Foto: acervo pessoal

Hapvida ou Hapmorte? Não é de hoje que mães e familiares entram em contato com a redação do portal Amazônia Press para denunciar a “negligência médica” proporcionada pelo plano de saúde oferecido pela rede hospitalar Hapvida. Em menos de um mês, o portal já trouxe cerca de quatro casos de crianças que correm risco de vida, ou vieram a óbito, nas “mãos” da Hapvida.

Como é o caso da vendedora Tayná Sarmento, de 27 anos. Mãe do Jonathan Ravi, de três anos de idade, Tayná revela que a criança se encontra internada atualmente no Hospital Rio Amazonas, no bairro Cachoeirinha, em decorrência de uma sequência de descasos do sistema de saúde. A criança – que tem Síndrome de Down – tem uma neuropatia causada por uma cirurgia feita no Hospital Francisca Mendes, que é do Sistema Único de Saúde (SUS). Desde então, o pequeno usa uma sonda para se alimentar, e, no dia 10 de março, a criança sofreu uma broncoaspiração após ter arrancado a sonda, que continha leite.

A broncoaspiração se trata da entrada de substâncias estranhas, tais como alimentos e saliva, na via respiratória. Essa condição pode ocorrer pelo enfraquecimento dos músculos usados na deglutição, o que pode causar a dificuldade no ato de engolir, também conhecida como disfagia.

Além disso, ela também revelou para a reportagem que, no dia 7 de março, Jonathan Ravi foi mandado para casa duas vezes com pneumonia química. No dia 15 de maio, a criança foi direto para a “sala vermelha” com um quadro gravíssimo de sepse pulmonar, foi entubado no mesmo dia e, atualmente, se encontra traqueostomizado.

“Quando cheguei com ele na Hapvida após a broncoaspiração, relatei para o médico o que tinha acontecido, aí ele bateu o raio-x, apareceu uma mancha no pulmão, mas ele o mandou para casa com alguns medicamentos. No dia 15, cheguei lá e a enfermeira não atendeu de imediato pois estava no celular. Quando vimos, já tínhamos que correr para a sala vermelha. Meu filho subiu para a UTI só 24 horas depois. Ele estava com a saturação muito baixa, só que estava sem vaga na UTI e veio liberar só perto das 18h da tarde”, revelou.

Além da entrevista exclusiva com o portal Amazônia Press, a vendedora Tayná Sarmento também publicou a denúncia e demonstrou o seu descontentamento por meio das suas redes sociais.

“Foi aí que conheci esse sistema corrupto que aceita planos e mais planos, mas não consegue atender a demanda. Quase todos os dias estão sem leitos vagos na UTI e com a superlotação de sempre. As pessoas estão morrendo de graça”, publicou.

Além disso, ela também relatou que, depois de um tempo, ficou sabendo que a medicação receitada anteriormente nunca ia fazer efeito.

“Depois eu venho saber que a medicação receitada nunca ia fazer efeito e, para todo mundo que eu conto sobre essa situação, principalmente as pessoas que trabalham na área da saúde, se espantam por eles terem mandado ele para casa depois de ter sofrido uma broncoaspiração, que ocorreu quando ele puxou a sonda e o leite veio pelo pulmão. Então, se eles tivessem internado, passado um antibiótico na veia, ou algo do gênero, pois não existe esse tratamento em casa. Se eles tivessem feito um tratamento pelo menos de 48 ou 72 horas com antibiótico teria feito algum efeito e ele não teria piorado e nem teria sido entubado. Aliás, ainda acho que a doutora tentou a entubação muito cedo, por exemplo, no SUS eu nunca vi uma intubação assim tão rápida”, comentou.

Ela disse ainda “Depois que ele foi entubado, a própria médica falou que foi aplicado um antibiótico errado e que ele nunca ia fazer efeito. Ou seja, era pra ter sido internado de imediato”.

Atualmente, com a traqueostomia, a criança vive internada na UTI. Outra denúncia feita por Tayná Sarmento é referente à algumas lesões e queimaduras na pele da criança que, segundo ela, o hospital Rio Amazonas alega que os ferimentos vieram da residência em que a criança vive e, em outro momento, afirmaram que foram ocasionadas pelo calor.

“Tenho muitas fotos aqui que mostram que ele foi muito lesionado. Tem queimaduras de quando ele saiu da UTI. Ainda tem algumas marcas porque eu só bati foto depois que ele saiu e foi depois de eu já ter cuidado dos ferimentos na costa dele, que estava muito lesionada. Eles não viravam ele, deixavam ele o tempo todo no calor dentro da UTI depois do banho, Cansei de chegar lá 13h da tarde e o ar-condicionado ainda estar desligado na UTI”, disse.

Complementou ainda: “Lembro também de quando eles não deixavam ficar lá, aí foi quando eu reclamei por causa das queimaduras. Eu bati foto de tudo. Tem um sensor que fica no pé dele e que mede a oximetria e os batimentos dele. Isso precisa ser de duas em duas horas. Vi que, quando eles estavam colocando, deixaram passar a noite toda e ele ficou cheio de bolhas de água. Foi aí que começou toda a confusão, que foi quando eu comecei a brigar e quando eu comecei a ver como que funcionava ali dentro. É um cobrindo o outro”.

Ela destaca que na última terça-feira (27), a criança estava internada e estável na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), até que a médica responsável apresentou para ela um sexame, de acordo com Tayná, “que não era verdade”.

“Antes de ontem o meu filho estava na UTI e se encontrava internado, estável, ótimo e acordado. Ela simplesmente matou o meu filho para mim e tirou todas minhas esperanças. Me mostrou um exame que não era verdade e hoje vou puxar todos os outros exames. Ela escreveu o resultado de caneta na hora e nem tinha chegado ainda o exame. Ele foi reanimado sem necessidade. O exame estava ‘sem pé nem cabeça’, pois estava alteradíssimo e hoje ela abafou o caso”, pontuou.

Em uma das situações, Tayná revelou que o seu filho foi socorrido às pressas na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) 24h Campos Sales, no bairro Tarumã, e que a criança nunca foi retirada de lá para o hospital da Hapvida, até que teve que fazer isso por conta própria. A mãe revela ainda que, ao cobrar o serviço que o plano de saúde cobre, foi bloqueada no WhatsApp pelo setor e pela médica responsável.

“Eles não me deram suporte algum. Foram 20 horas de espera e até hoje a ambulância nunca foi. Tive que fazer tudo por meios próprios, pois não tinha vaga no SUS com a superlotação que estava no Amazonas inteiro. Cheguei a conversar com uma amiga e ele pode voltar para o Hospital Francisca Mendes. O SUS é muito concorrido e muito lotado, diariamente as crianças sofrem por falta de vaga. Só que, mesmo assim, eu preferiria. O SUS é muito mais competente, já cheguei a passar dois anos no SUS e sou prova viva que é a melhor opção o plano do que Hapvida, que nem consultas e nem cirurgias conseguimos marcar”, concluiu.

Entramos em contato com a assessoria de imprensa da rede hospitalar Hapvida, mas, até o presente momento, ainda não obtivemos respostas.