SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente da Argentina, Javier Milei, anunciou na noite desta segunda-feira (22) que o país alcançou um superávit primário (receitas maiores que despesas, incluindo juros) no primeiro trimestre do ano pela primeira vez desde 2008, de 0,2% do PIB.

“[É um feito] que deve nos deixar orgulhoso como país, em particular dada a herança que tivemos que assumir”, disse Milei em pronunciamento, referindo-se ao antecessor Alberto Fernández.

“O superávit fiscal é a pedra angular a partir da qual construiremos a nova era de prosperidade da Argentina. Ter alcançado esse superávit na Argentina, que teve déficit em 113 dos últimos 123 anos […] é simplesmente uma proeza de proporções históricas a nível mundial”.

Na transmissão gravada, Milei estava acompanhado do ministro da Economia, Luis Caputo, e do presidente do banco central argentino, Santiago Bausili.

O superávit trimestral argentino ocorre após uma série de medidas do governo para reduzir o gasto público como forma de controlar a inflação do país, que vem mostrando sinais de desaceleração enquanto o país enfrenta os maiores índices de pobreza desde o início do século.

Em março, a inflação no país desacelerou pelo terceiro mês consecutivo e ficou em 11%. O índice era muito esperado por atuar como um dos termômetros dos efeitos práticos das medidas de austeridade da atual administração na Casa Rosada.

Ainda assim, a inflação acumulada dos últimos 12 meses atingiu o pico de 287,9%, ante 276,2% no mês anterior. Tratam-se dos maiores indicadores interanuais em mais de três décadas no país.

Javier Milei assumiu o país com uma inflação mensal que em dezembro marcava 25,5%. Desde então, o índice foi caindo para 20,6% (janeiro), 13,2% (fevereiro) e 11% (março).

Ainda que veja um problema crônico do país se controlar, a população sente no cotidiano a perda acelerada do poder de compra e o avanço da pobreza, hoje realidade de 57%, patamar só observado há 20 anos. Os índices de pobreza dispararam no início do ano, impulsionados pela explosão de preços após medidas iniciais de Milei.

A principal causa desse aumento é a corrida inflacionária que os argentinos têm vivido todos os dias e em todos os setores principalmente desde dezembro, quando Milei assumiu a Presidência, desvalorizou fortemente a moeda local, diminuiu subsídios e eliminou congelamentos impostos pelo seu antecessor.

A intenção do ultraliberal é corrigir a distorção dos valores nas gôndolas e estancar a impressão de dinheiro, que gera mais inflação. Ele quer reduzir os gastos e a interferência do Estado, zerar o déficit fiscal e reequilibrar as contas públicas, admitindo que nos primeiros meses isso exigirá “sacrifícios” da população.