SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um jantar de apoio à reeleição do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), na noite desta segunda-feira (22), materializou o que ele vem chamando de frente ampla, com a participação de representantes de dez partidos e de figuras de peso como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o ex-presidente Michel Temer (MDB) e o secretário Gilberto Kassab (PSD).

O ex-governador Rodrigo Garcia (que deixou o PSDB neste ano) também estava presente e foi designado para coordenar o programa de governo da campanha da Nunes. Para isso, ele deve montar uma equipe e a expectativa é que o trabalho comece em junho.

Também foi definida a formação de um conselho político da campanha de Nunes, com um representante de cada partido.

Na avaliação de políticos presentes, a aliança que vai da centro-esquerda ao bolsonarismo aponta para uma alternativa de oposição a Lula (PT) em 2026.

O encontro teve a participação de MDB, PL, Republicanos, Podemos, União Brasil, PSDB, PSD, Solidariedade, Avante e PRD –cada presidente discursou por alguns minutos. O PP e o Cidadania também fazem parte do grupo, mas não estavam presentes no jantar.

Procurado pela Folha de S.Paulo, Nunes afirmou que “a frente ampla foi formada”. “Estou bem contente com o apoio, mostrando que o diálogo, o trabalho e os resultados estão sendo reconhecidos. Não tem no país uma pré-candidatura nas capitais com tanto apoio.”

Dentre esses partidos, alguns apoiaram o atual presidente em 2022 no primeiro turno, como o Solidariedade e o Avante. O MDB manteve-se neutro, mas a presidenciável Simone Tebet fez campanha para Lula.

Apesar disso, a leitura de alguns dirigentes foi a de que, se esse grupo heterogêneo vencer Guilherme Boulos (PSOL) na principal capital do país, haveria um caminho para manter a unidade, criar uma mega coalizão capaz de dragar o apoio que sustenta Lula e apresentar um presidenciável de oposição em 2026.

Segundo os participantes do jantar, o grupo pró-Nunes soma mais de 350 deputados federais e tem 11 ministros no governo Lula (do MDB, PSD, União Brasil, PP e Republicanos).

O clima foi de otimismo com a vitória de Nunes –duas pesquisas internas apresentadas ali mostravam o prefeito com vantagem de 4 a 5 pontos sobre Boulos, o candidato de Lula. Na última pesquisa Datafolha, eles aparecem empatados.

Os levantamentos mostravam ainda queda da popularidade de Lula na capital paulista. Dirigentes partidários fizeram a leitura de que o governo federal vive seu pior momento e dificilmente vai se recuperar a tempo do pleito municipal, o que prejudica Boulos.

Já o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a Nunes não foi um dos pontos centrais do jantar. Houve, por um lado, o reconhecimento de que a competitividade do prefeito na eleição se deve muito ao fato de que o bolsonarismo e o PL decidiram não lançar um concorrente à direita.

Por outro lado, houve falas de que a campanha de Nunes deve fugir da polarização entre Lula e Bolsonaro e que nenhum deles será o futuro prefeito de São Paulo. Embora os apoios sejam importantes, a leitura é a de que os resultados da gestão contam mais –nesse ponto, porém, bolsonaristas pensam o oposto, que Bolsonaro impulsionou Nunes mais do que sua administração na prefeitura.

Acertos que dependem da articulação entre esses partidos, como a definição de um vice na chapa de Nunes, acabaram não sendo tratados em um encontro com mais de 20 pessoas. O estabelecido é que Bolsonaro indique um nome, mas que dependerá do aval das demais siglas e da simpatia de Tarcísio.

O ex-presidente defende o coronel da PM Ricardo Mello Araújo, mas a decisão deve ser tomada a partir de junho e julho, quando acontecem as convenções partidárias.

Da União Brasil, estavam presentes o presidente nacional, Antonio Rueda, e o dirigente local, Milton Leite, presidente da Câmara dos Vereadores. Segundo relatos à reportagem, ambos exaltaram o compromisso com Nunes, enterrando as pretensões do deputado Kim Kataguiri (União Brasil) de concorrer à prefeitura.

Do ponto de vista prático, os aliados de Nunes pregaram que ele se concentre em sua gestão e no fortalecimento de uma agenda positiva, com entregas de obras ou dando início a elas até 6 de julho, prazo que a legislação eleitoral estabelece.

Ao mesmo tempo em que veem Nunes como favorito, os dirigentes apontaram que é preciso não cometer nenhum erro para vencer em outubro.

De modo geral, os políticos exaltaram o tamanho da aliança de Nunes, dizendo que não há algo semelhante em outras capitais e que o jantar desta segunda representou um momento histórico da política brasileira.