SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As fortes chuvas que já deixaram ao menos 13 mortos no Rio Grande do Sul são um fenômeno extraordinário, afirma a meteorologista Estael Sias, sócia-diretora da MetSul.

“É um volume excepcional. É uma época em que estão previstas frentes frias, ciclones extratropicais e é esperada bastante chuva, mas o que choveu nestes últimos dias representa de duas a três vezes a média histórica deste período”, diz ela.

Sias afirma que, em parte, os temporais têm a ver com o El Niño, que se carateriza pelo aquecimento das águas do oceano Pacífico equatorial. “No segundo ano de El Niño é esperado que o outono tenha períodos de chuva excessiva e enchente”, diz a especialista sobre o fenômeno em curso, iniciado em 2023.

Além do El Niño, o bloqueio atmosférico que gerou a onda de calor atual contribui para a formação dos temporais isolados no Sul.

“A onda de calor, completamente atípica, persiste no Sudente e no Centro-Oeste e faz com que a chuva não saia do Rio Grande do Sul”, afirma a meteorologista. “Ela [chuva] está espremida entre esse bloqueio atmosférico que atua no Centro-Oeste e Sudeste e uma massa de ar mais frio na Argentina.”

Os rios atingiram cheias sem precedentes no Rio Grande do Sul. Em novembro do ano passado, por exemplo, a cheia do rio Taquari foi de 29 metros. Agora, pode chegar a 35 metros. Nesta quinta-feira (2), as prefeituras de Estrela e Lajeado disseram nas redes sociais que o nível do rio havia atingido 32,5 metros.

A meteorologista cita outros rios que também registraram cheias históricas: Jacuí, Guaíba, Sinos e a bacia do Caí. A situação, ela diz, deve trazer mais problemas nos próximos dias, mesmo que a chuva dê trégua na próxima semana. “Todo o escoamento dessa água ainda vai trazer mais problemas para áreas do centro e do sul do Rio Grande do Sul.”

Com a previsão de aumento do nível das águas do rio Guaíba nos próximos dias, a Prefeitura de Porto Alegre deu início na manhã desta quinta à operação de fechamento das comportas da cidade.

Além das 13 mortes registradas pela Defesa Civil, havia até a tarde desta quinta-feira 21 desaparecidos, segundo informações atualizadas no final da manhã desta quinta. Ao todo, 67.860 pessoas foram afetadas pelos temporais em 147 municípios do estado. Há também 9.993 desalojados e 4.599 desabrigados.

ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA

O Governo do Rio Grande do Sul decretou estado de calamidade pública em edição extra do Diário Oficial publicada na noite desta quarta (1º). O decreto estabelece que órgãos públicos prestem apoio à população nas áreas afetadas, em articulação com a Defesa Civil.

Os temporais destruíram moradias, estradas e pontes, além de comprometer o funcionamento de instituições públicas. As aulas nas escolas estaduais, por exemplo, foram suspensas nesta quinta e na sexta-feira (3).