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O descaso envolvendo a empresa Amazonas Energia e ex-funcionários da concessionária de energia aparenta não ter um fim próximo. Ainda sem respostas ou qualquer desfecho, os mais de 300 profissionais continuam aguardando por algum posicionamento referente ao pagamento das rescisões e das indenizações. As histórias dos eletricistas que procuraram a redação do portal Amazônia Press são as mesmas, mas os personagens envolvidos são diferentes e, para o ex-funcionário Ranery Ferreira Costa, de 45 anos, essa história ainda parece longe de acabar.

Quase dez anos sem receber um centavo de indenização e rescisão das duas empresas que prestaram serviço para Amazonas Energia. Esses anos todos fui me virando como podia trabalhando. Enquanto tiver força e saúde estarei trabalhando e lutando esperando que um dia a gente receba esse dinheiro que eles estão me devendo. Passamos anos e anos trabalhando no perigo, vi os caras morrendo em mais um serviço para quando chegar no final do contrato não receber um centavo. Não foi recebido nada, só promessa de que iam pagar e nunca pagaram. Eu e todos que trabalhavam na minha época estamos aí lutando, uns até já morreram esperando esse dinheiro e até agora nada”, denunciou.

Ex-funcionário Ranery Ferreira Costa, de 45 anos – foto: acervo pessoal

Além disso, o ex-funcionário Ranery Ferreira Costa também destacou os “foras” recebidos pelos profissionais por parte da empresa. De acordo com ele, a Amazonas Energia vive de promessas, mas sem nenhuma resposta.

“Infelizmente ainda esperamos um dia receber, mas é complicado isso de não ter certeza se vai receber ou não. Enquanto isso tem que trabalhar, né? Tem que colocar comida para dentro de casa. Tem sido muito difícil, eles ficam só de promessas e nunca chega. Só recebemos desculpas e então some. Tenho um ‘bocado’ de processos contra a Amazonas Energia e até hoje não recebi nenhum. Em momento algum a Amazonas Energia se pronunciou”, complementou.

Mesma história, outros personagens

“Sempre atrasavam os salários, vale-transporte e vale-refeição. Ou seja, não foi algo de se surpreender”, declarou o eletricista e ex-funcionário da concessionária Amazonas Energia, Arielsom Da Silva Pinheiro, de 33 anos. Em entrevista ao portal de notícias Amazônia Press ele, que é um dos mais de 300 ex-funcionários da empresa, declarou que junto aos demais profissionais luta pelo o que lhes é de direito: o pagamento das rescisões e das indenizações. Com uma história semelhante a de outros profissionais, Arielson declarou estar com dívidas atrasadas.

“A minha história é mais uma igual a de outros amigos eletricistas. Estou com um processo ativo, já passou várias audiências e já ganhamos, mas nada de receber. É um sentimento de tristeza e revolta. Sinceramente, só Deus para nos dar conforto e forças para continuar. Estou com dívidas atrasadas e também com o nome no Serasa. O banco ainda fica me ligando, mas não tenho condições de negociar. Graças a Deus não moro alugado e nem pago pensão, mas penso nos parceiros que passam por isso. Que Justiça é essa? queremos o que é nosso por direito. Nós trabalhamos, prestamos nossos serviços; dedicamos nossos tempos pra isso ao invés de ficar com a nossa família”, disse indignado.

De acordo com Arielson, os principais problemas na Amazonas Energia envolvem ameaças constantes e politicagem.

“No início eles iam para as audiências, mas, depois de um tempo pararam. Longe de ser pessimista, mas acho que estamos longe do fim essa história (Deus queira que não). O problema é que eles cobram muito. Sempre foi assim e com ameaças, tudo era motivo de suspensão e justa causa. Quando saia por justa causa iam na justiça e ficavam sem receber, e quando recebia eram depois de anos e anos. Já é comum a Amazonas Energia receber ação judicial. É politicagem”, destacou.

Não é a primeira vez

O ex-funcionário José Márcio Bezerra de Oliveira, que trabalhou durante oito anos no plantão de atendimento ao cliente da D5 e, como ressalta, na Super Luz não foi algo diferente.

“Sempre fui um profissional dedicado e compromissado com a empresa, sempre dei meu melhor por onde passei, honrando essas empresas como minha experiência e competência naquilo que me propus a fazer. Foram anos e anos de dedicação jogados fora. Estamos há 6 anos na espera de receber aquilo que é nosso por direito. Chegaram a fazer a gente assinar a recisão na esperança de recebermos o nosso dinheiro e como sempre ficou apenas em falácias”, ressaltou.

Assim como outros denunciantes, José Márcio também declarou que a empresa havia feito um acordo de que pagaria todos os funcionários até 2022 mas, após uma ação protocolada pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), a Amazonas Energia foi retirada do processo.

“A Amazonas Energia, se comprometeu a nos pagar, alegando não querer que nenhum problema anterior viesse manchar o nome da empresa. Porém, novamente fomos enganados, pois a mesma não cumpriu com sua palavra ao nos deixar, de novo, sem resposta ou respaldo. Somos trabalhadores e pais de família exigindo apenas o que é de direito nosso, nada mais que isso! Não é possível que isso tudo tenha acontecido e nada e nem ninguém possa fazer algo em nosso favor”, expressou.

Ainda durante a denúncia, o ex-funcionário também alegou que caso tivesse contado apenas com a esperança de receber o dinheiro, ele e sua família teriam morrido de tome.

“Fui fazendo pequenos serviços, correndo atrás de outros trabalhos, de outra batalha pois a gente não pode ficar parado. Se eu fosse depender desse dinheiro aí, minha família tinha morrido de fome. Já são seis anos esperando esse dinheiro e a gente sempre com a esperança. Aí o advogado sempre dizia que tal esse ano vai sair aí quando chegava o prazo aí não saía e toda vida isso acontece. A gente só com a esperança que um dia possamos receber o nosso dinheiro que tanto trabalhamos. Todos somos pais de família que trabalhavam de noite ou de madrugada, se fosse possível a gente trabalhava na chuva para dar o melhor pela empresa. Aí empresa pegar e fazer isso com a gente é muito triste”, pontuou.

Complementou ainda: Sempre estivemos eh deixar todos os consumidores satisfeitos. Aonde a gente chegava, aonde às vezes o cliente estava com três ou quatro dias sem energia, resolvíamos e todos ficavam satisfeito. Compravam até merenda para gente, porque as vezes ficávamos até sem almoçar para executar o serviço. A gente só pede que tudo se resolva por ser um direito nosso. Eu não queria outra coisa não. Só quero o meu dinheiro que eu trabalhei e que tenho por direito como um trabalhador”.

Denúncias anteriores

Em entrevista gravada, o ex-funcionário da extinta D5 e Super Luz – empresas terceirizadas que prestavam serviço de plantão para a concessionária de energia – Genilson Tavares de Mendonça, de 53 anos, aguarda há sete anos receber todos os seus direitos e indenizações fruto do seu trabalho.

“Essas empresas declararam falência, ambas são do mesmo dono João Vigílio. Foram mais de 240 funcionários, pais de família, que ficaram ‘a ver navios’. Então, quando a Amazonas Energia comprou em 2018 a Eletrobrás, ficou de pagar todos os funcionários em 2022. Só que nesse ano, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) simplesmente deu uma canetada e tirou a Amazonas Energia do processo. Ela havia se comprometido a pagar e mexeram em algo que acabaram sacaneando a gente lá em Brasília. É uma ‘peleja’. A minha advogada disse que teríamos esperar por algum processo, só que esse dono não tem nada no nome dele e todo mundo o conhece aqui em Manaus. Ele era dono de uma concessionária de veículos e nós víamos ele dando carro de presente para o pessoal da Amazonas Energia. Era muita coisa. Sacanearam todos nós, trabalhadores, que ficávamos ali dia e noite oferecendo a nossa mão de obra. Sö sei que tem muita gente em processo contra essa empresa”, declarou.

“Essa empresa fez um monopólio no Amazonas. Essa empresa e a Norte Tech são do mesmo dono, ou seja, ele terceirizou um trabalho dele mesmo. Nessa empresa, eles fazem a gente de cobaia. Aqui no V* tem um condomínio de luxo e os serviços dentro desses locais devem ser particulares. Todos esses serviços são privados. Eles fizeram os funcionários se descaracterizarem, trocar de farda, cobrir a placa da Amazonas Energia e trocar todas as luminárias de lá. Eles tomam conta do Amazonas inteiro. Nós somos a fonte de tudo e se nós parássemos, Manaus parava. Eles nos chamavam de ‘Tropa de Elite’ e nos jogaram no lixo. O que mais complica, na realidade, é que os caras tem medo, ainda mais que eles ameaçavam direto que, quem jogasse a Amazonas Energia na Justiça, não se empregaria mais no Amazonas. Com essas ameaças, o pessoal foi deixando de lado o processo. A indignação de estar esperando esse tempo todinho um dinheiro pelo qual trabalhou por anos da sua vida e ter um desprezo desse. Ver o cara que você trabalhou e enriqueceu às custas do seu trabalho te menosprezando dessa forma é algo muito triste”, declarou.

Genilson Tavares de Mendonça, de 53 anos, também comentou sobre o projeto ‘Energia Solidária’, uma ação da Amazonas Energia que conta com a participação de colaboradores da Empresa que ajudam na montagem e entregas dos kits para auxiliar várias famílias que estão passando necessidades. O projeto ‘Energia Solidária’ tem como slogan: Mais que energia, distribuindo solidariedade para o Amazonas.

“Aquilo ali é uma baita de uma safadeza. Os funcionários da empresa não tem direito de pegar um rancho daquele. Sabe quem pega esses ranchos? Supervisor e seus parentes, mas o cara que está ali ralando na rua não tem o direito de pegar. Outro dia denunciei o gerente do setor, pois cansei de vê-lo passando com duas cestas básicas e colocando no carro, enquanto nós ficávamos olhando ele fazer tudo aquilo. O salário dele é quase 30 vezes maior que o nosso e nem precisava daquilo”, disse.

Após nove anos trabalhando na D5 e dois anos na Super Luz, Conrado Gomes, relata com indenização que, até o momento, ele e outros ex-funcionários não receberam nada da concessionária de energia.

“Já está com nove anos que é só audiência e nunca pagam. Somos pra mais de 500 funcionários e, desse tanto, apenas 200 receberam. O restante não recebeu nada até hoje e só temos audiências”, declarou.

A mesma situação aconteceu com Francisco Elison de Barrozo, de 37 anos. Há sete anos na Justiça contra a concessionária de energia, ele ressalta que, assim que foi demitido, precisou buscar medidas judiciais para ter o seu direito.

“Até agora o nosso processo está só rolando… nada de recebermos 1 centavo. Assim que saímos demos entrada nas papeladas e até agora nada. Alguns amigos ainda tiveram a sorte de receber, mas os outros ainda não tiveram retorno. Em nenhum momento a empresa prestou algum esclarecimento para a gente”, frisou.

Eldadd Felix da Silva trabalhou por cerca de 11 anos na concessionária de energia e, até os dias atuais, revela que se impressiona com a forma que os ex-funcionários da empresas são tratados e negligenciados.

“Nos últimos anos 9 anos que estamos na Justiça eles não estão nem preocupados com a gente. Não é tão importante para eles. Ficam ‘empurrando com a barriga’, dizem que vão pagar e não pagam. Não tem mais audiência. Todas as audiências que tínhamos acabou e estamos apenas esperando a boa vontade deles. São muitos anos de dedicação para, no final, não termos amparo algum. Chega a ser desesperador”, disse.

A equipe de jornalismo do portal Amazônia Press entrou em contato com a assessoria de comunicação da Amazonas Energia em busca de mais esclarecimentos, mas até o momento não obtivemos retorno.