Vera Fischer ainda era uma adolescente quando conquistou o país, precisamente, em 28 de junho de 1969, quando a catarinense, nascida em Blumenau, em outubro de 1951, foi coroada Miss Brasil, recebendo a faixa de Martha Vasconcellos, em Miami, nos Estados Unidos.
É ao título, inclusive, que ela credita a guinada em sua trajetória, já que, até ali, queria ser professora. No entanto, três anos depois, já dava o ar da graça no cinema, no filme “Sinal Vermelho: As Fêmeas”, de Fauzi Mansur. Na sequência, vieram outros cinco filmes – “A Superfêmea”, “Anjo Loiro” e as “Delícias da Vida”, em 1973; “Essa Gostosa Brincadeira a Dois” e “Macho e Fêmea”, de 1974 – até a loira conquistar o primeiro prêmio como atriz, o APCA, por “Intimidade”.
Em 1981, veio o Air France de Cinema, e em 1982, o Candango, do Festival de Brasília, por “Amor, Estranho, Amor”. A trajetória no cinema nunca parou: até hoje, foram 21 produções. Além disso, Vera Fischer também foi homenageada com o Prêmio Sesc, em 2017, e, dois anos depois, com o Festival de Vitória e o prêmio The Winner Awards.
Vera confessa que é difícil escolher um trabalho favorito, mas cita algumas produções que foram especiais. “Fiz ‘Bonitinha, Mas Ordinária’, de Braz Chediak, baseado na obra de Nelson Rodrigues (vivendo a personagem Ritinha); ‘Intimidade’ (de Michael Sarne e Perry Salles), que me rendeu o prêmio (já citado). ‘Navalha na Carne’ (de Neville D’Almeida, de 1997), baseado na obra do Plínio Marcos, também foi um grande trabalho. Tem muita coisa boa, é difícil destacar um”, diz.
Embora tenha feito muito cinema, foi na TV que alcançou mais projeção. Após a estreia em “Espelho Mágico” (1977), marcou presença em “Sinal de Alerta” (1978), “Os Gigantes” (1979), “Coração Alado” (1980) e “Obrigado, Doutor” e “Brilhante” (1981), pela qual, aliás, foi indicada ao Troféu Imprensa de Atriz. Como a protagonista Luíza, também deu o que falar ao surgir com os cabelos curtos, cacheados e mais escuros.
O auge na televisão, porém, veio nos anos 2000 em “Laços de Família”, de Manoel Carlos. “Foi o grande momento dela, já uma atriz de beleza madura e muito consciente do que estava fazendo, do tamanho do papel e da responsabilidade que encarava ali”, pontua o professor universitário e especialista em telenovelas Reynaldo Maximiano.
E sim, o folhetim está entre as produções favoritas da atriz na TV. “Posso citar três momentos, um deles, a minissérie ‘Riacho Doce’; outro, a também minissérie ‘Desejo’, e ‘Laços de Família”, conta. Segundo Maximiano, é interessante como os papéis de Vera em novelas traziam personagens “dentro da curva”, com histórias de superação ou romance, por exemplo. “Já as minisséries propiciaram coisas mais fora da casinha”, pontua ele, citando a Alice, de “Agosto”. “Ela é alguém que fala muito com pouco texto. Uma mulher viveu um casamento por interesse enquanto queria outra coisa para sua vida. Mas esse desejo, em vez de explodir, implode. Ela termina a história em um manicômio. É uma produção que tem essa coisa extremamente frágil e sensível. Há a expectativa de que a personagem saia disso, mas ela não sai”.
No teatro. Vera Fischer também tem uma trajetória marcante no palco, onde interpretou clássicos como “Macbeth”, de Shakespeare; “A Primeira Noite de Um Homem”, adaptação de Miguel Falabella para o romance de Charles Webb, e “Desejo”, produzida pela própria atriz.
O crítico teatral Miguel Arcanjo Prado salienta: “Vera Fischer é um ícone deste país chamado Brasil. Não só pela beleza estonteante que sempre nos encantou, mas também pela Inteligência e entrega desmedida ao ofício de atriz. Vera faz parte de nossa memória, de nossos sonhos, de nossos desejos e do que somos”.
Para Maximiano, a experiência teatral da artista, que segue em cena com “Quando Eu For Mãe Quero Amar Desse Jeito”, que veio a BH este ano, e pode ser uma das justificativas para a forte conexão de Vera com o público, evidenciada pela presença dela nas redes sociais. “Ela interage, responde. Isso é algo que vem muito do artista de teatro, que vivencia o calor do público. Ela tem esse jogo”, observa.
Não por acaso, a artista “se joga” nas redes, conversando com seguidores: posta de selfies a dicas de livros e filmes, além de flashbacks da carreira, com a hashtag #tbtdavera.
“Completa”. Para o pesquisador, trata-se de uma atriz completa, principalmente pela capacidade de atuar em diferentes formatos, dando vida a personagens de todos os tipos. “Vera já transitou por lugares bem complicados. Poderia ter ficado em um espaço de conforto, fazendo madames e vilãs, esporadicamente, mas encarou algumas paradas bem difíceis, com personagens densas”, afirma ele, destacando, inclusive, a capacidade de Vera de se dar em diferentes enredos e contextos. “Ela tem um tipo que ficou muito associado ao drama, até pelas histórias que fez. Mas quando começa a fazer comédia, mostra que tem o tino para esse gênero também. Tem ritmo”, situa.
Relacionamentos
Vera Fischer foi casada com o diretor Perry Salles de 1972 a 1987: em 1979, os dois tiveram Rafaela Fischer, atriz, hoje com 43 anos. Em 1988, casou-se com o ator Felipe Camargo, com que teve Gabriel Camargo, 29 anos. Os dois ficaram juntos até 1995.
Por Jéssica Malta