No segundo turno das eleições em Manaus, Wilson Lima se vê isolado e sem aliados significativos. Em um momento crucial para definir apoios e alianças, o atual governador está excluído do processo eleitoral. A derrota de seu candidato apadrinhado, o deputado estadual Roberto Cidade (União Brasil), que ficou em quarto lugar no primeiro turno, simboliza o enfraquecimento de sua influência.
David Almeida (Avante) liderou com 354.596 votos, correspondentes a 32,16%, enquanto Capitão Alberto Neto (PL) obteve 275.063 votos, ou 24,94%. Com os dois no segundo turno, a política manauara vive momentos decisivos de articulação, onde as alianças são cruciais, mas ninguém parece querer a proximidade de Lima.
A queda de Wilson Lima
A distância de Wilson Lima de David Almeida foi um dos fatores que contribuíram para a perda de sua relevância no cenário político local. Além disso, o governador enfrenta um desgaste crescente, não apenas por se afastar de lideranças políticas importantes, mas também por estar na mira do Ministério Público do Amazonas, que investiga suposta compra de votos e manipulação eleitoral no interior do estado.
O deputado federal Amom Mandel (Cidadania) fez questão de enfatizar essa situação durante uma coletiva de imprensa na última quarta-feira (9), quando declarou que prefere não associar sua imagem ao governador, sendo direto ao afirmar: “Porque o Wilson é corrupto“. Essa declaração ecoou como um golpe no já fragilizado cenário de Lima.
Isolamento completo
Completamente desvinculado de Wilson, David Almeida busca reeleição construindo pontes com vereadores, deputados e políticos que não possuem envolvimento em escândalos, reforçando a narrativa de distanciamento do atual governador. Por outro lado, Capitão Alberto Neto forma alianças com figuras que se posicionaram contra o governo de Lima, como Wilker Barreto (Mobiliza) e o próprio Amom Mandel, conhecido por sua postura ativa no combate à corrupção.
O governador, outrora visto como uma força política em ascensão, agora se encontra politicamente isolado. Candidatos ao governo preferem manter distância e construir suas campanhas longe da sombra de Lima, evitando qualquer associação que possa manchar suas candidaturas com os escândalos de corrupção que o cercam.
O passado não volta
Em 2018, Wilson Lima surpreendeu ao derrotar o veterano Amazonino Mendes, um dos maiores políticos da história do Amazonas. Apesar de sua total inexperiência política, Lima conseguiu se eleger governador em seu primeiro cargo eletivo. Contudo, sua trajetória começou a ruir logo em 2020, quando foi alvo de investigações por comprar respiradores em uma loja de vinhos, em plena crise de saúde provocada pela pandemia de Covid-19. Enquanto o estado entrava em colapso, pacientes sofriam com a falta de leitos e equipamentos nos hospitais, e o governador enfrentava manchetes nacionais denunciando sua gestão desastrosa.
Ainda assim, Lima conseguiu manter o controle político, cooptando grande parte da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), incluindo seu aliado mais próximo, o presidente da Casa, Roberto Cidade. Além disso, obteve o apoio de vereadores da Câmara Municipal de Manaus (CMM), como Caio André, então presidente da casa.
Lima também construiu uma sólida base política no interior, atraindo o apoio de 41 dos 62 prefeitos dos municípios amazonenses, consolidando um grupo político forte. Em menos de seis anos, o governador conquistou poder e influência que muitos levam décadas para alcançar. Porém, esse rápido crescimento foi acompanhado por uma decadência igualmente acelerada.
O presente e o futuro sombrio
Hoje, Wilson Lima enfrenta a realidade de um governo desgastado, acusado de envolvimento com corrupção e isolado politicamente. Além das investigações do Ministério Público, surgem rumores de que seu envolvimento com o chamado “QG do Crime”, onde gravações e áudios comprometem diretamente sua gestão, pode levar à cassação de seu mandato.
Fontes próximas ao governador relataram que ele tem demonstrado sinais de abatimento e depressão com as atuais circunstâncias, isolando-se ainda mais no cenário político. Sua ambição de manter relevância até 2026, quando pretende influenciar novamente nas eleições, parece cada vez mais distante, dependendo apenas de alguns poucos aliados estaduais que ainda não romperam com sua figura.
Enquanto seus adversários se preparam para o segundo turno, a figura de Wilson Lima vai se apagando, ficando marcada por escândalos e pela perda de apoio, até mesmo daqueles que, no passado, o ajudaram a construir sua meteórica ascensão ao poder.