SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Há 30 anos, um dos mais bizarros acidentes aéreos da história tomava conta das páginas dos jornais de todo mundo. O voo 593 da companhia russa Aeroflot, que havia saído da capital, Moscou, não chegou ao seu destino, em Hong Kong, na China. A aeronave caiu na Sibéria porque o piloto deixou seus filhos brincarem na cabine do avião. Todas as 75 pessoas a bordo morreram.

Era madrugada de 23 de março de 1994. Passadas quatro horas de voo, o piloto Iaroslav Kudrinski já sobrevoava a congelante Sibéria, utilizando o piloto automático. Então, decidiu chamar seus filhos para conhecer a cabine de comando. Primeiro, Yana, 12, sentou-se na poltrona do comandante. Seu pai pediu para que ela segurasse o manche do avião, com o cuidado de não apertar nenhum botão.

Para divertir a menina, Kudrinski acionou, no sistema automático, um comando para a aeronave virar levemente à esquerda. Assim, a garota teria a sensação de estar mesmo pilotando o avião, um Airbus A310-300, um dos modelos mais modernos da época, que acabara de ser incorporado à frota da Aeroflot.

Com o avião de volta ao prumo, o comandante pediu para que o filho Eldar, 16, se sentasse na cadeira. Só que, ao fazer a mesma manobra de sua irmã, ele forçou demais o manche, desligando o piloto automático sem que ninguém percebesse. Enquanto isso, o avião continuou aumentando a inclinação das asas.

“Por que o avião está girando assim?”, perguntou o garoto, conforme mostram os áudios encontrados na caixa-preta. “O que você fez!?”, respondeu o capitão, ao que o filho retrucou: “Não sei!”. Quando o relógio indicava 00h58, a aeronave saiu do radar e iniciou uma queda livre. O copiloto Igor Vasilievich Piskariov tomou o controle e tentou corrigir o problema, embicando o “nariz” do Airbus para o alto.

“Nós vamos sair dessa, está tudo bem”, disse o comandante. O modelo, no entanto, perdeu sustentação e voltou à queda livre. Naquela madrugada, o A310-300 se chocou contra uma cadeia de montanhas a 20 quilômetros da cidade de Mejdurechensk.

Faltavam ainda mais seis horas de voo. A queda da aeronave se deu sem que a tripulação emitisse um pedido de emergência aos órgãos de controle do tráfego aéreo. O acidente logo se tornou uma polêmica internacional. De início, a Rússia tentou omitir as razões da queda do avião, em especial o fato de ter sido provocada pelo filho do piloto.

O governo chegou a afirmar que o problema havia sido técnico e que, se o avião fosse russo, nada teria ocorrido. De todo modo, os motivos do acidente só foram esclarecidos com a descoberta da caixa-preta e as gravações nela contidas.

Ao contrário do que alegaram as autoridades russas, nenhum problema técnico foi verificado ao término das investigações. A tragédia do voo Aeroflot 593 mudou as regras de segurança da aviação.

Os investigadores recomendaram a ampliação do treinamento de tripulantes para que soubessem sair da mesma situação ocorrida naquela noite. Além disso, a indústria aeronáutica investiu em novas tecnologias para evitar que o piloto automático desligasse acidentalmente.

Até regras para entrada de visitantes nas cabines foram criadas —o que foi reforçado depois dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.

A linha A310, da Airbus, inaugurou o conceito de “família de jatos”. Com o lançamento da linha, surgiram dois modelos: o A310-200 e o A310-300. Ambos foram criados para percorrer longas distâncias. O A310 tem 13 seções a menos na fuselagem que o A300. As asas e a cabine têm uma arquitetura mais arrojada.

Em especial, o A310-300 se tornou, em pouco tempo, um sucesso de vendas ao redor do mundo. Na época, o motor era elogiado por ser mais econômico.