Foto: João Viana / Semcom

Em um cenário de cheia dos rios, quando a água das chuvas invade a área urbana e se mistura ao esgoto e o lixo, a probabilidade de transmissão de enfermidades aumenta. O problema é ainda maior na região Norte, onde apenas 13,1% da população tem acesso a tratamento de esgoto, de acordo com levantamento do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) publicado em dezembro de 2021.  

O infectologista Marcelo Cordeiro, consultor do Sabin Medicina Diagnóstica, informa que uma das doenças mais conhecidas nesse contexto de água contaminada é a leptospirose. “Em cheias ou inundações decorrentes das chuvas, a urina dos ratos de esgotos e bueiros se mistura à água e à lama. Se esse animal estiver com leptospirose, pode espalhar a bactéria causadora da doença (leptospira) através da urina. Dessa forma, quem tiver contato com essa água poderá ser infectado”, afirma o médico.

De acordo com ele, os sintomas da leptospirose são similares aos da gripe, dengue e malária. Ocorre principalmente febre, dor de cabeça, dor no corpo e, em alguns casos, o olho pode ficar amarelado (icterícia). A principal forma de identificar a leptospirose e distingui-la de outras enfermidades é por meio de testes sorológicos, para verificar se há anticorpos no sangue do paciente.

Outra doença ligada à contaminação das águas é a hepatite A, cuja transmissão do vírus pode ocorrer tanto pela ingestão do líquido sem tratamento adequado como de alimentos mal higienizados.

Por ser uma virose, na maior parte dos indivíduos, os sintomas são inespecíficos, como febre, dores no corpo, náuseas e desconforto abdominal.  Assim como na leptospirose, em alguns casos, a pessoa pode ficar com o olho amarelado (icterícia). O diagnóstico também ocorre com a realização de um teste sorológico, que pode identificar e diferenciar os cinco tipos de hepatites (A, B, C, D, E), sendo este último, Hepatite E, também transmitido por água e alimentos contaminados.

Outras doenças

As diarreias agudas também estão entre as doenças de veiculação hídrica mais comuns. Dados da Fundação de Vigilância em Saúde Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP) apontam que, de novembro de 2020 a maio de 2021 (período de enchente dos rios na região), foram registrados 104.088 casos de diarreias no Estado. Destes, 15.629 apenas em Manaus.

Outra doença que pode ocorrer devido ao contato com a água poluída das enchentes é a febre tifoide, causada pela bactéria Salmonella Typhi. Os sintomas incluem febre alta, mal-estar, dor de cabeça, falta de apetite, diarreia ou constipação e tosse seca, sendo que, em casos mais graves, podem ocorrer sangramentos e perfurações no intestino.

“Para evitar essas doenças, é sempre importante consumir água de procedência conhecida e tratada e também evitar exposição a áreas alagadas. Quando não houver alternativa, é importante utilizar equipamentos de proteção, como botas”, orienta Marcelo Cordeiro.

Também é preciso lembrar que, além da poluição em áreas alagadas, o período de chuvas facilita a aparição de doenças como a dengue, devido ao acúmulo de água parada em poças, latas, pneus velhos, vasos de plantas e outros potenciais criadouros para o mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença. O Ministério da Saúde orienta a prevenção através do combate a esses focos.

Foto: João Viana / Semcom