Luiz Castro Advogado,Professor,Consultor. Casado | Família | Fé e Amor # Políticas Públicas # Direitos # Sustentabilidade. Crédito: Divulgação

No debate presidencial de 1994, Leonel Brizola respondeu de modo contundente a Fernando Henrique Cardoso, quando este o questionou sobre o alto custo das escolas de tempo integral –os CIEPS –a mais ousada experiência de política pública na área de
Educação já realizada em nosso país. Brizola respondeu que “cara” é a ignorância e que no
Brasil não haveria não há nenhuma outra prioridade acima de uma escola pública realmente vocacionada para transformar a vida da sociedade, propiciando oportunidades verdadeiras para as crianças e os jovens das famílias mais pobres. E citou os países da
Europa Ocidental como exemplos de nações que, ao priorizarem de fato a Educação, se soergueram no período do “Pós-Guerra”, deixando literalmente para “trás” nosso
país, que permanece num patamar inferior de desenvolvimento e com indicadores tenebrosos de desigualdade social.

Brizola não fazia discurso demagogo sobre a Educação, que foi de fato prioridade para ele, que agiu de modo pioneiro e efetivo nesta direção desde sua primeira gestão como governador do Rio Grande do Sul, antes do regime militar. Na época, seu governo construiu e implementou mais de 5.400 escolas, em todos os municípios do estado, que no eixo Sul-Sudeste, antes de Brizola governar, era o que mais crianças e jovens ficavam fora da escola, com grande índice de analfabetismo. Depois de seu governo, o Rio Grande do Sul se tornou o Estado brasileiro com maior índice de escolarização!
Após o regime militar, depois de seu retorno do exílio, com a redemocratização, Brizola foi eleito governador do Rio de Janeiro.
E designou Darcy Ribeiro como Secretário Estadual de Educação. Foi aí que iniciaram a construção e implementação dos CIEPS (Centros Integrados de Educação Pública), num programa inovador de escolas em tempo integral, com ensino de qualidade, alimentação
balanceada, assistência médica e odontológica, esporte, cultura e cursos profissionalizantes.
Naquela época não havia nada parecido com a determinada iniciativa de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, uma dupla de brasileiros que ousou o que ninguém mais ousou: propiciar ensino de primeiro mundo para os estudantes das famílias mais pobres do Rio de Janeiro, principalmente os moradores das favelas. A determinação deles foi tão grande, que no Estado do Rio de Janeiro o investimento anual em Educação chegou a alcançar mais de 42% do orçamento anual! Jamais outro governante foi tão longe na decisão de priorizar uma Educação transformadora da vida dos mais vulneráveis.
No nosso país as escolas em tempo integral têm sido implementadas como exceção à regra. E poucas propiciam a qualidade de ensino dos CIEPS de Brizola e Darcy. Na última década houve um aumento relativo do número dessas escolas, mas a maioria ainda não desenvolve um verdadeiro ensino integral, a começar pela valorização dos profissionais da
Educação. Não basta ter estruturas grandes e abrangentes, se o sistema educacional é falho e precário e as condições de suporte alimentar, médico e odontológico estão longe do necessário.
Recentemente o governo federal anunciou uma intensificação do programa de escolas em tempo integral e o presidente Lula fez um pronunciamento reconhecendo o legado de Leonel Brizola. Este reconhecimento público, ainda que tardio, deveria permear toda
a população brasileira, que ainda não percebeu que um sistema de ensino público deficiente e excludente, ao invés de contribuir para diminuir as desigualdades sociais,
as reproduz e até as aprofunda.
Os países da Europa Ocidental após a 2ª Guerra Mundial, assim como o Japão e, um pouco mais tarde, a Coreia do Sul, promoveram seus pactos pela Educação, complementados por bons programas de investimento em Ciência e Tecnologia. O Brasil ainda está muito longe disso e as consequências desse atraso são cada vez mais patentes: distribuição injusta de oportunidades de trabalho, renda, moradia, ensino e uma situação de violência sem
igual, especialmente nos bolsões de maior pobreza. O chamado País do Futuro se tornou no presente, um país de desesperança e decepção para muitos brasileiros.
Houve avanços parciais, mas o modelo de desigualdade continua o mesmo, governo após governo.
É fundamental que o legado de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro seja resgatado, como referência norteadora e inspiradora para o Brasil se tornar um país mais justo, menos desigual, mais pacífico, menos violento, verdadeiramente desenvolvido.