A imunização de adolescentes contra a Covid-19 pode ter reduzido as hospitalizações na cidade do Rio de Janeiro mesmo com a propagação da variante ômicron, aponta novo estudo. Os maiores de 12 anos vacinados foram uma parcela mínima das hospitalizações, enquanto crianças que ainda estavam no início da campanha de vacinação quase representaram a totalidade de casos mais graves.
Publicada como pré-print, ou seja, sem revisão de outros cientistas, a pesquisa foi assinada por cinco pesquisadores brasileiros.
A autorização da vacina para adolescentes com mais de 12 anos aconteceu em junho de 2021 para o imunizante da Pfizer.
Para crianças a partir de cinco anos, o fármaco teve a aprovação em dezembro. Em janeiro deste ano, a Coronavac ganhou aval para ser utilizada em maiores de seis anos.
Utilizando dados do Ministério da Saúde, os pesquisadores apontam que 1.422 crianças morreram por Srag (síndrome respiratória aguda grave) devido à Covid-19 até 4 de dezembro de 2021 —o que representa 0,38% dos óbitos causados pela complicação.
A porcentagem pode até ser considerada baixa, mas os pesquisadores observam que o número de crianças mortas por Srag em decorrência do coronavírus é oito vezes maior que os óbitos por Srag causados por todos os outros vírus respiratórios.
“Em um cenário de uma pandemia, é óbvio que, se você tem um imunizante que diminui a possibilidade de a criança se internar ou falecer, é interessante”, afirma André Ricardo da Silva, infectologista pediátrico e professor da faculdade de medicina da UFF (Universidade Federal Fluminense).
O estudo utilizou dados de 300 pacientes com menos de 18 anos que tiveram Covid e foram atendidos em dois hospitais pediátricos na capital fluminense —Prontobaby e Centro Pediátrico da Lagoa.
Desse total de internações, 240 pacientes foram admitidos entre 2020 e 2021 no período em que nenhum menor de 18 anos estava completamente imunizado. Segundo o estudo, a proteção com duas doses na cidade com a Pfizer só foi atingida em 30 de dezembro de 2021 em adolescentes com mais de 12 anos.
Já os outros 60 pacientes foram internados de janeiro a 10 de fevereiro deste ano, quando já havia larga cobertura da vacinação dos adolescentes com mais de 12 anos, mas ainda faltava uma campanha consolidada para os mais novos.
Os casos severos de Covid em 2022 ocorreram principalmente na parcela de crianças que estavam no início da campanha de vacinação, isto é, as com menos de 12 anos —em 2020 e 2021, havia um maior equilíbrio na distribuição dessas ocorrências entre as faixas etárias.
“[Foram] muito poucas crianças internadas maiores de 12 anos, apenas cinco. E dessas cinco, só duas tinham recebido esquema completo. Ou seja, das 60 crianças que foram internadas, 58 não tinham as doses do calendário”, afirma Silva.
Como o segundo período da análise se passou em janeiro de 2022, também foi possível analisar o impacto da variante ômicron, que se disseminou pelo país no início do ano.
Segundo Silva, é possível dizer que, mesmo com a variante, a vacinação trouxe uma proteção contra hospitalizações aos adolescentes, uma vez que os imunizados dessa faixa etária representavam apenas dois entre os 60 hospitalizados.
No entanto, o médico afirma que não houve sequenciamento genético e por isso não é possível indicar com toda certeza quantos desses 60 jovens tinham sido infectados pela nova variante.
A pesquisa se junta a outros estudos que mostraram a eficácia da vacina para prevenir casos graves de Covid em crianças e adolescentes.
Agora, o pesquisador já mira em fazer uma análise semelhante voltada para as crianças mais novas, à medida que a campanha de vacinação avança.
Mas já há um indicativo positivo, afirma. “A gente já está vendo, nesse momento, praticamente nenhuma criança internando com Covid, mesmo com a volta às aulas”, afirma.
Fonte: Jornal de Brasília