SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Braço direito do prefeito Ricardo Nunes (MDB) na articulação política e na gerência das ações da prefeitura, Edson Aparecido (MDB), 66, diz à Folha que “a estratégia até a eleição vai ser cuidar da cidade” e que a disputa com Guilherme Boulos (PSOL) não é um “terceiro turno” entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

“É o Bolsonaro que está apoiando o prefeito”, diz o secretário municipal de Governo sobre a aliança pragmática com o ex-presidente. “É ele que está nos apoiando”, enfatiza. Questionado se o apoio é do ex-presidente ao prefeito e não o contrário, responde: “Exatamente”.

“A pré-candidatura do prefeito Ricardo Nunes tem o apoio de inúmeros partidos, não tem um dono. Até porque quem vai sentar na cadeira é ele, é o Ricardo Nunes, não é outra pessoa”, completa , para esvaziar a estratégia de Lula e Boulos de replicar em São Paulo a polarização nacional, que teve vitória da esquerda no último round.

Militante do PC do B na juventude e um dos fundadores do PSDB, Aparecido, que foi deputado estadual e federal, foi para o MDB na eleição de 2022, quando concorreu ao Senado, mas não foi eleito.

Ele rejeita a associação que Boulos faz entre Nunes e o golpismo de Bolsonaro, ressalta a amplitude no entorno do prefeito e diz não ver contradição na união com a extrema direita por parte do MDB, partido de oposição à ditadura militar que ajudou a eleger Lula em 2022 e agora integra o governo petista.

“No governo do Ricardo [Nunes] temos algumas pessoas que têm um histórico na esquerda brasileira: eu, a Soninha [Francine, do Cidadania], o Aldo Rebelo [que pediu licença do PDT]. E o MDB traduz a história da luta democrática no país, o vínculo do MDB com a democracia não tem como apagar.”

A distinção que prega entre apoiador e apoiado na relação de Bolsonaro e Nunes tenta delimitar uma distância protocolar e blindar o prefeito da rejeição ao bolsonarismo na capital. Mas a tarefa ficou mais árdua após a operação da Polícia Federal do último dia 8, que investiga um plano de golpe de Estado de Bolsonaro e aliados.

Questionado se a ação policial desgasta Nunes, diz que “são fatos que nada têm a ver com o prefeito”. “O ex-presidente vai se defender, a Justiça vai caminhar. Veja, o Lula estava inelegível, foi preso e ganhou a eleição”.

Em setembro, Nunes afirmou à Folha que considerava Bolsonaro um democrata. Depois da operação da PF, evitou fazer comentários.

Aparecido vai nessa linha. “Bolsonaro participou de várias eleições, ganhou eleição, perdeu eleição. E não se pode agir, evidentemente, contra as instituições. Espero que ele prove que não agiu. Não tive contato com o processo. O respeito às instituições democráticas está acima de qualquer coisa, é o dever de qualquer brasileiro.”

Secretário municipal da Saúde na pandemia de Covid-19, Aparecido elenca a vacinação na capital paulista como algo que “de alguma maneira destoava do governo federal na época”, mas também vê pontos de aproximação, como o acordo entre a gestão Bolsonaro e Nunes pelo Campo de Marte, que extinguiu uma dívida de R$ 25 bilhões da prefeitura com a União.

“Ninguém pode concordar ou discordar com tudo. Isso faz parte da política”, resume.

Ele promete se concentrar na administração para escapar da nacionalização pretendida por PSOL e PT e lembra que a coligação de Nunes deve ter 12 partidos, dos quais 5 estão no governo Lula —o MDB tem três ministérios. Isso, somado a projetos conjuntos da prefeitura com o governo federal, enfraquece, na sua visão, a ideia de encaixar Nunes na polarização.

“É o debate sobre a cidade que vai ser decisivo para que o cidadão tenha sua opção de voto. Mas a única alternativa que resta para Boulos é discutir questão ideológica. Se ele for debater a cidade, é evidente que perde a eleição”, diz.

“Boulos não conhece a cidade, não tem propostas, não faz ideia do desafio de administrar um Orçamento de R$ 112 bilhões. Um prefeito como Boulos, em seis meses desmonta a prefeitura”, acrescenta.

Se Nunes chama Boulos de mentiroso e radical, seu auxiliar tampouco poupa o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).

“Quando o prefeito faz esse tipo de caracterização, ele simplesmente está retratando a realidade. Uma figura como o Boulos é a imagem da insegurança jurídica, de quem não respeita a lei. Por exemplo, áreas que foram invadidas tiveram desmatamento em áreas imensas de proteção ambiental.”

Já para Tabata Amaral (PSB), que corre por fora, há uma piscadela. “É importante ter uma candidatura como a dela, enriquece o debate.”

Segundo ele, as pesquisas mostram Nunes encostando na liderança de Boulos, sendo que o psolista abre vantagem na zona oeste, enquanto o prefeito quer conquistar a periferia com as mais de 1.700 obras em andamento na capital —serão R$ 16 bilhões em investimentos em 2024.

Aparecido lista “obras estruturantes”, como 9 CEUs, 8 UPAs, BRTs na zona leste, o VLT do centro, além de ações contra enchentes, a tarifa zero aos domingos, fila da creche zerada, 20 mil câmeras para a segurança pública e o plano de entregar 70 mil unidades habitacionais.

A gestão é alvo de suspeitas de superfaturamento, contratos emergenciais e reclamações de zeladoria. Aparecido admite problemas, mas diz que buscam enfrentá-los.

Questionado sobre a marca da gestão, ele fala em saúde financeira, capacidade de investimento e competência administrativa. “Outra é a marca de quem investiu de forma decisiva na periferia. Essa é uma orientação do prefeito Ricardo Nunes.”