Alçada ao comando do PTB pelas mãos de Roberto Jefferson e agora acusada de traição pelo próprio padrinho, Graciela Nienov enfrenta uma disputa pelo controle do partido que pode levar à sua queda com a convocação de nova convenção marcada para esta sexta-feira.
A confusão virou uma ocorrência policial e foi parar na Justiça. Ao GLOBO, ela diz que não renunciará ao comando da legenda e afirma que, diante das ameaças que têm recebido, teme pela sua vida.
Nos próximos dias, Graciela terá de prestar um depoimento à Polícia Federal para se explicar sobre áudios de WhatsApp em que ela teria mencionado um encontro com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal que determinou a prisão de Roberto Jefferson. O magistrado negou o contato com a presidente do PTB, que diz que foi “uma brincadeira”.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
A senhora está sendo acusada de traição por Roberto Jefferson após conversas vazadas de um grupo de WhatsApp… Eu não falo do Roberto Jefferson em momento algum nas mensagens. O que aconteceu é que temos um pequeno grupo de amigos. Quando optamos por trocar a presidência do PTB mulher, uma integrante do grupo se revoltou, pegou as mensagens e levou para o Roberto. Ali, dentro do partido, iniciou-se uma quinta coluna para tomar o comando do PTB.
Nas mensagens, a senhora menciona uma proximidade com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Qual a sua relação com ele? Naquele dia, Alexandre tinha dado uma decisão que nos favorecia. O que eu fiz ali foi uma brincadeira besta. Mas eu nunca vi o Alexandre na minha frente, nunca tive contato e muito menos pedi agenda com ele. Quando a Paula (amiga) diz que quer o STF de costa para nós, é porque não queremos ficar brigando com o STF. Então, foi uma brincadeira. Nunca vi Alexandre nem de longe.
Pelas mensagens, havia certo temor de prisão. A senhora tem medo de ser presa? Quem não tem?
A senhora fez algo que lhe faça ter medo? Em nenhum momento. O que nós queríamos mais era que não continuassem as agressões dentro do partido. Tanto que cessou. Nós respeitamos as instituições. Em nenhum momento nós batemos em partidos.
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A senhora procurou Roberto Jefferson para conversar? Eu tentei conversar com ele através da Ana (mulher dele), mas ele não quis me ouvir. Pedi para falar com ele para que entendesse que não tem ninguém tramando contra ele. Quando a gente fala da quinta coluna, realmente tem uma quinta coluna que quer comandar o PTB. Mas Roberto fez uma carta me destruindo. Eu não poderia deixar o partido depois daquele momento. Ele me disse: “Vá em paz”. Como um pai diz isso para uma filha? Foi a resposta dele para mim. Não houve traição, mas uma interferência dessa quinta coluna que sempre teve poder. E eles não conseguiram entender que o tempo era outro. Quando entenderam que o processo realmente estava sendo coordenado por mim, que eu estava trazendo deputados, viram que eu tinha vontade própria, não era uma boneca de pano e isso começou a incomodar o grupo.
A senhora se sente traída por Roberto Jefferson? Me sinto e tenho compaixão por ele. Rezo todas noites para que Deus o perdoe.
A senhora protocolou no Supremo Tribunal Federal uma medida para reavaliar o comportamento de Roberto Jefferson alegando que ele tem feito política, o que pode fazer com que ele seja preso novamente. Por que fez isso? Eu tenho provas. Ficou claro que ele exerceu (atividade partidária) nesse momento. É uma defesa minha. Eu preciso me defender. É o meu direito de me defender. O pedido é para restabelecer meu acesso a senhas do partido, às contas. Estão fazendo pagamentos. Como vou provar depois que não fui eu que autorizei isso?
Mas a senhora chegou a renunciar ao comando do PTB? Eu conversei com a Ana e decidimos que, se achássemos necessário, eu poderia até analisar (a renúncia), mas nunca acertei isso. Houve uma conversa, através da Ana, de pai para filha para ver de que forma podíamos acertar isso para que ninguém saísse prejudicado, porque ali o que importava não era a política, mas o que nossos corações estavam sentindo. Mas a partir do momento que ele escreve uma carta tirando minha honra, a honra dos deputados, aí você passa a entender que não tem mais conversa. E agora tenho de mostrar para o Brasil que não sou traidora.
E por que a senhora registrou boletim de ocorrência? Porque sofri ameaças de morte. Eu temo pela minha vida. Fui ameaçada por um coronel que bate em mulher, por um advogado atirador. Hoje eu temo pela minha vida e pela vida da minha família.
Quando a confusão no PTB veio à tona, a senhora negou ter traído Roberto Jefferson, mas agora decidiu falar. Por que agora? Preciso provar e retomar minha honra. Não sou traíra. É tudo uma farsa para retomar o poder. Eles bloquearam as dependências do partido e as contas, sequestraram meu WhatsApp, mandaram mensagens ameaçadoras e querem me por essa pecha de traidora. Mas tudo começou no 7 de setembro ao recusar o pedido de Roberto Jefferson para ler uma carta de ataques ao Supremo.
O PTB ainda vai dar sustentação para a campanha de reeleição de Jair Bolsonaro? Até então, sim. Mas não consegui medir o desgaste disso. Por enquanto, eu me retirei do processo de comitê de campanha. Quis dar um tempo porque agora preciso cuidar da saúde do partido. É hora de cuidar da casa.
Há uma convenção marcada para sexta, dia 11, para trocar o comando do PTB. O que a senhora pretende fazer? Essa convenção não tem como acontecer, com ameaças a deputados. Há boletim de ocorrência (policial) registrado. Como vou acreditar que as outras pessoas não estão sofrendo ameaças? Três pessoas relataram ter sofrido ameaças.