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O surto de hepatite de causa misteriosa já afetou ao menos 230 crianças de cerca de 20 países, segundo a AFP, que soma casos relatados pela Organização Mundial da Saúde e confirmações dadas por países. Identificada inicialmente na Europa e detectada também nos EUA, a doença já teve seu primeiro caso na América do Sul. Um menino de 8 anos foi diagnosticado na Argentina. Enquanto isso, o Ministério da Saúde monitora sete casos suspeitos no Brasil.

Até o momento, autoridades britânicas confirmaram uma morte associada à doença. Outros óbitos estão sob investigação: um nos EUA e três na Indonésia. Pelo menos 18 crianças precisaram de transplante de fígado devido ao agravamento da doença. A OMS estima 10% dos pequenos pacientes acometidos pela hepatite misteriosa necessitem da cirurgia.

Veja abaixo as principais descobertas da ciência sobre a hepatite misteriosa que tem acometido crianças ao redor do mundo.

O que é hepatite?

A hepatite é uma inflamação do fígado e pode ter uma ampla gama de causas. Infecções virais podem causar a condição. Até o momento, são conhecidos os vírus da hepatite A, B, C, D e E. No entanto, as crianças acometidas pela doença do surto atual não foram infectadas por nenhum desses patógenos.

O consumo excessivo de álcool, bem como certos medicamentos e substâncias tóxicas, também podem causar a doença. Na hepatite autoimune, o próprio sistema imunológico do corpo ataca o fígado.

A hepatite súbita e grave em crianças previamente saudáveis ​​é incomum, e é por isso que os novos grupos de casos suscitaram preocupação.

Quando começou?

No dia 5 de abril, o Reino Unido se tornou o primeiro país a notificar a OMS sobre um conjunto de casos inexplicáveis ​​de hepatite em crianças. Os casos foram incomuns porque ocorreram em um curto período de tempo em crianças saudáveis, e porque os médicos rapidamente descartaram qualquer um dos vírus comuns da enfermidade como a causa. Eles não identificaram nenhum padrão em viagens, dieta, exposições químicas ou outros fatores de risco que pudessem explicar o surto.

Desde então, Áustria, Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Irlanda, Israel, Itália, Japão, Holanda, Noruega, Polônia, Romênia, Espanha, Argentina e Estados Unidos relataram casos semelhantes. Argentina e Panamá identificaram seus primeiros casos na quinta-feira.

Quem está sendo afetado?

As crianças afetadas têm entre um mês de vida e 16 anos de idade, com a maioria tendo menos de 10 anos. Uma morte foi confirmada no Reino Unido.

Nesta semana, o Ministério da Saúde da Indonésia relatou que três crianças morreram devido a uma hepatite de origem desconhecida, que pode ser ligada ao surto. Com dois, oito e 11 anos, elas faleceram em abril em hospitais da capital Jacarta após apresentarem sintomas como febre, icterícia, convulsões e perda de consciência, disse à AFP a porta-voz da pasta, Siti Nadia Tarmizi.

Quais são os sintomas?

Segundo a agência de saúde do Reino Unido, os sintomas apresentados pelas crianças com hepatite são:

Urina escura;

Fezes pálidas ou cinzas;

Coceira na pele;

Olhos e pele amarelados (icterícia);

Dores musculares e nas articulações;

Temperatura alta;

Enjoo e náuseas;

Cansaço o tempo todo fora do normal;

Perda de apetite;

Dor de barriga.

Qual é a causa deste surto de hepatite?

Essa é a pergunta para a qual pesquisadores do mundo inteiro procuram respostas. Uma das principais hipóteses é que um adenovírus — um de um grupo de vírus comuns que geralmente causam sintomas semelhantes ao resfriado — é o responsável. Dos 169 casos incluídos em um relatório recente da OMS, pelo menos 74 tiveram uma infecção por adenovírus, disse a organização. Dezoito dessas crianças foram infectadas com o que é conhecido como adenovírus tipo 41, que normalmente causa sintomas gastrointestinais e respiratórios.

As infecções por adenovírus estão aumentando no Reino Unido, onde a maioria dos casos de hepatite foi relatada, disse a OMS.

Mas ainda restam dúvidas sobre esta hipótese porque nem todas as crianças testaram positivo para um adenovírus. Embora os vírus possam causar inflamação do fígado, esse sintoma é mais comum em pessoas imunocomprometidas.

É possível que uma nova cepa de adenovírus tenha surgido ou que infecções por adenovírus estejam ocorrendo em conjunto com algum outro fator de risco — como uma exposição tóxica ou uma infecção com outro patógeno — causando esses resultados excepcionalmente graves, disse a Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido.

Como os vírus são tão comuns entre as crianças, é difícil determinar se eles são a causa desses casos de hepatite ou se muitas das crianças foram infectadas acidentalmente.

O surto de hepatite está relacionado à Covid-19?

Provavelmente não, disseram especialistas. Dentre 169 pacientes identificados pela OMS, 20 testaram positivo para o coronavírus. Isso não é surpreendente, dada a extensão da disseminação do vírus nos últimos meses, disseram os cientistas.

E não há evidências de que a hepatite esteja ligada às vacinas da Covid-19, pois a “grande maioria” das crianças que ficaram doentes não foi vacinada, disse a OMS.

Ainda assim, uma conexão com o coronavírus não pode ser totalmente descartada, alertaram os especialistas, e os casos de hepatite podem estar ligados à pandemia de maneiras menos diretas. Por exemplo, as medidas de saúde pública implementadas nos últimos dois anos podem ter deixado menos crianças expostas a adenovírus comuns. Isso, por sua vez, pode tê-los tornado mais suscetíveis agora, de acordo com uma das hipóteses de trabalho da Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido. Mas tudo não passa de hipóteses em investigação.

Fonte: O Globo