SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma das lojas do Portal das Câmeras, na rua Santa Ifigênia, no centro de São Paulo, vai encerrar suas atividades após ser saqueada por usuários de drogas na madrugada de sábado (27).

O comércio estava no mesmo ponto havia cerca de dez anos. O representante da marca, José Paulo Souza, 64, disse à Folha não ter como continuar diante um prejuízo avaliado em R$ 300 mil.

Foram levados itens como câmeras, gravadores digitais de vídeo, cabos, fontes, conectores, estabilizadores e no-break.

Souza foi chamado por guardas-municipais na manhã deste domingo (28) para comparecer ao 2º DP (Bom Retiro) depois de alguns objetos terem sido encontrados. Ele afirmou ter ido ao local com a esperança de reaver itens de alto valor. No entanto, segundo ele, nada de interessante teria sido recuperado por forças policiais, exceto alguns cabos.

Segundo a GCM, produtos reconhecidos pelos proprietários foram encontrados com três homens na rua Vitória, na mesma região do saque.

No dia do crime, nem mesmo o sistema de monitoramento e as portas automáticas reforçadas foram capazes de inibir a ação do grupo. Conforme foi registrado em vídeo, dependentes químicos forçaram as portas até conseguir uma brecha e acessar o interior do estabelecimento. As imagens mostram quando diversas pessoas deixam o local carregando caixas.

O alarme funcionou, mas ficou inoperante diante a quantidade de pessoas que invadiram o prédio em curto espaço de tempo.

O entorno da rua Santa Ifigênia, conhecido ponto de comércios eletrônico, consta com bastante policiamento durante o horário comercial, com a presença de duplas de PMs em cada esquina, patrulhas da GCM, da Cavalaria e da Rocam (policiamento em motos), mas com rondas deficitárias durante a noite e a madrugada, momento em que criminosos se aproveitam para atacar.

Conforme Souza, um grupo menor já tinha tentado invadir a loja na terça-feira (23), mas sem sucesso.

O representante da marca relatou não ter elaborado boletim de ocorrência, uma vez que o 3º DP (Campos Elíseos), que atende a região, fecha aos sábados e domingos. O registro será feito na segunda-feira (29).

O ataque na loja de José Paulo Souza foi semelhante ao sofrido pela comerciante Angela Aparecida Alves de Oliveira, 44, em novembro passado. Ela, que também trabalhava na rua Santa Ifigênia, teve seu comércio invadido na primeira madrugada daquele mês.

Durante entrevista em dezembro ela relatou ter ficado doente e desempregada depois do saque em sua loja de manutenção de celulares.

Ela contou que sua rotina mudou desde então, com o uso frequente de remédios para dormir e o medo de sair de casa.

No dia do saque, os criminosos levaram 25 celulares de clientes, 1.500 películas, mil capinhas, cabos, carregadores, suporte para carros e fones de ouvido. Uma máquina para retirar tela e outra para medir a capacidade da bateria também foram furtadas. O prejuízo total, ela diz, é estimado em R$ 80 mil.

Dos 25 telefones roubados, Angela terá que restituir dez, de clientes que passaram a cobrar pelos aparelhos levados. Ela afirma que com muito esforço já conseguiu restituir quatro aparelhos, restando outros seis, que sabe-se lá quando vai conseguir comprar.

Conta, ainda, que recorreu a um empréstimo de R$ 4.000 para pagar fornecedores e arrumar a porta destruída durante o ato de vandalismo.

“Não tenho capital de giro. A loja está aberta pois ainda estou respondendo a esses clientes [que exigem a restituição do aparelho]. Tem um fornecedor que está confiando peça fiado, então o técnico está trabalhando e com isso estou pagando. Meus filhos estão pagando o aluguel do apartamento onde eu vivo”, disse Angela à Folha.