O Brasil enfrenta a seca mais duradoura, intensa e de maior proporção da sua história recente. Pela primeira vez, a seca afeta o país de forma generalizada, por toda a sua extensão. No entanto, o sofrimento não é uniforme.
No Norte, os rios estão secando e as cidades estão isoladas. No Centro-Oeste, o problema é o fogo que se alastra sobre a vegetação seca, colocando em risco o Pantanal. Incêndios também tomam o interior de SP, e a fumaça se espalha pelo Sudeste.
Os especialistas explicam que a intensidade da seca e os impactos têm a ver com fenômenos da natureza, como o El Niño, e com a ação humana, como as mudanças climáticas, o desmatamento e o uso ilegal do fogo, que estão queimando os biomas pelo país.
E é, de novo, a mão do homem que faz com que o país esteja em chamas, com regiões cobertas por fumaça. A coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, Suely Araújo, explica que, com a seca intensa, a vegetação se torna combustível, mas para queimar, precisa de fogo. Intencional ou não, sem autorização, é criminoso.
Abaixo, nesta reportagem, o g1 mostra um raio-x da seca pelas regiões do país. No menu a seguir, é possível selecionar a sua região para entender como isso te afeta.
- Norte: comunidades isoladas, rios secos e Zona Franca sob ameaça.
- Centro-Oeste: vulnerável ao fogo, Pantanal em risco e temperaturas recordes.
- Sudeste: região é a segunda mais impactada com a seca e tem cidades em alerta por incêndios
- Nordeste: oceanos aquecidos minimizam impactos, mas mais da metade da região está sob classificação de seca.
- Sul: Após catástrofe que alagou o Rio Grande do Sul, cenário começa a desenhar seca e especialistas alertam para futura estiagem.
Norte: comunidades isoladas, rios secos e Zona Franca sob ameaça
Cidades isoladas e comunidades ribeirinhas sem acesso a água ou comida. Escolas fechadas e toda a região sufocada pela fumaça Somado a isso, a Amazônia está vivendo sua pior temporada de queimada em anos. O cenário no Norte do país é de desastre.
Segundo os dados do Cemaden, das 450 cidades, 443 estão em situação de seca na região. No Acre, Amazonas, Pará, Roraima e Tocantins todas as cidades estão sob estiagem. (Veja a situação na sua cidade)
Isso está fazendo os rios baixarem a níveis recordes de forma acelerada. Segundo os dados do Cemaden, os principais rios da bacia estão até quatro metros mais baixos que no mesmo período do ano passado.
Isso impede a navegação nas cidades, que ficam sem insumos, e põe em risco a sobrevivência de animais. No Amazonas, todas as cidades entraram em situação de emergência.
O pesquisador Renato Sena, que atua no monitoramento das bacias hidrográficas da região no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), explica que a região já vive um cenário pior que o de 2023 e que a previsão não é otimista. Não há indicativo de que algo mude até 2025, o que vai expor ao extremo as vulnerabilidades da região.
A estiagem intensa no Norte impacta o restante do país. Isso porque a Amazônia é um grande bolsão de umidade, que é distribuído para o restante do território. Se não há umidade lá, a situação é agravada no restante do Brasil. E essa crise ambiental impacta diretamente na economia:
- 💰 A Zona Franca de Manaus, por exemplo, que concentra várias das maiores produtoras de eletrônicos do país, tem as águas como principal via de transporte. Com a baixa dos rios em 2023, as empresas anunciaram gastos extras de R$ 1,4 bilhão, o que afetou os preços dos produtos distribuídos pelo país. A área produtiva já alertou para novas perdas neste ano.
- 💰 Outro grande problema da estiagem é o desabastecimento de produtos agrícolas, resultado das quebras de safras e perda de alimentos. Os prejuízos na produção causam os chamados “choques de oferta”, que acontecem quando um produto passa a ter uma disponibilidade menor no mercado — e, por isso, seus preços sobem.
- 💰 Além disso, o sistema de produção de energia no Brasil é interligado e a baixa nos rios no Norte fez com que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) anunciasse o reforço com termelétricas, o que fez subir a conta de energia no país.
Centro-Oeste: vulnerável ao fogo, Pantanal em risco e temperaturas recordes
No Centro-Oeste, nenhuma das cidades dos três estados que compõem a região e o Distrito Federal se salvam da situação de seca. Segundo os dados do Cemaden, todas estão em estiagem em algum nível.
Na região, a maior preocupação são os incêndios no Pantanal. Neste ano, o bioma bateu o recorde de queimadas, que começaram antes da época de fogo, ainda em junho, e se estendem até agora. As chamas criaram um rastro de destruição, com animais mortos pelo caminho e a população sufocada pela fumaça.
Uma baía inundável próximo ao rio Paraguai, principal bacia do Pantanal, se transformou em um imenso lamaçal, em que centenas de peixes morreram agonizando.
G1