SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O entorno da praça da República, no centro de São Paulo, e as imediações do Autódromo de Interlagos, na zona sul, são os dois locais que mais registraram roubos de celulares na cidade no ano passado.

Os dados fazem parte de um mapa elaborado pela Folha, que analisou as 179.002 ocorrências registradas em 2023 no município.

O endereço histórico do centro consta em 1.917 boletins de ocorrência feitos por vítimas que perderam seus aparelhos ao longo do ano passado. O número é bem próximo às 1.890 vezes em que o Autódromo de Interlagos, que atrai multidões durante shows e festivais de música, foi informado nas delegacias por pessoas que sofreram esse tipo de crime.

Todos esses números foram fornecidos pela Secretaria de Segurança Pública do estado e analisados pelo núcleo de jornalismo de dados da Folha. O método usado foi o de agrupar os casos por quadras de acordo com a geolocalização informada nos boletins.

Ao analisar as regiões da cidade, o centro é a área a mais afetada por esse tipo de crime por concentrar mais quarteirões com altas quantidades de registro.

Já as áreas com menores índices de roubos e furtos ficam nos extremos norte e sul da cidade, onde também há mais quadras sem nenhuma ocorrência. Marsilac teve 21 casos registrados em um ano, o menor número entre os distritos. No outro extremo está a República, no topo da lista, com 10.398 casos.

Além da quadra da praça da República, primeiro lugar no ranking, também estão entre os primeiros lugares diversos outros quarteirões do centro. É o caso, por exemplo, do terceiro colocado, o trecho da rua Augusta entre as ruas Peixoto Gomide e Dona Antônia de Queirós, com 1.769 casos.

Dois quarterões da avenida Paulista com Augusta aparecem na sequência, em quarto e quinto lugares no ranking. Até a esquina mais famosa da cidade —a das avenidas Ipiranga com São João— está no top 10. Em todos esses espaços citadas, foram mais de mil registros de roubos no ano passado.

Em comum, esses pontos são caracterizados pela intensa movimentação de pedestres, o que atrai a chamada gangue da bicicleta, formada por ladrões em duas rodas que aproveitam a distração das vítimas para lhes arrancar o telefone da mão.

Em nota, a SSP disse que os esforços para reduzir a atuação da rede de receptadores resultaram na queda de 11,9% de furtos e roubos de celular na capital. A Polícia Civil afirmou que recuperou 6.200 aparelhos até fevereiro deste ano, dos quais 2.441 foram devolvidos às vítimas; 686 criminosos foram presos.

A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) também foi procurada para comentar os pontos mais perigosos para usar o celular, e informou que o posicionamento sobre esse assunto é de responsabilidade da SSP.

Ao analisar o mapa da cidade, é possível ver que o registro de roubos ou furtos de aparelhos celulares é mais acentuado no eixo do centro histórico, na rua Augusta e na avenida Paulista, o que forma uma espécie de corredor da insegurança pública.

A Augusta, inclusive, é uma das vias que acumularam mais quadras consecutivas com altos índices de casos no ano passado. Ao menos seis foram enquadradas no patamar mais alto, com mais de mil ocorrências. Os piores pontos ficam na altura do parque Augusta, próximo da rua da Consolação.

Na mesma via, em direção ao centro, os índices baixam por alguns metros e voltar a atingir nível semelhante na intersecção com a avenida Ipiranga, e segue até o entorno da Rio Branco, onde o mapa volta a mostrar pontos escuros.

Este pedaço específico da cidade se tornou problemático do ponto de vista da segurança pública ao longo do ano passado após a dispersão dos usuários de drogas que frequentam a chamada cracolândia, cena aberta de uso de drogas na região central.

As ruas ocupadas pelos dependentes químicos recentemente, porém, não figuram entre as mais escuras do mapa, já que registraram média de até 200 ocorrências de roubos de celulares em 2023.

Mas, é ali perto, na rua Guaianases, que funciona o chamado QG dos celulares roubados. São pequenos comércios e apartamentos alugados localizados em apenas um quarteirão que abrigam a quadrilha de roubo de celular que movimentou até R$ 10 milhões nos últimos quatro anos, segundo investigações da Polícia Civil.

De acordo com as investigações, ao menos quatro estabelecimentos no mesmo quarteirão, entre as ruas Aurora e Timbiras, são usados pelos criminosos para armazenar celulares roubados e despistar os policiais. Vizinhos relatam que uma padaria, dois bares e uma bicicletaria abrem apenas durante a noite, quando os ladrões aparecem e se passam por frequentadores.

Assim como o Autódromo de Interlagos, que chegou a concentrar 795 comunicações de roubos de aparelho em um fim de semana do festival de música The Town, em setembro do ano passado, outros locais de eventos na cidade também são focos dos ladrões.

O estádio do Morumbi, na zona sul, da cidade, também é retratado como uma mancha escura no mapa devido à alta incidência de casos. No ano passado, o endereço constou em cerca de 900 ocorrências.