A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) contestou uma nota divulgada pela Polícia do Amazonas (PF-AM), na manhã desta sexta-feira (17), a respeito das investigações sobre os assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips. A entidade destaca Amarildo da Costa Oliveira, o “Pelado”, e o irmão, Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como “Dos Santos”, fazem parte de organização criminosa que atua no Vale do Javari, no Amazonas.
Bruno e Dom desapareceram na região, no dia 5 de junho. Os restos mortais dos dois foram encontrados na última quarta-feira (15), após “Pelado” confessar o crime e indicar o local onde os corpos foram ocultados.
Nesta sexta, a PF continua as buscas pela embarcação que transportava o indigenista e o jornalista inglês. A equipe atua perto da Comunidade Cachoeira, em um perímetro indicado por “Pelado”.
PF diz que há mandante
Em nota enviada à imprensa, na manhã desta sexta, a PF/AM afirmou que as investigações não apontam “indicativos da participação de mais pessoas” no crime.
O texto também afirma os suspeitos agiram sozinhos. “Não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito”, diz a nota.
Embora descarte a participação de um mandante, a PF destacou que “novas prisões poderão ocorrer”.
A Univaja contestou as informações repassadas pela Polícia Federal e disse que o órgão desconsiderou denúncias feitas pela entidade desde o segundo semestre de 2021.
“Tais documentos apontam a existência de um grupo criminoso organizado atuando nas invasões constantes à Terra Indígena Vale do Javari, do qual ‘Pelado’ e ‘Do Santo’ fazem parte. Esse grupo de caçadores e pescadores profissionais, envolvido no assassinato de Pereira e Phillips, foi descrito pela EVU em ofícios enviados ao Ministério Público Federal, à Polícia Federal e à Fundação Nacional do Índio. Descrevemos nomes dos invasores, membros da organização criminosa, seus métodos de atuação, como entram e como saem da terra indígena, os ilícitos que levam, os tipos de embarcações que utilizam em suas atividades ilegais”, afirma a nota da Univaja.
Ainda de acordo com a entidade, o Bruno Pereira era alvo do grupo criminoso. A Univaja também lembrou que indigenista vinha recebendo ameaças. “Foi em razão disso que Bruno Pereira se tornou um dos alvos centrais desse grupo criminoso, assim como outros integrantes da UNIVAJA que receberam ameaças de morte, inclusive, através de bilhetes anônimos”, diz a nota.
Leia a íntegra da nota da Univaja:
Em Nota à Imprensa, no dia 17 de junho de 2022, a Polícia Federal (PF) registrou que as buscas pela embarcação utilizada pelo indigenista Bruno Pereira e pelo jornalista Dominic Phillips no dia do desaparecimento (05/06/22) continuam com o auxílio dos indígenas da Equipe de Vigilância da UNIVAJA (EVU).
No entanto, a PF, através da “Operação Javari”, registrou que: “Informa, também, que as investigações prosseguem e há indicativos da participação de mais pessoas na prática criminosa. As investigações também apontam que os executores agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito.”
Com esse posicionamento, a PF desconsidera as informações qualificadas, oferecidas pela UNIVAJA em inúmeros ofícios, desde o segundo semestre de 2021, período de implementação da EVU. Tais documentos apontam a existência de um grupo criminoso organizado atuando nas invasões constantes à Terra Indígena Vale do Javari, do qual Pelado e Do Santo fazem parte. Esse grupo de caçadores e pescadores profissionais, envolvido no assassinato de Pereira e Phillips, foi descrito pela EVU em ofícios enviados ao Ministério Público Federal, à Polícia Federal e à Fundação Nacional do Índio. Descrevemos nomes dos invasores, membros da organização criminosa, seus métodos de atuação, como entram e como saem da terra indígena, os ilícitos que levam, os tipos de embarcações que utilizam em suas atividades ilegais.
Foi em razão disso que Bruno Pereira se tornou um dos alvos centrais desse grupo criminoso, assim como outros integrantes da UNIVAJA que receberam ameaças de morte, inclusive, através de bilhetes anônimos.
A nota à imprensa, emitida pela PF hoje (17/06/22), corrobora com aquilo que já destacamos: as autoridades competentes, responsáveis pela proteção territorial e de nossas vidas, têm ignorado nossas denúncias, minimizando os danos, mesmo após os assassinatos de nossos parceiros, Pereira e Phillips.
O requinte de crueldade utilizados na prática do crime evidenciam que Pereira e Phillips estavam no caminho de uma poderosa organização criminosa que tentou à todo custo ocultar seus rastros durante a investigação.
Esse contexto evidencia que não se trata apenas de dois executores, mas sim de um grupo organizado que planejou minimamente os detalhes desse crime. Exigimos a continuidade e o aprofundamento das investigações. Exigimos que a PF considere as informações qualificadas que já repassamos à eles em nossos ofícios. Só assim teremos a oportunidade de viver em paz novamente em nosso território, o Vale do Javari.