SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Argélia está em um impasse desde a noite do último domingo (8), quando os números das eleições da véspera foram contestados pelos principais candidatos do pleito incluindo o suposto vencedor, Abdelmadjid Tebboune, atual presidente do país africano.
O imbróglio gira em torno principalmente da taxa de comparecimento dos eleitores, que ficou aquém do desejado na vitória de Tebboune em 2019, quando apenas 39,9% do eleitorado compareceu em meio a uma campanha de boicote.
No sábado (7), após o fechamento das urnas, as autoridades eleitorais afirmaram que 48% dos eleitores haviam votado, o que seria suficiente para ultrapassar a participação das últimas eleições. No dia seguinte, porém, as mesmas autoridades afirmaram que 5,6 milhões dos cerca de 24 milhões de eleitores do país haviam participado do pleito, o que englobaria apenas 23,3% do eleitorado.
Os números foram prontamente contestados pelos adversários de Tebboune Abdelaali Hassani Cherif, 57, líder do Movimento Sociedade pela Paz, e Youcef Aouchiche, 41, que lidera a Frente das Forças Socialistas.
O porta-voz do primeiro, Ahmed Sadok, classificou os resultados de farsa. Segundo ele, seu candidato havia recebido muito mais votos do que os anunciados, de acordo com as próprias contagens da campanha. A equipe afirmou ainda que funcionários dos postos de votação foram pressionados a inflar os resultados.
Na noite de domingo, de forma inédita, as equipes de campanha dos três candidatos, incluindo a de Tebboune, denunciaram em um comunicado conjunto “irregularidades e contradições nos resultados” anunciados pela autoridade eleitoral, alertando a população para “a imprecisão e as contradições dos números”. Os três também mencionaram um “erro no anúncio dos percentuais de cada candidato”.
Dificilmente as contestações vão mudar o vencedor. Os resultados preliminares oficiais deram a Tebboune 95% dos votos contra 3% de Hassani Cherif e 2% de Aouchiche.
O favoritismo do atual presidente já era esperado em uma eleição na qual mais de dez candidaturas foram barradas pelo órgão eleitoral incluindo a da advogada Zubaida Assoul, líder do partido que participou dos protestos de 2019 que derrubaram Abdelaziz Bouteflika, no poder havia 20 anos.
A provável reeleição de Tebboune significa que a Argélia provavelmente continuará com um programa de governo que retomou gastos sociais com base nas receitas de energia, que aumentaram após um período de preços baixos do petróleo.
Ele prometeu aumentar os benefícios para desempregados, as pensões e os programas de habitação pública. “Enquanto Tebboune continuar a aumentar os salários e as pensões e manter os subsídios, ele será o melhor aos meus olhos”, disse à agência de notícias Reuters Ali, que estava em uma cafeteria na comuna de Ouled Fayet e não quis informar seu sobrenome.
No campo da política, sua vitória coloca a Argélia no caminho de outros países do norte da África que tentaram derrubar governos autoritários após a Primavera Árabe, em 2010, mas que seguiram sendo governadas por líderes autoritários subordinados às Forças Armadas.
Na Argélia, os protestos levaram centenas de milhares de pessoas às ruas todas as semanas por mais de um ano exigindo o fim da corrupção e a destituição da elite governante, mas foram interrompidos pela pandemia de Covid-19. Atualmente, Tebboune apoia uma abordagem rígida das forças de segurança, que prenderam dissidentes proeminentes.
“A participação é muito baixa. Isso mostra que a grande maioria é como eu”, disse à Reuters Slimane, 24, um morador da comuna de Ouled Fayet que também pediu para não dar seu sobrenome. Ele disse que não votou porque não confia em políticos.