A concessionária de energia elétrica Amazonas Distribuidora Energia foi colocada à venda e está em busca de comprador ou de novos sócios. Fontes que entraram em contato com o Scoop, alegam ainda que alguns agentes do setor e investidores financeiros tem se interessado pela oferta. Os controladores da Amazonas Energia querem acertar a venda total ou parcial da distribuidora até o final do ano, mas as conversas ainda estão em estágio inicial, segundo as fontes. Os valores não foram divulgados.
Conforme as informações, uma saída para as dificuldades financeiras da Amazonas seria positiva inclusive para a Eletrobras, que precisou fazer provisões depois que a distribuidora deixou de pagar parcelas de uma dívida com a companhia, destacaram as fontes, que pediram anonimato porque a potencial operação ainda não é pública.
A busca pelos investidores financeiros para a Amazonas Energia é analisada pelos controladores como forma de evitar que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) recomende a cassação da concessão da empresa para operar, em decorrência dos problemas financeiros e de qualidade do serviço oferecido pela concessionária, disseram fontes.
A Aneel aprovou, no dia 1º de novembro, o reajuste tarifário anual de 2022 da Amazonas Energia. As tarifas dos consumidores amazonenses terão aumento médio de 4,38% mas, o efeito será de 5,71% para os consumidores de alta tensão e de 3,74% para os da baixa tensão. No entanto, Amazonas Energia só poderá cobrar a nova tarifa dos consumidores quando pagar o que deve e áreas técnicas da Aneel constataram que a distribuidora amazonense está inadimplente com suas obrigações setoriais.
O BTG Pactual foi contratado, segundo uma fonte, para apoiar a operação de venda da companhia. A Equatorial Energia, companhia especializada em recuperar distribuidoras em dificuldades, também é vista como potencial interessada na Amazonas, disseram duas fontes. As recentes aquisições da Equatorial envolvem a Enel Goiás e das antes estatais CEA, do Amapá, e CEEE-D, do Rio Grande do Sul.
Recentemente, o portal de notícias Amazônia Press recebeu em primeira mão as informações de que a concessionária de energia Amazonas Energia, na pessoa do vice-presidente Orsine Rufino Oliveira, perdeu definitivamente a concessão no Estado. A empresa foi arrematada, por meio de leilão, em dezembro de 2018 pelo consórcio formado pela Oliveira Energia, empresa que opera nos Sistemas Isolados na Região Norte, e a distribuidora de petróleo Atem. Vale ressaltar que a Atem não faz mais parte do Consórcio Oliveira Atem, tendo saído em 2019.
No dia 11 de abril de 2019, a união por intermédio da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), transferiu o controle acionário da Amazonas Distribuidora de Energia S.A. para o consórcio Oliveira Energia (Atem), representada através do contrato de Concessão nº 01/2019 com vigência até 10 de abril de 2049, passando a Eletrobras Distribuição Amazonas a se chamar Amazonas Energia. Desde então vem atuando em todo o Amazonas.
A equipe de jornalismo do portal Amazônia Press entrou em contato com a assessoria de comunicação da Amazonas Energia, da Eletrobras e da Aneel em busca de mais esclarecimentos, mas até o momento não obtivemos retorno.
Assédio moral e coação eleitoral
Além disso, eles também denunciam o não cumprimento das recomendações de políticas internas da empresa, visto que, com o apoio do maior acionista e vice da concessionária, os então candidatos a deputado estadual Radyr Oliveira, também Diretor Técnico do Interior, e deputado federal Orsine Júnior (PSD), filho de Orsine Rufino, “fizeram a festa” nas vésperas do primeiro turno das Eleições e usaram a terceirizada como palanque eleitoral.
Um dos relatos aconteceu no momento em que a empresa construiu uma nova estrutura física para funcionamento da sua sede, localizada no bairro de Flores. De acordo com a denúncia publicada no jornal do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Estado do Amazonas (STIUAM), o acionista majoritário da empresa apresentou o referido local através de uma transmissão ao vivo, mostrando o local como se fosse um “paraíso/céu”, mas alega que os trabalhadores passam pelo inferno, por sobrecarga de trabalho, situações vexatórias e pressão psicológica em nome da garantia do emprego.
Na nova sede há uma estrutura com a imagem da Sagrada Família que é monitorada por câmeras, e colaboradores costumam passar pelo local com frequência, seja para ir aos toaletes ou se deslocarem para outros departamentos para cumprirem suas demandas. Os mesmos são abordados para saberem o motivo de estarem circulando pelo local, sendo motivo de assédio até mesmo parar para tirar foto da imagem. As pessoas são abordadas e questionadas sobre qual sua função na empresa ao passarem pela Sagrada Família e muitas vezes após responderem escutam um: “Só isso! Você tem que produzir mais porque ganha muito!”.
“Lamentavelmente, estamos presenciando um grande retrocesso em termos comportamental da gestão da empresa, que usa como método o assédio no ambiente de trabalho, usando metodologias que afetam negativamente os aspectos físicos e psicológicos dos trabalhadores. O Sindicato está de olho nessa situação e estará sempre em defesa dos trabalhadores, assim como não se furtará em denunciar o assédio nos fóruns cabíveis e legais”, diz o comunicado.
A família é sagrada, mas o almoço dos funcionários não. Outra condição imposta aos trabalhadores é a proibição de almoçar em suas salas, mesmo o novo espaço não tendo como acomodar todos os funcionários ainda que hajam turnos para que os mesmos almocem.
“Não cabem todos no espaço do refeitório mesmo com escalas de horário. As fichas para acesso ao local são limitadas, e quem leva comida de casa para esquentar sofre na fila do microondas, tem que comer na pressa e se passar do horário de almoço e você não consegui almoçar, vai ficar com fome já que é proibido comer na mesa de trabalho ou qualquer outro lugar sem ser ameaçado de demissão”, contou um empregado.
Denúncia de compra de votos
Em setembro deste ano, o portal de notícias Amazônia Press recebeu uma denúncia sobre um vídeo que circula nas redes sociais que mostra efetivamente o maior acionista da concessionária Amazonas Energia, Orsine Rufino Oliveira, manifestando pedido de voto para os candidatos a deputado estadual Radyr Oliveira, que também é Diretor Técnico do Interior, e deputado federal Orsine Júnior (PSD), filho de Orsine Rufino.
No vídeo, Orsine Rufino Oliveira afirma que os candidatos mencionados são dois guerreiros que vestem a camisa do time. Também pontua que tem certeza de que ambos vão proteger a empresa e as famílias dos empregados. Por fim, diz ainda que precisa de apoio político, algo necessário para que a empresa possa prestar melhor serviço às comunidades.
A declaração de apoio por parte do acionista vai contra as políticas da Companhia e o Código de Conduta e Ética da concessionária, uma vez que a concessão é pública e regida por regras da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
A política de conflitos de interesse da concessionária abrange todos os colaboradores, independente de cargo ou função: sejam eles membros do Conselho de Administração e Fiscal, diretores, inclusive terceiros com os quais a companhia mantém ou venha a ter alguma relação. Para ter acesso às políticas elaboradas pela empresa Amazonas Energia, acesse o site www.amazonasnergia.com
Um comunicado divulgado internamente em forma de alerta sobre os riscos de manifestação em período eleitoral foi transgredido pelo próprio dono, Orsine Rufino Oliveira. A informação, incluindo a captura de tela do comunicado, foi enviada pelo denunciante ao portal de notícias Amazônia Press.
Leia o comunicado abaixo:
A denúncia recebida apresenta fotos e vídeos da participação explícita da Amazonas Energia na campanha dos candidatos Radyr Gomes Oliveira e Orsine Junior, envolvendo inclusive promessas de eletrificação rural. Os candidatos indicados pelo acionista Orsine Rufino Oliveira estão percorrendo juntos os municípios do Amazonas pedindo votos em troca de melhorias em suas comunidades. Vale ressaltar que não cabe exclusivamente a empresa a implementação, mas das prefeituras que precisam abrir os ramais e o suporte mínimo para que os caminhões da Amazonas Energia possam entrar nas comunidades.
Recebemos ainda, denúncia sobre distribuição de cestas básicas neste ano eleitoral, com o intuito de beneficiar os dois candidatos. A distribuição de cestas básicas é financiada pela Amazonas Energia, por meio do Projeto Energia Solidária. Por meio de fotos, há evidências de que o vereador de Novo Airão, Venâncio Guimarães (MDB), entregou cestas básicas às comunidades da região, o que pode ser comprovado em suas redes sociais. Além disso o vereador divulga frequentemente ações realizadas com parceria da Amazonas Energia, em suas postagens ele usa o slogan “A ENERGIA QUE FALTAVA CHEGOU”.
Uma das empresas que mais aumentaram a conta de energia em 2021
O aumento de quase 16% da conta de energia elétrica em 2021 pesou no bolso do amazonense e fez o Amazonas se destacar como um dos estados com o maior aumento em todo o país. Conforme dados da Superintendência de Gestão Tarifária (SGT), da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a tarifa média paga era de R$ 0,80 por quilowatt-hora (kWh) em 2021, porém em 2020 o valor estava em R$ 0,69 kWh.
De acordo com o Programa Estadual de Proteção e Orientação do Consumidor (Procon-AM), a concessionária de energia também se destaca em reclamações no órgão de defesa do consumidor. Na semana passada, foi realizada uma audiência pública na Câmara Municipal de Manaus (CMM) para debater os problemas ocasionados pela instalação de novos medidores de energia elétrica em alguns bairros da capital.
Na ocasião, o então vice-presidente da Amazonas Energia, Radyr Oliveira, afirmou que os clientes não leem a própria conta de luz, ignorando o fato de que, embora estejam descritos na conta de energia os valores de cada cobrança parcial, o que pesa no bolso do cidadão é o valor final.
“Na maioria das vezes, o cliente não lê a conta de energia, ele vê apenas que sobe o valor da conta. E poucas vezes, quando vai vencer. Isso é fato”, afirmou.