FOLHAPRESS – Na já imensa variedade de reality shows disponíveis, o modelo de competição baseada num ofício é fonte inesgotável de produções. No Brasil, programas de culinária e confeitaria saturam o segmento, mas novas criações como Pedreiro Top Brasil mostram como o formato ainda pode render. Dinâmico e bem-humorado, o programa inova ao dar protagonismo a profissionais da construção civil.

Sem confinamento, as provas são o evento central e simulam situações vividas em obras, como rebocar paredes, levantar colunas, impermeabilizar superfícies, fixar telhas, rufos e cumeeiras. Sempre com tempo curto.

Cinco duplas de pedreiros —ou mestres, como o programa os denomina— representam cada uma das regiões do Brasil. Em disputa, uma premiação de R$ 20 mil para o vencedor, além do troféu Colher de Ouro. Os dez selecionados são todos homens e de fato exercem a profissão, não são amadores.

Promovido pela fabricante de materiais de construção Quartzolit, o programa é transmitido no canal do YouTube da própria empresa e também na Rede Bandeirantes, com realização da produtora FX Render.

Trabalhadores da construção civil são o público-alvo do programa; são eles também os consumidores finais dos diversos materiais usados nas competições. Esta fundação publicitária não impede que outras audiências se entretenham, mas pode frustrar os novatos do “faça você mesmo” que busquem aprender mais sobre processos e produtos.

Em reality shows de competição as provas e avaliações são os principais elementos para cativar o espectador. Ali é o momento de torcer, de assistir demonstrações de virtuosismo e habilidade profissional. Se as disputas forem desinteressantes no formato ou apresentação, o episódio não se sustenta.

Nesse ponto, Pedreiro Top Brasil acerta na concepção das provas, mas é limitado na forma de mostrá-las ao público.

O desempenho dos participantes é avaliado conforme o uso dos materiais, execução do projeto e limpeza. Como não há eliminação, os dez pedreiros participam de todas as provas.

Os cortes rápidos entre os mestres em ação e a falta de intervenções mais didáticas ao longo das competições comprometem um melhor aproveitamento do espectador leigo, que fica sem saber o que observar. Assistir às disputas por vezes lembra a experiência de testemunhar uma obra em casa e se perguntar: “será que esse serviço está bom?” —para saber mesmo só com a obra já quase pronta.

Animações gráficas ou vídeos poderiam complementar as explicações do funcionamento de cada prova. Ou ainda relembrar o significado de termos técnicos. O sistema de pontuação também merece aprimoramento, já que não é claro como ele é afetado pelo desempenho dos participantes.

Ainda assim há recursos que atenuam a desorientação. Parte na voz da apresentadora, Renata Golombieski que esclarece as dinâmicas do programa e conduz a atração com carisma, afinada com o tom descontraído do programa. Mas é sobretudo o trabalho dos jurados que guia o espectador.

As análises dos especialistas são rígidas e não aliviam em apontar os erros, sem condescendência. Bons momentos ocorrem no choque entre as práticas informais dos mestres versus o olhar de manual dos jurados, sempre cobrando a leitura, por vezes ignorada, das instruções do fabricante.

Nas avaliações, nota-se também o esforço do programa em assumir um ar informal, em especial ao fazer os jurados usarem bordões como “vai dar bom” ou “vai dar ruim”.

Um bom exemplo se vê no terceiro episódio, quando um instrutor do Senai nota que não é correto fracionar os ingredientes que formam a argamassa polimérica da prova de impermeabilização —deve-se misturar tudo de uma vez. Ele olha para a lente e sentencia: “Vai dar ruim”.

Segue-se uma vinheta com ares do clássico infantil Rá-Tim-Bum, com quatro rapazes cantando o bordão e batucando ferramentas douradas. São os músicos do Quarteto da Arriação, um grupo de pedreiros primos que fazem covers musicais na internet usando instrumentos de obra.

Além das provas, o programa também investe nos perfis dos participantes. No quadro “Papo de obra”, Golombieski debate o andamento das provas com os pedreiros e apresenta vídeos dos familiares em homenagem aos participantes.

O quadro contribui para dar uma dimensão afetiva ao reality e tornar os competidores figuras relacionáveis —construção de empatia que funciona inclusive entre os próprios pedreiros e é celebrada no episódio final.

Uma nova temporada do reality já está em planejamento, na qual considera-se aumentar o número de competidores, o desafio das provas e incluir a eliminação de participantes. A presença de mulheres também deverá ser estimulada. A ver se uma nova edição preservará a autenticidade informal construída no primeiro e fará melhor uso das provas, seu elemento mais divertido.

PEDREIRO TOP BRASIL

Avaliação Muito bom

Onde Disponível no YouTube

Produção Brasil, 2023