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Centro Estadual de Oncologia, em Salvador, na Bahia
Reprodução/Google Maps

Centro Estadual de Oncologia, em Salvador, na Bahia

O médico ginecologista Leonardo Palmeira, do Centro Estadual de Oncologia (Cican) de Salvador, capital baiana, foi denunciado por duas pacientes por abuso sexual e estupro. Ambas já foram ouvidas pela Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Brotas. Nos próximos dias, testemunhas dos casos serão ouvidas.

A técnica de enfermagem Elisângela Leal de Jesus, de 46 anos, contou que fazia um exame preventivo com o médico quando percebeu que estava sofrendo abuso sexual. No dia 18 de janeiro, Elisângela, que fazia acompanhamento com uma médica da Cican há cerca de dois anos para tratar um problema no útero, foi informada de que a profissional estava de férias. Foi então que a enfermeira precisou se consultar com Leonardo.

Durante o exame, Elisângela notou comportamentos suspeitos do médico. Primeiramente, ele teria perguntado se ela tinha feito o uso de algum creme vaginal e se teria tido relação sexual nos últimos dias, procedimento padrão antes de um exame preventivo. Ela respondeu e o exame foi iniciado.

“Ele introduziu o aparelho que sempre é usado, e até aí tudo bem. Depois disso, ele deslizou a mão sobre a minha coxa e eu já acendi um sinal de alerta, mas esperei para entender o que estava acontecendo. Ele tornou a perguntar sobre minha vida sexual, e quando eu respondi, ele introduziu os dedos na minha vagina, dizendo que precisava fazer um exame mais profundo”, relata Elisângela.

A técnica de enfermagem, que já tinha acompanhamento médico há dois anos, sabia que aquele não era o procedimento padrão. Seus últimos exames mostravam resultados normais e, segundo ela, não haveria motivos para um exame mais profundo. Ela conta que pediu três vezes para que o médico parasse, sem sucesso, e percebeu que ele se aproximava de seu corpo. Foi quando ela se afastou e gritou.

“Ele introduziu os dedos em mim e fez movimentos de vai e vem com as mãos. Eu disse que estava doendo, mas ele tentava disfarçar e não parava. Perguntava onde estava doendo e disse que precisava examinar melhor. Até que eu gritei e me afastei dele”.

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Elisângela disse ainda que Leonardo tentou se justificar, dizendo que aquele era um procedimento padrão. A vítima ainda aguardou alguns minutos até que ele liberasse a prescrição do exame. Confusa e constrangida, ela saiu do local e ligou para uma amiga relatando o que ocorreu. A amiga confirmou o que ela já suspeitava: o que tinha acabado de acontecer era um caso de abuso sexual. Elisângela então procurou a delegacia mais próxima para prestar um Boletim de Ocorrência.

“Eu fiz o B.O e fui para o IML fazer exame de corpo e delito. Mas não havia material para ser recolhido porque ele introduziu apenas a mão que estava com a luva. O que fica mesmo é o trauma”, desabafa a vítima.

A técnica diz esperar que o médico perca o direito de exercer o ofício da medicina. Segundo ela, pelo menos outras seis mulheres passaram pela mesma situação e estão prestando queixa aos poucos.

“Eu já estou com um advogado no meu caso, já dei queixa em todos os órgãos possíveis, já abri uma sindicância. Espero que a justiça seja feita e que as mulheres não se calem. Nós ficamos com traumas, mas os médicos continuam suas vidas normalmente. Eu tenho certeza de que mais mulheres foram abusadas por ele. Espero que ele seja punido e perca o direito de exercer a profissão. Ele não foi ético. Quero que ele seja preso”, diz Elisângela.

Segundo o Cican, o médico foi afastado de suas funções. A Secretaria de Saúde da Bahia emitiu nota dizendo que há uma sindicância aberta e que o profissional está afastado até o fim das investigações.