SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – Um dos principais líderes políticos do Ceará, o senador Cid Gomes se filou ao PSB neste domingo (4) em um ato político em Fortaleza. O movimento sela o rompimento do senador com o seu irmão, o ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes, que permanece no PDT.

Cid mostrou força política na mudança partidária e chega ao partido levando 38 prefeitos e a secretária-executiva do Ministério da Educação, a ex-governadora Izolda Cela.

Dentre os novos prefeitos do PSB no Ceará está Ivo Gomes, irmão de Cid e Ciro que comanda a Prefeitura de Sobral, berço político da família.

Deputados estaduais e federais também devem acompanhar Cid na migração para o PSB, mas ela depende do aval da Justiça Eleitoral. Caso contrário, a mudança deve acontecer apenas na janela partidária de 2026.

Neste domingo, Cid subiu ao palco de mãos dadas com o ministro Camilo Santana (Educação), que governou o Ceará entre 2015 e 2022.

Depois, ao iniciar seu discurso, chamou Camilo de irmão: “Eu queria evitar expressão familiar, mas eu vou dizer: meu caro irmão Camilo Santana”, afirmou Cid, ao cumprimentar ministro.

“Quando eu procurei Camilo para ser o governador, não era para ser capacho meu. […] Eu procurei para ele ser um governador de estado melhor do que eu. E digo sem problema de vaidade: Camilo é hoje a maior liderança de estado do Ceará e eu me orgulho disso.”

A única referência a Ciro Gomes foi feita em meio a uma piada. Cid falou que foi o maior governador que Ceará já teve e citou a sua altura de 1,84m. Ao citar os antecessores mais recentes, afirmou que Ciro “foi um grande governador”.

Cid Gomes governou o Ceará entre 2007 e 2014. Já o seu irmão Ciro Gomes governou o estado entre 1991 e 1994.

O ato também teve participação do vice-presidente Geraldo Alckmin, do ministro Márcio França (Empreendedorismo), do governador do Maranhão, Carlos Brandão, e de líderes políticos do PSB.

No Ceará, o PSB é liderado pelo ex-deputado Eudoro Santana, pai do ministro da Educação Camilo Santana (PT).

A filiação de Cid Gomes mantém o seu grupo político como aliado do governador Elmano de Freitas (PT), revertendo o rompimento que aconteceu nas eleições de 2022. Na época, PT e PDT desfizeram uma aliança política de 16 anos por divergências na escolha do candidato a governador.

O PDT concorreu naquela eleição com Roberto Cláudio, ex-prefeito de Fortaleza, que foi indicado candidato após derrotar na disputa interna a então governadora Izolda Cela, nome preferido de Cid e de Camilo Santana.

A divergência fez com que os irmãos Ciro e Cid Gomes rompessem relações e racharam o PDT no Ceará, reduto eleitoral da família, em uma briga marcada por acusações de traições e arbitrariedades.

Ciro Gomes, que defende independência do PDT em relação ao governo petista no estado, acusa o irmão de tê-lo abandonado na eleição presidencial de 2022 e atuado em prol do presidente Lula (PT).

Do outro lado, Cid se afastou da disputa estadual e presidencial, abdicando da coordenação da campanha do irmão, posto que ocupou em outras vezes que Ciro disputou a Presidência.

Essa será a primeira vez que Cid e Ciro vão militar em partidos diferentes desde a filiação de ambos ao MDB em 1983. Desde então, os irmãos passaram por PSDB, PPS, PSB, Pros e PDT.

A migração de Cid também esvazia o PDT no Ceará, estado em que o partido tem maior força política.

Cid tem ao seu lado a maioria dos prefeitos eleitos pelo PDT no estado, além do apoio de 13 dos 16 deputados estaduais e todos os deputados federais, com exceção do presidente nacional em exercício do PDT, André Figueiredo.

Ciro, por sua vez, perdeu parte de seu capital político na eleição passada. Ele se afastou dos aliados e foi escondido da campanha de Roberto Cláudio ao governo do estado.

Em 2022, teve o seu pior resultado eleitoral no estado, conquistando apenas 6,8% dos votos. Em 2018, quando também concorreu ao Planalto, foi o candidato mais votado no Ceará, com 40,95%.

O PDT tem como prioridade neste ano a reeleição o prefeito Sarto Nogueira, aliado de Ciro que deve enfrentar um cenário conturbado na tentativa de um novo mandato.

A tendência é que o PSB de Cid caminhe com o candidato do PT –a deputada federal Luizianne Lins e o deputado estadual Evandro Leitão, que recentemente trocou o PDT pelo PT, são favoritos à indicação.

No campo da direita, devem disputar a prefeitura o ex-deputado Capitão Wagner (União Brasil), segundo colocado nas duas últimas eleições municipais em Fortaleza, e o deputado federal André Fernandes (PL).

A mudança de partido de Cid Gomes também deve dificultar as tratativas de PDT e PSB para formarem uma federação partidária nas eleições de 2026.

Parceiros nas eleições de 2020, os dois partidos firmaram alianças em 45 cidades com mais de 100 mil habitantes, incluindo dobradinhas em ao menos oito capitais. Contudo, se afastaram em 2022, após o PSB decidir apoiar a candidatura de Lula (PT) à Presidência.

Com redução em suas bancadas na Câmara dos Deputados, as duas legendas voltaram a se aproximar e a discutir as bases para uma possível federação. Na prática, contudo, as siglas têm se afastado.

Além do distanciamento no Ceará, os dois partidos também se afastaram em Pernambuco. O prefeito de Recife, João Campos (PSB), vai concorrer a um novo mandato em outubro, mas são pequenas as chances de manutenção na chapa da vice-prefeita Isabela de Roldão (PSB).

Quanto ao futuro de Ciro, a ideia do PDT é que ele continue no partido e atue para recuperar as perdas causadas pela briga com o irmão. Uma opção seria sua candidatura a deputado federal na eleição de 2026 para fortalecer a bancada pedetista na Câmara.