Tornou-se habitual para a população manauara conviver com igarapés em situações precárias. Seu mal cheiro persistente como pano de fundo ao nosso dia-a-dia corrido, mesmo sendo um incômodo perceptível, segue sendo ignorado, juntamente com a série de problemas que o rodeiam, como a extensa escala de destruição da nossa biodiversidade.
Dentro dessa realidade, grupos buscam proteger e amenizar os impactos dessa poluição nos igarapés, como a ONG Mata Viva, que luta em defesa do igarapé Água Branca.
No dia 25 de maio, a ONG, por intermédio de suas redes sociais, caracterizou o cenário vivido pelo igarapé Água Branca como uma “gravíssima ameaça”. A denúncia relatava um desmatamento ilegal em Área de Preservação Permanente (APP) pela empresa Oliveira Energia. A área mencionada tem a função de preservar recursos hídricos com sua vegetação nativa, de acordo com a Lei n. 12.651/12 do Código Florestal.
A ONG protocolou uma denúncia ao Ministério Público do Amazonas. O desmatamento feito pela empresa Oliveira Energia, se apontado como irregular, pode gerar pena de 1 (um) a 3 (três) anos em detenção; ou multa; ou ambas as penas para a empresa. Nada comparado ao possível dano causado pelo desmatamento em Área de Preservação Permanente.
“A empresa Oliveira Energia solicitou uma licença e desmatou quase o dobro do que ela pediu. Desmatou por conta própria, destruiu uma área de nascente do igarapé muito grande, destruiu a APP do igarapé também, que ficou completamente deserta, pelada…” – Jó Fernandes Farah, presidente da ONG Mata Viva e jornalista.
O igarapé Água Branca está situado às margens do Aeroporto Eduardo Gomes, atravessando a Av. do Turismo e desaguando-se na bacia do rio Tarumã Açu. O igarapé, segundo medição feita pelo Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM), distribui anualmente 4 milhões de litros de água rica em oxigênio e nutrientes para o rio Tarumã Açu, comprometido pela poluição de outros igarapés que o deságuam, como: Igarapé “Ponte da Bolívia”, Cachoeira baixa do Tarumã, Cachoeira alta do Tarumã e o igarapé do Gigante.
O presidente da ONG, Jó Fernandes Farah, que trabalha há 20 anos na defesa dos fragmentos florestais e igarapés de Manaus, aponta, além dos problemas com o desmatamento nas margens do rio Tarumã Açu, a pouca infraestrutura como potencializador da poluição.
“Fora esses igarapés, a bacia também sofre com degradação e desmatamento nas margens do rio Tarumã Açu. Muito lixo sendo lançado pelos flutuantes e pelos moradores de áreas com pouca infraestrutura, como a Favela Cidades das Luzes. Lança muito lixo, vem muito lixo de lá. Então o igarapé da Água Branca é um rio que não lança nenhum tipo de poluente dentro da bacia do rio Tarumã Açu, lança apenas água limpa, água fria, água rica, uma água muito necessária para dentro dessa bacia… E ele também é uma espécie de berçário de peixes, porque os peixes, que existem na bacia do rio Tarumã Açu acabam migrando para dentro do igarapé Água Branca para desovar.” – Jó Fernandes Farah, presidente da ONG Mata Viva e jornalista.
Diante de tantos benefícios prestados pelo igarapé Água Branca, colocá-lo em ameaça é colocar em ameaça os animais e a vegetação que desfrutam de seus proventos e também o rio Tarumã Açu, que recebe água limpa através dele. O desmatamento já mostra resultados, uma vez que, caso de exposição de animal silvestre é notificado.
“Toda vez que se desmata intensamente e em grandes áreas os animais ficam desorientados. Tem aparecido animais aqui que nós não viamos, por exemplo, era muito difícil a gente ver tamanduá. Recentemente entrou um tamanduá na casa de um vizinho nosso aqui e os cachorros mataram o tamanduá e o tamanduá matou um dos cachorros. Então, esse tipo de incidente a gente ainda não havia verificado…”