Foto: Unicef/ONU
Caracterizado por dificuldades na comunicação e interação social, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) também pode envolver outras questões como comportamentos repetitivos, interesses restritos, problemas em lidar com estímulos sensoriais excessivos – seja som alto, cheiro forte ou, até mesmo, multidões – dificuldade de aprendizagem e aceitação de rotinas muito específicas.
Conforme levantamento divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, comemorado nesta terça-feira (2), o autismo afeta uma em cada 100 crianças em todo o mundo. A data foi criada em 2007 pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de difundir informações sobre essa condição do neurodesenvolvimento humano e reduzir o preconceito que cerca as pessoas com TEA.
Em Manaus, existem inúmeras associações e instituições que buscam sensibilizar a sociedade amazonense para a causa da pessoa autista, como é o caso da Associação Mães Unidas pelo Autismo (AMUA). A Associação iniciou as atividades em 2018 e tem como principal atividade a Defesa de Direitos Sociais, assistir, promover e valorizar as pessoas autistas e com Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).
Em entrevista ao portal Amazônia Press, a presidente-fundadora da AMUA, Núbia Nascimento Brasil, declarou que esse é um dia de suma importância para comemorar e agradecer a luta que gerou essa a data alusiva, um dia onde é possível usar a criatividade para informar sobre o assunto.
“São 365 dias do ano que nós temos que falar mesmo sobre o autismo, a dificuldade, o respeito e entre outros detalhes. Mas esse dia exclusivo, dia 2 de abril, é um dia que a gente pode enfatizar mais sobre a liberdade dessas pessoas, visto que, no passado muitos autistas infelizmente viviam trancado em quartos, em casas. A gente ainda vê isso hoje, mas bem pouco em relação a antigamente. Eu vejo esse dia como um marco de liberdade, é algo que eu comemoro sim em gratidão aos ativistas do passado que lutaram para que existissem leis que reconhecessem essas pessoas como Pessoas Com Deficiência (PCD) para que tivessem todos os direitos legais. Está certo que a gente ainda anda em passos lentos, mas eu vejo que o fato de a gente falar mais sobre o assunto é algo que acaba resultando na quebra de tabu. O autista tem condições de estar em qualquer lugar e exercer qualquer função, ele é capaz, o que temos que fazer é respeitar. Não existe receita, não existe mistério, o fato de você respeitar você consegue entender, compreender e ajudar, né? É é isso que que eu sempre falo”, pontuou.
Atualmente em Manaus são cerca de 80 pessoas, entre crianças, jovens e adultos que recebem terapias multiprofissionais e aproximadamente 1.500 pessoas acolhidas através dos grupos de whatsapp que a AMUA administra.
“Logo que a gente fundou, o nosso objetivo era de lutar pelo direito dessas pessoas, pela efetividade das leis. Só que a gente viu também a necessidade do atendimento com relação às terapias e a AMUA só poderia seguir em frente se a gente tivesse condições de manter. Nós somos independentes de governo e o nosso sustento vem através da taxa que a gente cobra aqui e aí oferecemos os atendimentos. A gente entende que nem todas as pessoas podem pagar, mas também entendemos que se formos trabalhar dependendo de verba governo e verba federal, vamos ficar como SUS [Sistema Único de Saúde] sempre parando, faltando atividade, atendimento e a gente entende que o autista precisa de terapia para o resto da vida”, frisou.
Mãe do pequeno Bernardo, de 10 anos, diagnosticado com TEA, Cleyse Silva Pereira conversou com o portal Amazônia Press sobre como foi o processo do diagnóstico e o que mais mudou na sua vida após ele.
“Desde quando era bebê meu filho não acompanhava os marcos de desenvolvimento de interação que eram esperados. Ele não balbuciava, não virava a cabecinha para olhar quando era chamado, inclusive, cheguei a pensar na época que pudesse ser alguma questão auditiva. Na escola e nos lugares que frequentavamos ele não tinha interesse por outras crianças, sempre gostava de brincar sozinho, e o meu filho não desenvolveu a fala no tempo esperado. Bernardo começou a se comunicar verbalmente aos 4 anos de idade. No início, foi um alívio saber que não era culpa da nossa criação, que realmente algo não estava da maneira esperada e precisávamos de ajuda profissional. Receber um diagnóstico nos ajudou a entender melhor nosso filho e ajudá-lo”, declarou.
De acordo com Cleyse, após o diagnóstico se tornou uma mãe melhor para o seu filho por acreditar mais no potencial dele e se fazer muito mais presente. Além disso, ela também falou sobre a importância da participação da família nesse processo.
“O Bernardo hoje é um pré-adolescente que precisa de auxílio nas interações sociais, pois ele não tem filtro e fala tudo que vem na cabeça dele. Ele faz terapia com psicopedagogo e estuda em uma escola capacitada para lidar com pessoas portadoras de autismo. A família é a base solida que luta pela inclusão, respeito e validação de pessoas com autismo. Acredito que meu filho não teria tanto sucesso sem que nós lutassemos tanto por ele e por seus direitos”, concluiu.
Carteira de Identificação da Pessoa com TEA
Até a próxima sexta-feira (05), a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc) em parceria com a Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) estará ofertando emissão da Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CIPTEA).
A carteira é um direito garantido pela Lei estadual nº 5403/2021, que vale para todo território nacional e garante ao autista o atendimento prioritário em todos os segmentos de serviços públicos e privados, em especial nas áreas da Saúde, Educação e Assistência Social.
Os documentos necessários para emissão da CIPTEA são: 01 Foto 3×4, RG e CPF, comprovante de endereço, laudo médico com Classificação Internacional de Doenças (CID), descrição do médico que acompanha a PcD pelo sistema SUS. O atendimento será realizado das 08h às 12h no Hall da Aleam localizada na Avenida Mário Ypiranga, bairro Flores.