A despesa com gás de cozinha dos 20% mais pobres é, proporcionalmente ao rendimento médio dessa faixa, 12 vezes maior que a dos 20% mais ricos dos país. Essa mesma proporção é de seis vezes para o gasto com energia elétrica e água e esgoto. É o que aponta a pesquisa anual Síntese dos Indicadores Sociais, com base em dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018, do IBGE.
O estudo calculou a proporção das despesas familiares com itens relacionados à habitação como gás, energia elétrica, água e esgoto, aluguel e condomínio e viu que nos quatro primeiros itens, quanto menor é o rendimento, maior é o gasto, proporcionalmente, com despesas básicas.
A despesa só não é proporcionalmente maior quando se trata do gasto com condomínio, onde os 20% mais ricos tem gasto 4,5 vezes maior que os 20% mais pobres.
Na comparação entre as pesquisas da POF de 2008-2009 e 2017-2018 quando se analisa cor ou raça, o estudo revela ainda que pretos e pardos elevaram seu comprometimento da renda com eletricidade e com aluguel, enquanto brancos elevaram comprometimento da renda com condomínio.
Inflação é vilã
Bruno Perez, analista do IBGE, explica que um dos elementos que pode ter determinado o comprometimento maior da renda é a inflação, já que o gasto com as despesas básicas atinge principalmente as famílias mais pobres.
Leia Também
“Entre 2007 e 2017, tivemos uma elevação do índice geral de preços de 80%. Mas quando olhamos para o item água e esgoto, a elevação dos preços foi de 114,9%; de aluguel residencial, 109,1% e botijão de gás, 106,3%”, diz Perez.
O pesquisador chama a atenção ainda para a elevação dos preços de energia, gás de botijão, água e esgoto, cujos preços são administrados e passam a ter comportamento acima da inflação a partir de 2014.
“Outro elemento que influenciou o comprometimento das famílias com relação aos itens foi a elevação de 4,7 ponto percentual na proporção de famílias que realizam despesas com esses itens selecionados. Isso pode ser determinado tanto pela expansão da cobertura dos serviços e redução de políticas de gratuidade”, conclui o analista.