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A menos de uma semana do início da Copa do Mundo — momento em que amigos e familiares costumam se reunir para ver as partidas de futebol —, o aumento de casos de Covid-19 provocado por novas subvariantes da Ômicron tem reforçado a necessidade de medidas preventivas para evitar ainda mais a proliferação da doença.

Especialistas orientam para os cuidados, que devem ser redobrados, principalmente por grupos mais vulneráveis.

“Idosos, gestantes e pessoas com imunocomprometimentos não devem se expor tanto neste momento. Também é preciso levar em consideração que muitas pessoas convivem com esses grupos. Dessa forma, todas essas pessoas precisam ter cuidados redobrados para evitar a transmissão”, avalia o infectologista e diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Renato Kfouri.

“Com aumento de casos no mundo inteiro, nós voltamos a precisar de cuidados, principalmente para os não vacinados e pessoas com algum grau de imunodepressão. Incluímos ainda crianças que não foram vacinadas, gestantes e indivíduos que têm câncer ou doenças graves — renais, cardíacas ou pulmonares”, acrescenta Marcelo Otsuka, vice-presidente do Departamento Científico de Infectologia da SBPSP (Sociedade Brasileira de Pediatria de São Paulo).

“Outro problema é que, no Brasil, ainda não temos a atualização das vacinas, que ainda não foram liberadas pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]”, afirmou Otsuka. Em nota, a Anvisa informou que não tem data para a liberação.

No último sábado (12) a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde publicou uma nota técnica em que recomenda o uso de máscara pela população e a adoção de outras medidas.

Conforme o documento, entre os dias 6 e 11 deste mês, foram notificados 57,8 mil casos da doença. Com isso, a média móvel de diagnósticos positivos, calculada nesse período, subiu para 8.500, o que representa um aumento de 120% em relação ao índice da semana anterior (3.800).

Principais orientações

Com a alta de casos de Covid, entre outros vírus respiratórios, quais os riscos ao reunir amigos e familiares para assistir aos jogos da Copa do Mundo?

Para o médico infectologista Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista), isso depende muito da avaliação de risco pessoal feita por cada indivíduo.

“Para pessoas com baixa imunidade, consideradas imunossuprimidas, idosos e aqueles com comorbidades, por exemplo, a recomendação é que não frequentem ambientes com aglomeração, em razão dos riscos de transmissão, que estão bastante altos”, alerta o especialista.

Segundo Renato Kfouri, sempre que há períodos de maior transmissibilidade, o risco aumenta.

Dessa forma, a questão não é determinar se as pessoas podem se reunir para um churrasco ou assistir aos jogos em bares ou restaurantes, mas sim verificar se os encontros envolvem indivíduos de grupos mais vulneráveis ou que tenham contato com esse público.

“O cenário atualmente, no entanto, é muito diferente do início da pandemia de Covid-19. Continuamos com estádios e shows, por exemplo, pois a magnitude dessas ondas são muito menores e o risco de gravidade também é menor com a população vacinada. O que devemos frisar é que os grupos mais vulneráveis são maus respondedores às vacinas e precisam ter, nesses momentos, cuidados redobrados para evitar o risco de contágio”, pondera o diretor da SBIm.

Patrícia Baxter, infectologista e coordenadora da equipe de clínica médica do Hospital Leforte da unidade Liberdade, avalia que, diante do aumento de casos, a orientação é evitar ambientes de aglomeração.

“Na eventualidade de estar em locais com muitas pessoas, é importante fazer uso de máscara facial e lavar as mãos corretamente ou higienizá-las com álcool em gel. Em caso de a pessoa apresentar síndromes gripais, persiste a importância de manter o isolamento, usar máscara e realizar o teste de Covid, caso seja possível”, alerta a especialista.

Para Baxter, é importante ainda que a população mantenha atualizado o calendário vacinal contra a doença. “Com todas as doses de reforço em dia, que são preconizadas de acordo com as faixas etárias e grupos prioritários”, lembra ela.

A realização de teste de Covid-19 é recomendável?

Todas as pessoas que apresentarem sintomas ou tenham tido contato com infectados são aconselhadas a fazer o teste de Covid-19.

“Sintomas não devem ser menosprezados. A pessoa pode apresentar febre, mal-estar, prostração e diarreia, por exemplo. É importante que o isolamento seja realizado quanto antes”, alerta a infectologista do Leforte.

Para Otsuka, da SBPSP, o teste deve ser realizado também por pessoas que tiveram contato com indivíduos com resultado positivo.

“Vale lembrar ainda que os testes rápidos de farmácia têm maior eficácia a partir do terceiro dia de sintomas. Se realizados antes, o resultado pode vir negativo, o que não significa que seja realmente negativo”, alerta ele.

“Os testes rápidos de farmácia levam à maior chance de falso negativo que os de laboratório”, reforça Renato Grinbaum, infectologista e professor de Medicina da Unicid (Universidade Cidade de São Paulo).

Com um primeiro negativo, é 100% de certeza que a pessoa não está contaminada?

Não. Não é possível garantir 100% que a pessoa não esteja contaminada, pois existe a possibilidade de o resultado do teste ser falso positivo.

“O teste [rápido] de antígeno tem em torno de 30% a 40% de chance de dar falso positivo. Então, em caso de sintomas, será necessário repetir o exame. O ideal é que o teste seja feito a partir do terceiro dia em que a pessoa começa a apresentar os sintomas. Mantendo-se os sintomas, o teste deve ser repetido ao menos mais uma vez, para haver certeza do diagnóstico”, explica Barbosa, vice-presidente da SBI.

Ele complementa: “Já o teste RT-PCR tem uma sensibilidade maior e apresenta falha em torno de 15% a 20%. É um teste, no entanto, que deve ser feito em laboratórios.”

Há risco de os testes estarem com mais dificuldade de detectar o vírus por causa das novas variantes?

Segundo Rubens Pereira dos Santos, infectologista e professor do curso de medicina da Unifran (Universidade de Franca), por enquanto, os testes estão sendo considerados eficientes, mesmo com essas variantes.

“Porque elas são muito parecidas, então a segurança do teste continua sendo muito boa. É claro que às vezes o paciente está com quadro viral, e não necessariamente é Covid-19, porque estamos tendo outros vírus com uma incidência paralela — por exemplo, influenza A e B, VSR [vírus sincicial respiratório], rinovírus, adenovírus e enterovírus”, explica Santos.

“Até o momento, não existem problemas de detecção reportados diante das novas variantes”, concorda Grinbaum, infectologista e professor da Unicid.

Quanto tempo de isolamento é recomendado?

Caso o resultado dê positivo, o isolamento deve ser de cinco dias, a serem contados a partir do primeiro dia do início dos sintomas. É necessário que, no quinto dia, o paciente realize um teste de antígeno que dê resultado negativo.

Ou pode ser feito apenas o isolamento de sete dias corridos, contanto que, no último dia, o paciente não apresente sintomas.

Ao perceber sintomas antes do encontro, como a pessoa deve proceder?

“A pessoa deve evitar encontros com outros indivíduos. Se inevitável, deve evitar proximidade, e ambos devem usar máscara durante todo o período em que estiverem juntos”, aconselha Grinbaum.

R7