BERLIM, ALEMANHA(FOLHAPRESS) – “The Devil’s Bath”, ou o banho do diabo, em competição no 74º festival de cinema de Berlim é um filme austro-alemão tenebroso, resvalando para o terror, mas que, no fim das contas, apenas apresenta os costumes humanos e a cultura de um vilarejo em meados do século 18.

Apesar de estarmos em pleno século do iluminismo, esse pedaço do interior da Áustria ainda vive em plena ignorância, abafado por crenças medievais e por uma religiosidade que paira como nuvem negra sobre seus habitantes. O filme é dirigido pela dupla Veronika Franz e Severin Fiala.

Nesse ambiente, Agnes (a austríaca Anja Plaschg) casa com Wolf e se muda para a nova casa, ao lado da residência da sogra. Wolf se revela relapso e esquisitão nos deveres matrimoniais e a sogra, sempre ela, quer ditar as regras da nova casa. Por exemplo, onde a nora deve pendurar as panelas e quantas vezes deve mexer o mingau do maridinho.

Banho do diabo é uma expressão da época da bruxaria para significar melancolia, tristeza profunda, depressão enfim. E é nessa lama que Agnes mergulha e da qual tentará sair a custo de métodos vistas hoje como bárbaras, como a utilização de sanguessugas nas costas ou a inserção de fios de cabelo por baixo da pele de sua nuca para que os espíritos ruins possam escapar.

No livro “The Devil’s Bath: Curse-craft and Humoural Theory” (o banho do diabo: criação de pragas e teoria humoral; sem tradução no Brasil), o dr. Alexander Cummings, que se apresenta como adivinho, traz algum conexto. “Aquecer ou adoçar o humor sanguíneo de uma vítima pode deixá-la louca de amor. Infligir medo, vergonha e ansiedade são outras operações possíveis. Por último, as tristezas e as dores da melancolia —‘o banho do diabo’— poderiam levar o alvo ao suicídio, bem como atrair a assombração de espíritos imundos”, ensina o autor.

Outras práticas retratadas na produção impressionam. Como matar uma galinha com uma ferramenta de pau num “divertido” jogo de cabra-cega? Como esfolar cabras que desenvolvem vermes por baixo dos pelos? Como ter bebês, se não com a ajuda do dedo decepado de uma morta escondido no meio do colchão de palha?

No prólogo do filme, essa morta mata um bebê, atirando-o de uma cachoeira, mas só entenderemos a razão disso quando Agnes envereda por um caminho próximo, já na parte final. Não revelaremos mais nada.

No entanto, faz parte da divulgação oficial do filme informar que ele “é baseado em registros judiciais históricos sobre um capítulo chocante e até então inexplorado da história europeia”. Isso, sim, é o verdadeiro terror de “The Devil’s Bath”.