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O Rio Negro, no estado do Amazonas, vem enfrentando uma seca histórica que tem preocupado especialistas. De acordo com o geógrafo Marcos Freitas, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o fenômeno do El Niño por si só não é suficiente para explicar a situação atual. Para ele, o aquecimento global também está contribuindo para a estiagem na região.

Segundo Freitas, as chuvas que abastecem a região do Rio Negro são formadas principalmente pelos deslocamentos de massas de ar provenientes do Oceano Atlântico, e não do Oceano Pacífico, onde ocorre o fenômeno do El Niño. Portanto, o El Niño sozinho não seria capaz de explicar a situação atual de seca histórica.

Em 2010, quando o Rio Negro enfrentou outra seca severa, o pesquisador coordenou um estudo para avaliar a situação.

Quando estudei a seca de 2010, mapeei o aquecimento do Oceano Atlântico, do Oceano Pacífico e também me debrucei sobre as mudanças no uso do solo com o desmatamento. Naquele ano, as águas do Atlântico tiveram aumento médio de temperatura mais acentuado. Mas o máximo que havia de desvio de temperatura era de 1 a 1,5 grau. Talvez com algum repique a 2 graus. Nesse ano, temos um repique no Oceano Atlântico de 4 graus, no hemisfério norte. Já o El Niño tem provocado um repique de 2 graus no Oceano Pacífico, e ainda não é o auge, que será mais próximo de dezembro. O que a gente observa é que o clima, na região do Rio Negro, sofre forte influência das massas de ar que vêm do Oceano Atlântico. Então, é possível correlacionar sim essa seca com as mudanças climáticas. Estamos notando um repique muito forte no Oceano Atlântico”, explicou.

O Porto de Manaus anunciou recentemente que o Rio Negro atingiu um novo nível mínimo histórico, ficando abaixo de 13 metros pela primeira vez desde o início das medições em 1902. Imagens mostram partes do rio que costumavam estar cobertas pelo leito agora tomadas por bancos de areia. Essa situação tem deixado diversas comunidades vulneráveis e gerado um impacto significativo no estado.

De acordo com um boletim do governo estadual, divulgado no domingo (22), 59 dos 62 municípios amazonenses estão em situação de emergência devido à estiagem prolongada. Cerca de 158 mil famílias foram afetadas pelo cenário de seca e falta de água. A situação é preocupante e demanda ações para minimizar os impactos nas comunidades locais.

O El Niño é um fenômeno caracterizado pelo enfraquecimento dos ventos alísios e pelo aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico. Essas mudanças na atmosfera e na interação entre a superfície oceânica têm consequências no tempo e no clima em diferentes partes do planeta. Durante o El Niño, a dinâmica das massas de ar no Oceano Pacífico adota novos padrões de transporte de umidade, afetando diretamente a temperatura e a distribuição das chuvas.

A seca histórica que atinge o Rio Negro é uma situação preocupante e complexa, que não pode ser explicada apenas pelo fenômeno do El Niño. O aquecimento global também está contribuindo para a falta de chuvas na região, afetando a vazão dos rios e deixando comunidades vulneráveis. É necessário que medidas sejam tomadas para enfrentar os desafios impostos por essa seca, garantindo o abastecimento de água e o bem-estar das populações locais.

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