O movimento de migração de trabalhadores do modelo presencial para o remoto, no auge da pandemia no ano passado, foi marcado por uma expressiva disparidade que evidencia a desigualdade do mercado de trabalho brasileiro. É o que apontam os dados da Síntese dos Indicadores Sociais, divulgada nesta sexta-feira (3) pelo IBGE.
Enquanto o trabalho remoto foi realizado por 13,5% das pessoas brancas empregadas – na média, entre maio e novembro do ano passado -, entre as pessoas pretas ou pardas empregadas esse percentual fica em 6,4% no mesmo período.
O levantamento foi feito com base nos dados da Pnad Covid-19, considerando período entre maio e novembro do ano passado.
Na comparação por nível de instrução, a maior proporção de pessoas ocupadas que realizaram trabalho remoto foi observada entre pessoas com ensino superior completo.
“Essa proporção é seis vezes superior ao nível médio completo e superior incompleto”, destaca o gerente de pesquisa do IBGE, João Hallak Neto.
Negros são maioria nas profissões de menor remuneração
Ao passo em que a população negra ocupada em 2020 pôde realizar em menor proporção o trabalho remoto, é também este grupo que ocupa a maior parte dos cargos que exigem menor instrução escolar e salários mais baixos.
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Pretos e pardos são maioria na agropecuária (60,7%), construção (64,1%) e serviços domésticos (65,3%), ainda que a população ocupada preta ou parda seja superior em 17% à branca.
“São nessas três atividades [agropecuária, construção e serviços domésticos] em que há predominância de informalidade. Isso mostra um retrato estrutural. Esse quadro se reproduz nos anos anteriores é um retrato da desigualdade da população ocupada por cor ou raça”, avalia Neto.
São também essas categorias de emprego que possuem boa parte das atividades baseadas no modelo presencial e que não conseguem migrar de forma ampla e irrestrita para o modelo de trabalho remoto, o que tornou a população negra mais vulnerável em meio à pandemia do coronavírus.
Segundo a Síntese dos Indicadores Sociais, do IBGE, brancos ganhavam, em 2020, 69,5% mais, em média, que negros, com o mesmo número de horas trabalhadas.