Da esquerda para a direita: Henrique Oliveira, Eduardo Braga, Amazonino Mendes, o apresentador Neto Cavalcante, Carol Braz, Israel Tuyuka e Ricardo Nicolau. — Foto: Divulgação/Band Amazonas

Desde a eleição de 1989, os debates televisivos entre candidatos cumprem papel importante nos pleitos e, em muitos casos, foram determinantes para o comportamento do eleitor. Hoje, segundo especialistas ouvidos pela reportagem, eles continuam relevantes e necessários. Embora o modelo possa ter se tornado obsoleto, os eventos ainda pautam o tom da campanha e, principalmente, as estratégias dos candidatos.  

Segundo a doutora em ciência política e coordenadora do Observatório da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel), Sandra Avi, os debates televisivos desempenham função nos dois tipos de eleitor: o convicto no voto e o indeciso. 

“O eleitor que já sabe em quem vai votar usa o debate para se suprir de argumentos para usar esses argumentos nos dias seguintes, nas suas conversas pessoais, no trabalho para convencer seus colegas e familiares de votarem no candidato que ele escolheu. Já os indecisos assistem ao debate para entender quem são os candidatos, que estão mais próximos daquilo que esperam de um candidato”, explicou a cientista política.

Ela pondera que, ainda hoje, os debates são responsáveis por picos de audiência nas emissoras responsáveis. 

“A repercussão após o debate é grande também, principalmente com as redes sociais. Medições mostram que o alcance pode chegar a 70 milhões de pessoas, somando a audiência do dia e toda a replicação nas redes sociais e outros veículos.. Temos que ter em mente que os debates são grandes eventos midiáticos. Eles não interferem apenas na programação da emissora de televisão, mas mobilizam diversos agentes sociais. Criam expectativa nos candidatos, nas suas equipes e nos eleitores. É também o único momento da campanha em que o eleitor vê os candidatos ao vivo expondo suas propostas e até mesmo seu espectro ideológico”, destacou.  

Já o doutor em sociologia pela UFMG e pesquisador do Centro de Estudos Republicanos Brasileiros (CERBRAS) Rubens Goyatá avalia que os debates ainda mantêm a relevância, mas, ao longo dos anos, foram perdendo a força. 

“Na era pré internet, a televisão era o principal meio por onde os eleitores buscavam informação. Segundo pesquisas recentes, a TV ainda é o principal meio, mas perdeu espaço para as redes sociais, que são um espaço fragmentado de informação. Em resumo, não dá para dizer que os debates não possuem mais relevância e impacto. Não, eles possuem. Mas não como já tiveram”, afirmou.

Para ele, a audiência do debate acaba sendo maior para aqueles que se interessam muito por política e que já estão com o voto definido. 

Mudança no modelo

Já o modelo dos debates, para Sandra Avi, precisa ser revisto para que sejam mais atraentes ao eleitor. Segundo a pesquisadora, mudanças já vêm sendo percebidas. 

“Precisa ser repensado para um formato menos cansativo e mais atraente e que traga mais informação ao eleitor. Menos ataques e mais propositividade dos candidatos. Aí o debate no Brasil chegará em outro patamar”, afirmou.   

“A novidade esse ano é que teremos, em mais de um caso, um pool de emissoras para realização dos debates, isso já é um caminho para a mudança. Outra coisa é o horário. Se antes os debates costumavam ser dia de semana, às 22h, agora já foi no domingo. Então estamos caminhando para mudanças”, pontuou Sandra.

O sociólogo Rubens Goyatá também concorda com a necessidade de mudança no modelo, mas pondera que a legislação eleitoral o engessa.   

“A legislação eleitoral exige que todos os candidatos (dentro dos critérios impostos) sejam chamados. Isso deixa o debate cheio, com muitos candidatos para falar, pouco tempo para cada um. Deixa uma coisa engessada”, considera.

“Talvez seja uma boa ideia reformular a regra. A regra é aplicada em nome da isonomia, mas talvez seja interessante um pool de emissora, com mais tempo para os candidatos poderem falar e dialogarem”, destaca Goyatá.  

Faltar ao debate

É comum, em muitos pleitos, que os candidatos que lideram as pesquisas faltem aos debates. Tal estratégia, muitas vezes, é para evitar que o candidato vire ‘vidraça’ para os adversários. No entanto, para a cientista política Sandra Avi, muitas vezes, candidatos que optam por essa estratégia precisam, depois, se explicarem com o eleitor. 

“Em tese, o debate é positivo para candidatos mais desconhecidos que precisam se apresentar ao eleitor. Esse ano temos uma situação atípica, porque a disputa está polarizada entre um presidente em exercício e um ex-presidente. No entanto, muitas vezes faltar ao debate pode acarretar desgaste também. Em 2006, por exemplo, Lula não foi ao último debate do primeiro turno, isso o forçou a ir ao primeiro debate do segundo turno para se explicar”, afirma Avi.

Sobre 2018, em que Bolsonaro foi eleito faltando a todos os debates do segundo turno, a pesquisadora avalia que aquele pleito foi ‘fora da curva da normalidade’ e que o atentado sofrido por Bolsonaro amenizou o impacto da falta na população. 

“Quando ele sofreu o atentado e usou como álibi para não ir, os eleitores amenizaram, vamos dizer assim, o fato dele não ir. Agora em 2022 é diferente. Se ele estiver bem de saúde e não for, ele será cobrado por isso. E a própria campanha terá que avaliar. Porque ele não está na frente das pesquisas, precisa saber como está a avaliação do seu governo”, completa.

Por Franco Malheiro