O presidente Bashar al-Assad governou a Síria durante 24 anos. O Observatório Sirio para os Direitos Humanos (OSDH), uma ONG com sede no Reino Unido que monitora a guerra, informou neste domingo (8) que Assad fugiu do país depois que os rebeldes entraram na capital Damasco.
Sua fuga não significa apenas o fim de seu poder, mas de toda sua família. Assad assumiu o controle do país em 2000, sucedendo seu pai, que governava desde 1971. Assad conseguiu recuperar o controle de grande parte da Síria na guerra civil que começou em 2011, depois de enfrentar grandes protestos que exigiam a sua queda e uma rebelião armada que seu regime praticamente esmagou.
Durante anos, o líder sírio confiou em suas alianças com a Rússia, o Irã e o movimento libanês Hezbollah para permanecer no poder. E enquanto comandava uma guerra implacável de sobrevivência para seu governo, ele se apresentava ao povo e ao mundo como o único líder viável diante da ameaça extremista na Síria. Em 27 de novembro, no entanto, começou a ofensiva relâmpago dos islamistas, que rapidamente conquistou várias cidades no noroeste e centro do país, até então controladas pelo regime de Assad.
Os rebeldes, liderados pelo grupo islamista Hayat Tahrir al Sham (HTS), anunciaram neste domingo sua entrada em Damasco. “O tirano” Assad “fugiu”, afirmou a aliança de grupos rebeldes. A Rússia, por sua vez, anunciou que o presidente “renunciou” e deixou o país, sem revelar seu destino.
Sem oposição
Durante anos, Assad se apresentou como o protetor das minorias sírias, baluarte contra o extremismo e único provedor possível de estabilidade para um país devastado pela guerra. Nas várias eleições organizadas ao longo dos anos, ele sempre recebeu a maioria esmagadora dos votos. As votações, realizadas apenas em territórios controlados pelo governo, foram consideradas irregulares pelas potências ocidentais e grupos de direitos humanos.
Bashar al-Assad, um oftalmologista formado no Reino Unido, viu seu destino mudar com a morte, em um acidente de trânsito em Damasco em 1994, de Basel, seu irmão mais velho, que seria o “herdeiro político” do pai. Ele foi então forçado a deixar Londres, onde conheceu sua esposa Asma, uma sírio-britânica que trabalhava na ‘City’ para JP Morgan.
Assad fez um curso militar antes de se iniciar nos assuntos políticos com seu pai, líder do partido Baath, que impôs um regime hermético no país, no qual a menor suspeita de dissidência poderia levar à prisão ou a algo pior. Após a morte do pai Hafez al-Assad em 2000, Bashar al-Assad o sucedeu com um referendo celebrado sem a participação da oposição. Foi reeleito para um segundo mandato em 2007.
Então, com apenas 34 anos, representou uma figura reformista para iniciar a liberalização econômica e uma relativa abertura política do país. Começou injetando uma tímida dose de liberdade, mas a “Primavera de Damasco” teve vida curta. Os opositores foram rapidamente silenciados e presos.
Uma revolta pacífica e pró-democracia contra Assad em 2011, durante a Primavera Árabe, se transformou em uma guerra civil em grande escala que devastou o país e atraiu potências regionais e mundiais. Assad ordenou a violenta repressão aos protestos de rua contra seu regime. A repressão provocou grande pressão internacional para que ele deixasse o poder, e o caos que tomou a Síria durante a guerra civil ameaçou a sobrevivência de seu regime.
A guerra deixou mais de 500.000 mortos e provocou o deslocamento de metade da população. Mas a posição de Assad sobre os manifestantes e a oposição não mudou. Para a população síria e o mundo, Assad, pai de dois meninos e uma menina, justificou os bombardeios e as campanhas militares como uma guerra contra os “terroristas”.
Publicado por Luisa Cardoso
*Com informações da AFP