Foto: Diego Peres/Secom
Mortes, corrupção, negligência, atrasos salariais, hospitais lotados e falta de medicamento são apenas alguns dos fatores que tem sido a base da gestão do governador do Amazonas, Wilson Lima (UB), se tratando da área da saúde.
A equipe de jornalismo do portal Amazônia Press recebeu uma denúncia surpreendente de um cidadão que viu de perto o descaso na saúde em um dos maiores hospitais públicos de Manaus, o Hospital e Pronto-Socorro Dr. Aristóteles Platão Bezerra de Araújo.
Por meio de um áudio, o denunciante relata que sofreu um acidente e precisou ir ao Hospital Platão Araújo. Chegando na unidade hospitalar foi constatado que ele precisaria de uma cirurgia que seria realizada entre 15 e 20 dias. No entanto, ele conversou com alguns trabalhadores do local e foi informado que eles não estão realizando cirurgias na unidade.
“Conversei com o cirurgião e com outros profissionais, e me informaram que eles não estão fazendo cirurgia. Às vezes fazem uns mutirões eles estão fazendo uma ou duas cirurgias porque os cirurgiões não estão trabalhando. Maqueiros, enfermeiro, ortopedistas… ninguém está recebendo desde agosto. Lá está um caos porque ninguém está querendo fazer nada. Eles não estão, tipo assim, para eles tanto faz como tanto fez”, declarou.
Na denúncia, o cidadão citou ainda uma situação em que viu um outro paciente morrer bem na sua frente.
“Cara, tem gente morrendo lá dentro. O cara morreu na minha frente gritando, pedindo ajuda do povo e ninguém estava nem aí. Nem aí. E o cara gritava. Isso era de madrugada. Eu estava deitado, acordei e disse: ‘ei meu amigo, ninguém vai ajudar o cara!?’. Só sei que passou um tempo e lá vem ele dentro de um saco. O negócio está feio, está feio demais. Se eu não tivesse percebido que eu estava sendo só mais uma cobaia só pra encher o hospital eu ainda estaria lá. E eu avisei a quase todo mundo que estava lá que não estão fazendo cirurgia porque os cirurgiões estão há cinco meses sem receber. Um colega meu me contou que eles vão parar tudo”, ressaltou.
Ele pontuou ainda que a falta de pagamento do salário dos profissionais da saúde trouxe à tona um cenário de total negligência e descaso com os pacientes da unidade de saúde.
“Os enfermeiros chegam lá verificam a sua pressão e vão embora. Eu passei de seis horas da manhã até meio dia com dor, eu gritava e chamava os enfermeiros e só falavam: ‘Não, espera aí que a gente já vai’, com aquele descaso, né?’ e eu pensava: ‘Cara, traz pelo menos alguma coisa pra mim e tal’ e ele ficam nisso de que já iam passar, com isso passou uma, duas, três horas e eu comecei a dar um escândalo lá, aí chegou um enfermeiro lá, aplicou a dipirona na veia e depois foi embora”, expôs.
De acordo com o paciente, são inúmeras pessoas sofrendo com a esperança de fazer alguma cirurgia mas soube que não serão realizadas cirurgias até o final desse ano, visto que os profissionais estão sem receber.
Vale relembrar que, uma gestão marcada por negligências e caos na saúde no Estado, o Governo do Amazonas decidiu se envolver em mais uma polêmica ao ignorar a decisão cautelar da conselheira Yara Lins, presidente do TCE-AM, e efetuar o pagamento de R$ 33 milhões à Organização Social (OS) Associação de Gestão, Inovação e Resultados em Saúde (AGIR).
A empresa que recebeu o montante é a responsável por administrar o Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto e o Instituto da Mulher Dona Lindu, duas das principais unidades de saúde localizadas em Manaus. A suspensão do contrato foi efetuada por suspeitas de irregularidades no processo licitatório.
“Peguei uma informação de uma pessoa que é lá de dentro que disse que não vai ter mais cirurgia esse ano não. Porque eles estão sem os cirurgiões estão sem receber, os maqueiros estão sem receber. Eles estão indo porque são obrigados. Cara todo mundo está lá dentro, está todo mundo revoltado. E aí o governo pega mais de 30 milhões, investe lá no 28 de agosto em uma nova empresa de fachada que eles ganham um retorno de quase 20 a 30% desse valor e os profissionais que era para pagar, que já estão atrasados desde agosto, eles não estão pagando”, frisou.
Continuou ainda: “Isso eu acho que é a maior falta de respeito que o estado tem com o ser humano. Não existe o que está acontecendo lá. Não existe. Se alguém não jogar merda no ventilador o que é que vai acontecer? Muita gente vai continuar morrendo e tem gente lá. Tem gente lá dentro que são profissionais da área que tem familiares lá dentro e eles não estão podendo fazer nada. Nem ajudar nem nada, porque está todo mundo parado”.
Entramos em contato com a Secretaria de Estado de Comunicação Social (Secom) e com a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES – AM) e, por meio de nota, o órgão informou que não procede a informação sobre paralisação de cirurgias.
Confira a nota na íntegra:
“Não procede a informação sobre paralisação de cirurgias. Os procedimentos cirúrgicos estão acontecendo normalmente, conforme a programação. A direção do Hospital e Pronto-Socorro Platão Araújo informa que a unidade, referência em ortopedia, tem como protocolo o internamento de todos os pacientes que precisam passar por procedimento cirúrgico. Em caso de emergência com fratura exposta, o paciente entra imediatamente no centro cirúrgico. No caso de fraturas fechadas, é realizada a fixação externa ou calha gessada para cirurgia dentro da programação semanal.
Não houve redução de ortopedistas na porta de atendimento, enfermarias e nem no centro cirúrgico, e a unidade está abastecida com materiais, OPME (órteses e próteses) necessários para realização dos procedimentos.”