupada novamente por Rosângela Buzanelli.

Outras duas são reservadas a representantes de acionistas minoritários. Uma será disputada por três candidatos: Aristóteles Nogueira, sócio da gestora de recursos XP Investimentos; Jerônimo Antunes, conselheiro de outras empresas; e Thales Kroth, analista financeiro na Top Cold.

A outra será ocupada novamente pelo advogado Francisco Petros, único candidato dos acionistas detentores de ações ordinárias (com direito a voto).

As oito restantes serão disputadas entre governo e investidores privados. Até 2020, o acionista controlador ocupava todas elas, mas acionistas privados começaram a se unir para ampliar sua participação. Hoje, o governo tem seis dessas cadeiras, e os minoritários, duas.

O governo apresentou uma lista com oito nomes, cinco deles já no colegiado: Prates, o secretário especial de Análise Governamental da Casa Civil, Bruno Moretti, dois secretários do MME (Ministério de Minas e Energia), Victor Saback e Pietro Mendes, e o advogado Renato Gallupo.

Pietro Mendes é o atual presidente do conselho e chegou a ser afastado do mandato por liminar concedida pela Justiça Federal de São Paulo, mas a decisão foi derrubada e ele concorre novamente à presidência do conselho.

O deputado conseguiu também afastar o ex-ministro Sergio Machado Rezende. A decisão também foi revista, mas ele não é candidato à reeleição.

Em sua lista, o governo acrescentou o secretário-executivo adjunto do Ministério da Fazenda, Rafael Dubeux, que substitui Sergio Machado Rezende, e representa um avanço da influência direta do acionista controlador sobre o colegiado.

Esses seis provavelmente serão os representantes da União, já que as últimas duas vagas tendem a ficar com os atuais ocupantes, o banqueiro João José Abdalla e o advogado Marcelo Gasparino, ambos indicados pelo banco Clássico, de Abdalla, com apoio de outros minoritários.