Foto: João Paulo Borges Pedro/Instituto Mamirauá

O Amazonas enfrenta uma situação crítica devido à seca extrema, afetando atualmente 60 municípios do estado. Apenas dois, Presidente Figueiredo e Apuís, permanecem em uma situação considerada normal. As informações são do boletim mais recente divulgado pela Defesa Civil do estado nesta quarta-feira (25).

Mais de 600 mil pessoas foram impactadas pela estiagem, com 158 mil famílias sofrendo as consequências diretas da seca este ano. O governador do estado, Wilson Lima, havia declarado situação de emergência em 55 dos 62 municípios do Amazonas em setembro, devido à situação preocupante.

De janeiro até 24 de outubro deste ano, foram registrados 18.090 focos de calor no estado, sendo 2.500 na região metropolitana de Manaus. Somente em outubro, até o momento, foram contabilizados 3.288 focos, mais que o dobro do mesmo período do ano passado, quando houve 1.335 focos de calor.

A cidade de Manaus enfrenta uma das secas mais graves dos últimos 121 anos, com o Rio Negro atingindo a cota de 12,70 metros nesta quinta-feira (26), o nível mais baixo já registrado desde o início das medições em 1902. Para comparação, o recorde da cheia foi de 30,02 metros em 16 de junho de 2021.

O cenário é agravado pelo fenômeno El Niño, que é caracterizado pelo enfraquecimento dos ventos alísios e pelo aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico. Isso causa mudanças significativas na interação entre a superfície oceânica e a atmosfera, impactando o clima global.

De acordo com o pesquisador de geociências Marcos Freitas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a seca não pode ser atribuída apenas ao El Niño, pois há indícios de que o aquecimento global está desempenhando um papel significativo nessa situação. Ele aponta que as chuvas na região do Rio Negro são principalmente formadas por massas de ar provenientes do Oceano Atlântico, em vez do Oceano Pacífico.

Em 2010, durante outra seca severa do Rio Negro, Freitas conduziu um estudo que revelou um aumento moderado nas temperaturas do Oceano Atlântico, mas com um desvio máximo de 1,5 graus Celsius. No entanto, neste ano, o Oceano Atlântico experimentou um aumento de temperatura de até 4 graus no hemisfério norte. O El Niño também contribuiu com um aumento de 2 graus Celsius no Oceano Pacífico. Esses fatores indicam uma forte influência das mudanças climáticas na atual situação da região do Rio Negro.

A seca extrema representa um desafio significativo para as comunidades locais e levanta preocupações sobre a disponibilidade de água, bem como sobre os ecossistemas e a vida selvagem da região.

AM Post