Receber o diagnóstico de um câncer não é nada fácil. Quando se trata de câncer de mama, para a mulher a doença não traz apenas efeitos colaterais físicos, mas também psicológicos. A queda do cabelo e a retirada da mama costumam abalar a autoestima da mulher. Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) apontam que o câncer de mama é o tipo mais comum entre as mulheres depois do câncer de pele não melanoma. Esse tipo de tumor é o mais frequente na população feminina com cerca de 57 mil casos todos os anos no Brasil.

Apesar das altas taxas de mortalidade no Brasil, o diagnóstico precoce e o tratamento oportuno podem salvar a vida de muitas pacientes. Diante disso, hoje vamos conhecer a história de duas mulheres que ajudam a quebrar barreiras da desinformação, do preconceito e do medo, e relatam como a doença mudou as suas vidas e hoje são referências de lição de vida.

Michele Nogueira, 53 anos, aposentada

Sinônimo de força e determinação, a aposentada Michele Nogueira relata que sobreviveu ao câncer de mama com muito amor no coração e fé em Deus. Hoje, Michele enxerga as suas cicatrizes como provas eternas do que passou e venceu. Com o nódulo diagnosticado ainda na fase inicial, Michele tomou decisões rápidas desde o resultado positivo da biópsia sempre alegando que só tinha uma coisa ao seu favor: o tempo. Vítima de três erros médicos, Michele relembra que identificou o nódulo por meio do autoexame. Logo resolveu se deslocar para uma clínica em Manaus, onde o médico não identificou nenhuma gravidade afirmando que seria apenas um cisto de água. No entanto, mesmo com a afirmação, insistiu e declarou que queria retirá-lo por não ter nascido com ele.

Foto: Acervo pessoal

“Era uma montanha-russa. Dava negativo, positivo, negativo, positivo”, afirma Michele ao declarar que foi vítima de uma sequência de erros que não identificavam o nódulo mas, logo em seguida, teve a confirmação: positivo. Com o apoio do seu pai, Michele decidiu ir à São Paulo para iniciar tratamento e lá, o médico declarou que teria que operá-la o mais rápido possível. “Me internei, operei e já contratei um cirurgião plástico para fazer a reconstrução. Aliás, não aconselho ninguém a fazer isso pois deu errado. Na cirurgia ele tirou o nódulo e já entrou o cirurgião para a reconstrução. Fiquei horas sentindo muita dor, mas era por causa da cirurgia plástica”.

Michele ficou quase dois meses fazendo radioterapia, tratamento no qual se utilizam radiações ionizantes para destruir ou impedir que as células do tumor aumentem. Com o sonho de ser mãe, quando fez a última sessão de radioterapia, o médico deu a notícia que quando fosse feita a quimioterapia o seu ovário seria afetado. “Ele me deu a sugestão de tirar o ovário e congelar para uma possível tentativa de ter filhos. Até conversei com ele que, quando essa história toda acabasse eu estaria com 50 anos por serem 10 anos para poder dizer que estou curada. Ele disse que eu estaria com 50, mas o ovário continuaria com 40”.

Criada por pai solteiro e mais dois irmãos, Michele destaca o apoio essencial de sua família que, desde o diagnóstico até durante as dificuldades do tratamento, esteve ao seu lado a amparando e apoiando em todos os momentos. Na época, por seu pai já ser idoso, Michele tentava ao máximo não demonstrar qualquer dificuldade e privá-lo de preocupações. Quando estava no centro cirúrgico para retirar o ovário, o pai ligou e ela disse que estava no shopping.

Foto: acervo pessoal

“Doutor, eu vim resolver um problema, não vim passear. Não tenho tempo a perder”, disse Michele ao médico após o mesmo ter ficado surpresa com a sua determinação e decisões rápidas. “Durante todo esse processo, eu nunca fui para a internet resolver nada. Fiquei com medo de ficar sugestiva. Eu sabia que era uma coisa séria, que era grave, que podia me levar a óbito, mas nunca fui para a internet. Até hoje nunca fui. Eu sei o que eu passei. Não desejo para o meu pior inimigo. Não é fácil. Na quimioterapia eu fiquei cheia de hematomas, perdi os meus cabelos, emagreci muito”.

Além de toda essa batalha, Michele ainda lutou contra uma alergia química adquirida durante a quimioterapia junto com uma vasculite, uma infecção nos vasos sanguíneos. “Começaram a aparecer umas feridas em carne viva. Parecia que estava com leishmaniose no corpo inteiro. Ficava vermelho, parecia que tinha jogado água quente. Nos dois pés foi onde demorava mais para cicatrizar, pois era onde eu mais me movimentava. Não chegou a infeccionar, mas fiquei quase um mês no quarto deitada. Quando eu ia ao banheiro, deixava um rastro de sangue pelo caminho. Mas eu não suspendi o tratamento”, expôs.

Michele relata que na sua família ser diagnosticado com câncer era algo hereditário. Após a sua primeira quimioterapia, o seu irmão mais velho que a acompanhou em São Paulo resolveu fazer alguns exames e também foi diagnosticado com câncer. “Ele fez a cirurgia e não precisou fazer a quimio pesada. Ele fez uma quimio não-injetável, foi algo mais leve. Ele monitora até hoje”

Foto: Adriano Fernandes/Amazônia Press

Mesmo com toda a sua trajetória, Michele declara que o pior momento que passou foi quando o seu pai veio a óbito 1 ano após o seu diagnóstico após a detecção de câncer no estômago. “Meu pai foi fumante durante muitos anos. Ele estava doente já tinha uns dois anos e ninguém descobria o que era. Eu vi quando ele cuspiu um negócio meio preto, aí perguntei da minha madrasta se ele havia tomado açaí, mas não: era sangue. Fizemos exames, biópsia e ele estava com câncer de estômago. EU fiz um ano de tratamento e enterrei meu pai”, disse com muita emoção. “Ele chegou a fazer quatro quimioterapias, mas infartou”.

“Eu consegui seguir em frente, era o que ele esperava. Eu nunca me entreguei. Fiz seis quimioterapias pesadas e doze leves, foram quase dois anos com o tratamento acirrado. Eles só dizem que você está curado com dez anos. Cheguei nos dez anos em plena pandemia. Agora já são doze anos”, finalizou.

Margareth Vasconcelos da Fonseca Lima, 64 anos, aposentada

A chegada do câncer de mama abalou psicologicamente a aposentada Margareth Vasconcelos da Fonseca de Lima, de 64 anos, que declara que quando recebeu o diagnóstico ficou muito triste e arrasada. Em 2005, foi detectado um câncer na mama direita de Margareth. Foi feita a mastectomia, mas não teve a necessidade de radioterapia ou quimioterapia. Segundo ela, a cura havia sido de 100% e estava na Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon) há 10 anos apenas fazendo o controle para ter alta. Até que, em janeiro de 2020 sentiu um desconforto na mama esquerda na hora de estava no chuveiro, enquanto estava de férias em Santarém (PA).

“Fiquei preocupada, não sentia nada a não ser isso. Aí voltei para Manaus, fiz uns exames de rotina: mamografia e ultrassom mamária. Quando vi os exames, eles estava lá. Marquei outra consulta e foi diagnosticado realmente que era o câncer de mama e ainda tinham três linfonodos na axila, um desses comprometido. Foi marcado o pré-operatório e tudo. Fui fazer a cirurgia e todos os nódulos foram para a biópsia”, declarou.

Após o segundo diagnóstico, Margareth teve que fazer radio e quimioterapia. “Foram 24 quatro sessões de quimioterapia e depois que terminei, deu o intervalo de um mês, fui fazer a radioterapia. A radioterapia me deixou com algumas sequelas, fiquei com algumas queimaduras no pescoço, na axila e na mama. Com o tempo tudo foi se curando. Não posso pegar sol de jeito nenhum. Na quimioterapia, caiu o meu cabelo, fiquei muito triste e angustiada com a queda, mas graças a Deus já está crescendo bem bonito”.

Foto: acervo pessoal

“Hoje tento conviver com isso. Em junho vou fazer os exames para confirmar a cura. Há uns quatro meses estou tomando hormônio e esse mês jé é o último. Graças a Deus não estou sentindo nada, a única sequela que tem é que sinto muitas dores no corpo, mal-estar e falta de energia. Mas é tudo da quimio e da radioterapia. Agora eu tô bem, esperando somente os exames. Estou indo direto com um oncologista do FCecon. Gosto muito de lá, é um hospital de referência”.

No primeiro diagnóstico, Margareth revela que sentiu um baque. No segundo, também ficou muito abalada pois pensou que nunca mais passaria por essa situação. “Pensei que nunca mais aconteceria isso comigo e aconteceu. Fiquei muito abalada, mas depois fui me acalmando e agora tô bem melhor. Tem dias que eu choro, me dá uma tristeza, a gente vê que fazia as coisas e agora não pode mais fazer certas coisas ou certos movimentos”

Durante todo o processo, Margareth agradeceu muito o apoio de seu marido nesse momento. De acordo com ela, muitas mulheres que fazem a mastectomia são deixadas de lado pelos seus maridos. “Geralmente, quando a mulher tira a mama o marido a abandona. Tô todo esse tempo do Cecon e é muito difícil a gente ver um marido acompanhando a esposa na porta do médico. Pois o meu marido me acompanhou em quase todas as quimioterapias, radioterapias. Ele também é uma pessoa muito receptiva, ele que conversou com a médica que não tinha problema de tirar a minha mama, que eu ia continuar a mesma pessoa”, pontuou.

Foto: acervo pessoal

No próximo dia 23, Margareth dará início às sessões de fisioterapia por gostar muito de fazer crochê e não conseguir por conta das dores. “As minhas mãos começam a adormecer e eu tenho que parar. É muito ruim, mas estou seguindo com o tratamento. Não tem hora ou dia para terminar”, destacou.

Outubro Rosa

Considerado o mês da prevenção e conscientização sobre o câncer de mama, o Outubro Rosa auxilia na desmistificação da doença e permite que as mulheres se previnam e recebam um diagnóstico precoce. O Outubro Rosa é um movimento internacional de conscientização para a detecção precoce do câncer de mama e criado no início da década de 1990.

O objetivo do Outubro Rosa 2021 é divulgar informações sobre o câncer de mama e fortalecer as recomendações do Ministério da Saúde para prevenção, diagnóstico precoce e rastreamento da doença. O período é celebrado no Brasil e no exterior com o objetivo de compartilhar informações e promover a conscientização sobre o câncer de mama, a fim de contribuir para a redução da incidência e da mortalidade pela doença.