SINIMBU, RS (FOLHAPRESS) – Depois de dias de chuvas intensas, um sol tímido surgiu na manhã deste sábado (4) em Sinimbu (RS), a 177 km de Porto Alegre, jogando mais luz sobre a devastação. Localizada no Vale do Rio Pardo, a cidade foi destruída pela força das águas após o transbordamento do rio Pardinho, que divide a área urbana em duas, na maior enchente de que se tem registro em sua história.

Os moradores e comerciantes passaram o dia tentando limpar os imóveis, tomados pela lama, vendo o que seria possível salvar e contabilizando os prejuízos. A prefeitura estima que mais de 2.000 pessoas foram desalojadas –a cidade tem pouco mais de 10 mil habitantes.

No centro da cidade, onde o nível da água atingiu mais de dois metros, o cenário é de guerra. Há casas e comércios destruídos por toda a parte.

Nas ruas, completamente enlameadas, restos de móveis, eletrodomésticos, alimentos e entulho se amontoavam. Nas cercas das casas, roupas sujas esperavam para ver quais ainda poderiam ser aproveitadas. Caminhões circulavam recolhendo o que era descartado, para tentar colocar um pouco de ordem no caos.

O gerente comercial Eunísio Vitalis, 44, que limpava a casa de seus pais e a da sua avó, de 89 anos, relembrou como a enxurrada tomou a cidade. “Por volta das 7h da terça [30], o rio transbordou pela primeira vez e a água chegou à avenida General Flores da Cunha [a principal da cidade]”, conta. “Depois, a chuva deu uma trégua e a enchente baixou. As pessoas ficaram aliviadas e começaram a limpar sujeira de suas casas.”

Poucas horas depois, no entanto, pessoas que moram na área rural da cidade –que fica na parte superior do município– começaram a mandar mensagens para amigos e parentes da área urbana avisando que chovia muito e os afluentes estavam levando muita água para o rio Pardinho. O resultado não se fez esperar.

“O rio começou a encher de novo e, por volta do meio-dia, a água veio com tudo”, conta. Vitalis e a mulher estavam em uma farmácia da família, limpando os estragos da primeira cheia, e ouviram um barulho estranho na porta.

“Fomos ver e notamos que a enchente já estava com um metro e meio de altura. Só deu tempo de subir para o segundo piso. Depois, com medo, fomos para o telhado. Algum tempo depois, chegaram uns amigos de barco pelos fundos da farmácia, derrubaram uma parede e nos puxaram para a embarcação com uma corda.”

Ninguém se machucou, nem sua avó, que foi posta em segurança, mas os prejuízos materiais foram consideráveis. “Tudo foi perdido. Estimamos R$ 250 mil em perdas nas casas. Na farmácia havia cerca de R$ 500 mil em produtos, que foram destruídos ou inutilizados.”

A poucos metros da casa da família Vitalis, na rua principal, o prejuízo de Samuel Schulz, dono de uma rede de supermercado de mesmo nome, foi muito maior. “As duas [a unidade de Sinimbu e outra, no Rio Pardinho, localidade próxima] foram praticamente destruídas, com muita perda de mercadorias, principalmente produtos perecíveis ou com embalagens não resistentes a água”, relata. “Nosso prejuízo, somando as duas lojas, chega a R$ 5 milhões.”

Já a psicopedagoga Carla Alexandre, 39, tentava salvar algo da biblioteca municipal. Ela e uma colega de trabalhavam, munidas de enxadas, para puxar a grossa camada de lama para fora do imóvel. “A água chegou quase ao teto do piso térreo da biblioteca”, conta. “Os cerca de 12 mil livros do nosso acervo foram destruídos, assim como muitos brinquedos e outros materiais usados em projetos voltados a crianças.”

Se recuperar dos prejuízos e recomeçar não será tarefa fácil. Entre os comerciantes, há até quem pense em desistir dos negócios. É o caso de Alvori da Silva, 61, dono de uma loja de roupas que ficou completamente destruída.

“Foi tudo inutilizado”, lamenta. “Prateleiras, gôndolas, banquetas, balcão, tudo destruído. Em minha casa, também perdi tudo. Somado com a loja, o prejuízo chega a R$ 300 mil. Não sei se vou recomeçar a loja.”

Shulz, o dono do supermercado, também não sabe como vai restabelecer suas lojas. Embora tivessem seguro, a apólice não cobre desastres naturais, como enchentes.

“Não sabemos o que será daqui para a frente. Para começar de novo teremos que começar do zero, refazendo toda a infraestrutura e estoque das lojas. Não sei se poderemos reverter essa situação .”