SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende investir R$ 1 bilhão para repatriar cerca de mil cientistas brasileiros residentes no exterior, afirmou à Folha o presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Ricardo Galvão.

Conforme estimativa preliminar do MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), ao qual o órgão é vinculado, há hoje 35 mil pesquisadores brasileiros com mestrado e doutorado vivendo fora do país.

A ideia é fazer com que esses pesquisadores tenham incentivos financeiros para retornar e se fixar no Brasil, reduzindo a “fuga de cérebros” —quando cientistas que fazem sua formação acadêmica no país, parcial ou integralmente, se estabelecem em outras nações e, com isso, o conhecimento não é revertido em avanço científico e tecnológico para o país de origem.

“Em relação à diáspora, eu não gosto de chamar de ‘fuga de cérebros’ porque o cérebro está na cabeça da pessoa, mas nós fizemos um levantamento muito preliminar e chegamos na ordem de 35 mil brasileiros [fazendo pesquisa fora]”, disse Galvão. “Nós lançamos uma proposta ao FNDCT e gostaríamos de atraí-los de volta ou, aqueles que não vierem, que tenham um canal de colaboração com o Brasil.”

O FNDCT (Fundo Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico) é responsável por estabelecer os fundos setoriais do Orçamento federal. A expectativa é que R$ 400 milhões sejam liberados neste ano e o restante, até 2026.

O dinheiro, de acordo com o CNPq, será investido ao longo de três anos pelo conselho e pela agência Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) em duas chamadas lançadas simultaneamente. Por enquanto não há, porém, data para o lançamento dessas chamadas, afirmou o CNPq.

O projeto, batizado de Programa Conhecimento Brasil, prevê que os pesquisadores recebam bolsas especiais para se fixar em universidades e institutos no país –em um valor de R$ 13 mil mensais, equivalente ao salário de um professor-adjunto em universidades federais– e verba de até R$ 400 mil para criação de laboratórios.

Também há a intenção de que os pesquisadores repatriados atuem em empresas. “Não adianta ter ciência sendo feita só em instituições de pesquisa, pois assim o país não avança. Precisamos de doutores em empresas que promovam a inovação e o desenvolvimento tecnológico com base no conhecimento científico moderno”, disse Galvão.

OUTROS PROGRAMAS

Além da repatriação de cientistas, o CNPq diz que busca promover a inserção de meninas e mulheres na ciência, em especial nas áreas conhecidas como STEM —sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática.

No início do ano, o conselho lançou um edital para bolsas de doutorado sanduíche no exterior e pós-doutorado no valor de R$ 6 milhões para pesquisadoras negras, indígenas, quilombolas e ciganas, regularmente matriculadas em cursos de doutorado reconhecidos pela Capes ou que tenham concluído programas de pós-graduação reconhecidos pela Capes em qualquer área de conhecimento.

Segundo o CNPq, foram recebidas 537 inscrições no edital. O resultado preliminar será divulgado no dia 30 deste mês. O intercâmbio terá início no segundo semestre deste ano.

Outra iniciativa, lançada em março, foi o programa Mulheres na Ciência, em parceria com o MCTI e o Ministério da Mulher.

Com recursos na casa de R$ 100 milhões, o edital tem como público-alvo meninas matriculadas no 8º e 9º ano do ensino básico em escolas públicas e em cursos de graduação nas áreas de ciências exatas, engenharias e computação. As propostas poderão ser apresentadas até o dia 29 deste mês. A expectativa é aplicar R$ 20 milhões já em 2024.

O incentivo vem de um reconhecimento de disparidade entre homens e mulheres bolsistas do órgão. Segundo levantamento, as mulheres bolsistas PQ, como são chamadas as bolsas de produtividade e pesquisa, estão estagnadas em 36% há 20 anos.

“Queremos começar na base, com bolsas de iniciação científica, porque não adianta aumentar o número de bolsas no final da carreira [para professoras], se não há demanda. Queremos estimular as mulheres a entrarem no campo das ciências exatas, engenharia e computação. Isso não é só uma questão de justiça social, mas porque a sociedade como um todo perde muito [sem mais mulheres e meninas na ciência]”, afirmou Galvão.