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Foto: Antônio Lima/Secom

Muito além do que trazem os livros didáticos, muitas vezes ultrapassados, alguns indígenas ganharam as redes sociais apresentando detalhes das suas culturas atualmente.

Sucesso nas redes, a indígena do povo baré e primeira influenciadora digital indígena do município de São Gabriel do Cachoeira (a 852 quilômetros de Manaus), Ira Maragua é o exemplo perfeito desse fenômeno.

Nessa sexta-feira, dia 19 de abril, é celebrado o Dia dos Povos Indígenas e, em alusão a essa data o portal Amazônia Press conversou com a influenciadora – que coleciona mais de 80 mil seguidores, entre as contas no Instagram e no Tik Tok.

Natural da região que concentra a maior quantidade de indígenas no Brasil, Ira se mudou para a capital há três anos em busca de novas oportunidades e desde então concilia a atividade de influencer com os estudos de Enfermagem e no Teatro. A jovem iniciou nas redes sociais em 2017, compartilhando a sua rotina no local onde atualmente vive, a comunidade Parque das Tribos, no bairro Tarumã, localizado na Zona Oeste de Manaus. O local também reúne outras 300 famílias de 37 etnias.

Foto: Tácio Melo/Amazonastur

A influenciadora indígena, Ira Maragua, acredita que as redes sociais podem ser boas ferramentas para quebra de rótulos carregados de desinformação.

“Sempre gostei de gravar e de mostrar um pouco do meu dia a dia na comunidade. Mas apenas a partir de 2018 que comecei a publicar nas redes sociais. Percebi que não tinha ninguém para mostrar a minha cultura, até porque já seguia alguns influenciadores do Amazonas, só que ninguém da minha região. Assim comecei mostrar as danças, a cultura, a tradição e os rios que cercam o meu dia a dia. Assim as pessoas foram chegando e mais eu tive eu tive o interesse de mostrar. Notei que todos foram gostando do meu conteúdo e eu fui mostrando mais a minha rotina. Com isso, vi que as coisas que eu mostrava são coisas que as pessoas não são acostumadas de ver no dia a dia isso causa muito interesse”, declarou.

De acordo com a influenciadora, por meio das redes sociais, ela tenta promover a cultura e o turismo presente na sua região.

Foto: Antônio Lima/Secom

“Quando eles falam sobre o indígena, sempre imaginam algo do tempo passado e eu tento mostrar que eu sou uma indígena raiz, só que do século 21. Mesmo morando em cidade grande, mostro para eles que eu não deixo a minha cura morrer, não deixo a minha tradição de lado e sempre permaneço com a minha cultura firme e forte em qualquer lugar. A rede social veio para quebrar esses estereótipos. Nós usamos a nossa rede social como uma forma de ferramenta para defender a nossa etnia, a nossa cultura. Hoje em dia, a internet é o nosso arco e flecha, é a nossa proteção”, destacou a influenciadora.

Representando a força da mulher indígena, Ira também é conhecida como a “Guardiã da Amazônia” – referência a um mural, assinado pelo artista Alessandro Hipz, que embeleza o Centro de Manaus. Para ela, receber esse apelido é sinônimo de privilégio e representatividade.

Foto: Jaime Amorim/divulgação

“Sempre estou levando a nossa cultura independentemente de local e de outro costume também. Amo mostrar os costumes do nosso Amazonas para outras pessoas. A guardiã pintada no Centro, próximo ao Porto de Manaus, representa todas as mulheres indígenas do nosso Brasil. Não representa apenas eu, indígena Baré, mas todas as etnias do Amazonas, todas as mulheres fortes e guerreiras do nosso Amazonas, e do nosso Brasil como um todo”, disse.

Disseminando pluralidade e ancestralidade e, claro, usando a tecnologia como uma aliada, a indígena, além de mostrar curiosidades sobre a vida na aldeia, também ensina técnicas de maquiagem com frutos típicos, como açaí e jenipapo, e tem como um dos seus talentos, a confecção de artesanato utilizando materiais da natureza, como o caroço de Tucumã. As roupas produzidas com grafismo indígena também são sucesso entre os internautas.

“Nas minhas redes sociais tento ocupar esse espaço da moda porque, além de sermos artesãs do que usamos, não é fácil você ir até no mato tirar o tururi (fibra de uma árvore sagrada para o povo da aldeia) que usamos como vestimenta, e buscar as tintas também é um trabalho difícil. É muito difícil você ver algum estilista, tem alguns que estão ocupando esse espaço. É essencial ocupar esse espaço mostrando um pouco da nossa cultura, tradição e da nossa vestimenta. Sempre tive o incentivo dos meus pais para fazer artesanato, a minha irmã é uma pessoa que sempre me incentivou também. Sempre tive um incentivo para esse trabalho”, comentou.

Para finalizar, Ira Maragua comentou um pouco sobre a importância do Dia dos Povos Indígenas para a história do Brasil.

“O Dia dos Povos Indígenas é essencial para lembrarmos que somos firmes, fortes e que nós indígenas, independente da etnia, vamos sempre apoiar a causa da Terra. Nunca vamos deixar a nossa cultura e a nossa tradição morrer ou ficar de lado. Esse dia é muito importante para lembrar a luta de cada um e de cada povo originário dessa terra. É para lembrarmos que somos indígenas raiz sim e nunca vamos deixar de ser quem somos de verdade”, finalizou.

Para Adriana, da etnia Munduruku, o trabalho exercido por Ira é de suma importância para a sociedade.

“Acho espetacular o que ela faz. Vejo o trabalho dela através das redes sociais e a admiro pelo fato dela mostrar diariamente a convivência, o contato e respeito com a natureza, além do coletivismo da comunidade. A repercussão dos conteúdos que ela compartilha com o mundo é inspirador, ela mostra com orgulho a herança e a ancestralidade indígena, a cultura do povo a que pertence e das demais etnias que estão ali também. A forma como ela preserva suas raízes é lindo”, disse.