Foto: Max Schwarz/Reuters

Na semana passada, um pequeno terremoto agitou a cena política alemã. Pela primeira vez o partido Alternative für Deutschland (AfD), de extrema direita, conseguiu eleger um prefeito no país. Trata-se de Hannes Loth, da pequena cidade de Raghun-Jessnitz, no estado da Alta Saxônia. No município de quase 9 mil habitantes, Loth, com 51% dos votos, derrotou seu adversário Nils Neumann, que se apresentava como candidato independente. 

Dias antes, o AfD conseguira eleger seu primeiro administrador distrital, em Sonneberg, no estado da Turíngia. Este estado é o único da Alemanha a ter um governador do Die Linke, partido de esquerda. Mas se houvesse eleição hoje, o AfD chegaria na frente, com 28% dos votos, contra 22% da Linke, e a conservadora União Democrata Cristã (CDU) em terceiro, com 21%.

Estes números confirmam o enraizamento da extrema direita na antiga Alemanha Oriental. Mas o AfD vem fazendo progressos em todo o país. Se houvesse hoje eleições gerais, a CDU viria em primeiro lugar, com 28% dos votos. Também pela primeira vez o AfD chegaria em segundo, com 20%, superando o Partido Social-Democrata (SPD), do atual chanceler Olaf Scholz, que ficaria em terceiro, com 18%. Os Verdes teriam 14% e o liberal FDP, ambos da coalizão governamental, ficaria com 7%. A Linke, com apenas 4%, sequer entraria no Parlamento Federal alemão, o Bundestag.

Outros países

Na Espanha, o Vox, que se declara herdeiro do ditador Francisco Franco e dos Cavaleiros Templários da Idade Média, também fez progressos nos últimos tempos, embora na última pesquisa seu ímpeto tenha arrefecido. Esta deu, em primeiro lugar, o conservador Partido Popular (PP), com 31,3% dos votos. Em segundo, vem o Partido Socialista Operário Espanhol, atualmente no governo, com 29,5%. Em terceiro vem o Vox, com 14,8% e em quarto a frente de esquerda, Sumar, com 13,4%; 11% ficariam para outros partidos. 

O Vox e o PP vêm fazendo alianças em várias regiões, desbancando o Partido Socialista em alguns de seus redutos tradicionais.

Partidos de extrema direita lideram os governos da Itália, da Polônia e da Hungria. Na Finlândia, a extrema direita passou a integrar o governo, e na Suécia dá apoio decisivo ao novo governo conservador. Na Grécia, onde os conservadores conseguiram uma expressiva vitória recentemente, três partidos de extrema direita conseguiram entrar no Parlamento Nacional.

E na cada vez mais convulsionada França a candidata Marine Le Pen, também de extrema direita, ganha mais votos a cada eleição que disputa.

De um modo geral, os partidos de extrema direita mantêm-se fiéis a seu nacionalismo nostálgico e xenófobo, voltado sobretudo contra os imigrantes e refugiados não europeus. Mas em outros pontos alguns deles vêm modificando suas teses tradicionais. Por exemplo, já não falam em “sair” da União Europeia, mas em “reformá-la”. Quanto à moeda única, o euro, vêm mantendo o que se pode chamar de um “silêncio obsequioso”. Tradicionalmente acusados de serem simpáticos ao presidente russo, Vladimir Putin, vêm se distanciando dele, devido à guerra na Ucrânia.

Estes partidos também são favorecidos pela atitude de militantes dos partidos conservadores tradicionais, que se aproximam de suas bandeiras, como as da hostilidade aos imigrantes não europeus, na tentativa de recuperar votos que estão perdendo. No fundo, esta atitude legítima tais bandeiras aos olhos do eleitorado.

Curiosamente, a principal exceção a este quadro, que muitos analistas avaliam como ameaçador para a democracia no continente, está na seguidamente conservadora Inglaterra. As últimas pesquisas dão uma vantagem estável para o Labour, o Partido Trabalhista, com uma votação estimada entre 43 e 47%, com tendência de alta, enquanto os Tories, o Partido Conservador, atualmente no governo, ficam entre 22 e 29%, com tendência de baixa. Já o Partido Reformador do Reino Unido, Reform UK, de extrema direita, ficaria apenas entre 4 e 9%.

O primeiro grande termômetro deste novo desenho político ocorrerá na Espanha, cuja eleição nacional está marcada para o próximo 23 de julho.

G1